[Akitando] #27 - Talento: Matando Semi-Deuses (Parte 2)

2018 November 15, 17:00 h

Disclaimer: esta série de posts são transcripts diretos dos scripts usados em cada video do canal Akitando. O texto tem erros de português mas é porque estou apenas publicando exatamente como foi usado pra gravar o video, perdoem os errinhos.

Descrição no YouTube

No episódio anterior vocês entenderam o que aconteceria se Einstein ou Darwin não tivessem existido.

Mas se ainda resta dúvidas, hoje vamos desconstruir Mozart e na sequência, através das pesquisas condensadas por Geoff Colvin, definir o que de fato diferencia uma má prática de uma boa prática se o objetivo é um dia alcançar níveis de Mozart.

Esta segunda parte conclui a primeira etapa do que eu chamo de "Aprendendo a Aprender", a parte teórica, pra ficar mais fácil entender o que eu quero contar nos próximos episódios dessa série.

Já aviso que a segunda metade deste episódio pode soar muito agressivo, mas é necessário pra que eu delimite preto-no-branco antes de partir pras nuances de cada parte em vídeos posteriores, então não leve tudo ao pé-da-letra, entenda que circunstâncias eu estou endereçando hoje: como se atinge o status de semi-deus?

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Script

Olá pessoal, Fabio Akita

Eu espero que no episódio anterior eu tenha conseguido fazer você pensarem um pouco mais sobre o que vocês acham que sabem.

Nesse ponto vocês já devem ter entendido que eu sou naturalmente um cético. Eu não gosto de mágica. Eu não gosto de ideais inalcançáveis. Meu hobby é destruir utopias e trazer semi-deuses de volta ao nosso nível. Por isso eu não defendo nenhuma ideologia. Como disse nos episódios de programação, eu sou promíscuo com linguagens e ferramentas de programação, o mesmo vale pra qualquer outra coisa: nada está acima de questionamento, e toda idéia que se torna obsoleta merece ser jogada fora e substituída.

Esse é o núcleo de Aprendendo a Aprender. Ë isso que o famoso meme do Bruce Lee quer dizer sobre esvaziar seu copo, como você quer aprender alguma coisa se seu copo já está cheio de preconceitos? Jogue tudo fora, não acredite firmemente em nada, questione tudo. É mais fácil dizer do que fazer. Número 1? Pare de ser defensivo, se permita destruir você mesmo. Se permita aceitar suas fraquezas, físicas ou mentais. Se você não acha que tem fraquezas e não sabe quais são, como quer melhorar? Como você vai melhorar se você já acha que sabe tudo? Então vamos continuar quebrando mais alguns preconceitos.

Einstein era talentoso? Eu acho que sim, mas não do jeito que muitos pensam. Talento não é uma coisa que você nasce com. Não há nada no nosso DNA que define um gênio ou um talento.

Claro, sempre vai existir o fator serendípede e sorte. Estar no lugar certo, na hora certa e ter relacionamento com as pessoas certas, pode fazer toda a diferença. Mas isso Não é genialidade e nem talento e muito menos algo definido no seu DNA.

Esse conceito de “algo magicamente especial” ainda é resquício do racismo nazista de um Josef Mengeles, de que existe uma raça superior, ou gênero superior, ou mesmo um indivíduo superior. No geral, eu acho que não. Pra mim é tudo igual, o que existe é quem sabe usar suas capacidade melhor do que os outros que tem a mesma capacidade e desperdiçam.

No outro lado do espectro existem aqueles que já acreditam em outro meme, o meme das 10 mil horas de prática, conceito que se tornou famoso pela primeira vez por causa do livro Outliers, de Malcolm Gladwell.

De Bill Gates a Oppenheimer, aos Beatles, o livro tenta descrever como o esforço continuado e focado - 10 mil horas (aproximadamente 5 anos em tempo integral) dessas pessoas ajudam a explicar muito do sucesso deles.

Hoje eu vou explorar esse conceito e dizer como isso funciona em detalhes que o livro de Gladwell não explica.

(...)

Geoff Colvin, em seu excelente livro Talent é Supervalorizado: o que realmente separa os empreendedores de classe mundial de todo mundo, tenta ir além de Gladwell e seus Outliers e explica porque só simplesmente treinar 10 mil horas não é suficiente. Hoje vou citar alguns trechos do seu livro que explicam meu ponto de vista. Vamos lá.

Pesquisas em muitas áreas mostram que muitas pessoas não só falham em se tornar extremamente bons no que fazem, não importa quantos anos gastam fazendo isso, mas frequentemente nem ficam muito melhores do quando começaram. Não há muita correlação entre anos na área e excelência em qualidade, muitos seniors não são muito melhores no geral do que trainees que acabaram de ser treinados. E pior, em alguns casos, profissionais com mais anos e mais experiência podem começar a mostrar resultados piores do que iniciantes.

A história de “nascer com talento” parece explicar a raridade, e ajuda a nos conformar com nossa própria performance. Ou você tem talento ou não tem. Por isso não pensamos muito nisso, porque é um problema já resolvido.

Não existe talento natural. Se existe uma explicação pra performance excepcional é uma coisa que os pesquisadores chamam de “prática deliberada”, essa é a chave. A maioria das organizações é terrível em aplicar princípios de performance excepcional. Muitas empresas parecem arranjadas quase perfeitamente para prevenir as pessoas de tomar vantagem desses princípios.

A maior dificuldade de prática deliberada é mental, não física, mesmo em esportes.

Falando em esportes, considere os recordes olímpicos de 100 anos atrás - que representavam o pico da performance da humanidade do planeta - hoje em dia esses recordes é o normal que colegiais normais conseguem atingir. O ganhador da corrida de 200 metros masculino nas olimpíadas de 1908 fez um tempo de 22.6 segundos, hoje em dia o recorde de colegiais é mais rápido em mais de 2 segundos, uma margem enorme. O tempo dos melhores colegiais na maratona bate os medalhistas de ouro de 1908. E se você estiver pensando que é porque as crianças hoje nascem com físico melhor, não é isso.

Em mergulho por exemplo, a cambalhota dupla foi quase proibida até as olimpíadas de 1924 porque era considerado muito perigoso. Hoje em dia, chega a ser entediante.

Isso importa por causa do seguinte: atletas de hoje são superiores não porque eles são de alguma forma fisicamente diferentes, mas porque eles treinam de maneiras mais eficientes. Esse é o conceito mais importante.

Padrões em disciplinas intelectuais estão crescendo pelo menos tão rápido quanto esporte. Roger Bacon, o grande acadêmico inglês e professor no século 13 escreveu que uma pessoa precisaria de 30 a 40 anos para se tornar mestre em matemática da forma como ele entendia. Hoje a matemática que ele estava falando - lembrando que nessa época o cálculo nem tinha sido inventado - é ensinado rotineiramente a milhões de estudantes colegiais. Ninguém pensa nisso, mas considere o que isso significa.

O conteúdo intelectual é o mesmo, o cérebro das pessoas não é diferente, 700 anos não é nem de longe tempo suficiente para um upgrade de poder cerebral humano. Em vez disso, assim como nos esportes, o padrão do que fazemos é que simplesmente cresceu tremendamente.

Quando Tchaikovsky terminou de escrever seu famoso Violin Concerto em 1878, ele pediu ao famoso violinista Leopold Auer para fazer a performance de estréia. Auer estudou e recusou - ele achou que o trabalho era impossível de tocar. Hoje qualquer jovem violinista graduando em Julliard consegue tocar. A música é a mesma, os violinos são os mesmos, e os humanos não mudaram. Mas as pessoas aprenderam a tocar melhor.

Mozart é o maior exemplo da tal faísca divina de grandeza. Compondo música aos 5 anos de idade, performando publicamente como pianista e violinista aos 8 anos, produzindo centenas de trabalhos, alguns dos quais considerados como alguns dos grandes tesouros da cultura Ocidental, tudo no curto período de tempo até sua morte aos 35 anos. Se isso não é talento, de escalas monumentais, então nada mais é.

Vale a pena examinar os fatos um pouco mais de perto. O pai de Mozart foi Leopold Mozart, um famoso compositor e artista. Ele também foi um pai dominador que fez seu filho começar um programa intensivo de treinamento em composição e performance aos 3 anos de idade.

Leopold era muito bem qualificado para esse papel de professor do pequeno Wolfgang não só por sua própria eminência, ele estava profundamente interessado em como música era ensinado para crianças. Ao passo que Leopold era um músico mais ou menos, ele era muito excelente como pedagogo. Seu livro autoritativo em instrução de violino, publicado no mesmo ano que Wolfgang nasceu, se manteve importante por décadas.

Então, desde muito cedo Wolfgang recebeu instruções pesadas de um professor expert que viveu com ele. Claro que suas composições desde cedo ainda parecem impressionantes, mas eles levantam algum questionamento.

É interessante notar que os manuscritos não estão na caligrafia da criança; Leopold sempre "corrigiu" eles antes de qualquer um ver. É interessante também notar que Leopold parou de compor ao mesmo tempo que começou a ensinar Wolfgang.

Em alguns casos é claro que as composições do jovem garoto não eram originais. Os primeiros 4 concertos de piano de Wolfgang, compostos quando ele tinha 11 anos, na realidade não tem música original dele. Ele juntou composições de outras pessoas. Ele escreveu seus próximos 3 trabalhos desse tipo, hoje não classificados como concertos de piano, aos 16 anos. E esses também não contém música original, mas ao invés disso arranjos dos trabalhos de Johann Christian Bach, com quem Wolfgang estudou em Londres. As sinfonias mais precoces de Mozart, trabalhos curtos que escreveu quando tinha 8 anos, tem estilo próximo do de Bach, com quem estava estudando nessa mesma época.

Nenhum desses trabalhos é considerado grande música ou perto disso hoje. Eles são raramente tocados. Só são interessantes por causa da fama posterior de Mozart. Eles parecem o trabalho de alguém sendo treinado como compositor pelos métodos usuais - copiar, arranjar, e imitar o trabalho dos outros - com os produtos resultantes trazidos à atenção do mundo e talvez um pouco polido por um pai que gastou muito da sua vida promovendo seu filho.

O primeiro trabalho de Mozart considerado hoje como uma obra de arte, com seu status confirmado pelo número de gravações disponíveis, é seu Piano Concerto No. 9 composto quando ele tinha 21 anos. Essa é certamente uma idade jovem, mas devemos lembrar que nesse ponto Wolfgang passou 18 anos de treinamento pesado, treinamento de expert.

Isso vale pausa pra consideração. Qualquer faísca divina que Mozart possa ter possuído não o permitiu de criar trabalho de nível mundial mais rápido ou mais fácil, que é algo que nós frequentemente assumimos que faíscas divinas deveria proporcionar.

Os métodos de composição de Mozart não eram a maravilha que nós pensamos que fosse. Por quase 200 anos muitas pessoas acreditaram na habilidade miraculosa de compor peças inteiras na cabeça, e depois só escrever facilmente no papel. Essa visão vem de uma famosa carta onde ele diz exatamente isso: "o todo, mesmo sendo longo, está quase terminado e completo na minha mente ... colocar no papel é feito rapidamente ... e raramente o papel difere do que estava na minha imaginação"

Esse relato certamente faz parecer um super humano. O problema é que essa carta é uma fraude, como muitos já estabeleceram. Mozart não concebia trabalhos inteiros em sua mente, perfeito e completo. Manuscritos que sobreviveram mostram que Mozart constantemente revisava, retrabalhava, riscando e reescrevendo seções inteiras. Embora isso não torne o resultado menos magnífico, ele escreveu música da mesma forma que humanos ordinários escrevem.

Pesquisadores construíram o índice de precocidade para pianistas. Eles descobriram o número de anos de estudo necessário para um pianista sob programas de treinamento moderno antes de performar publicamente vários trabalhos, e então compararam isso com o número de anos necessários para vários prodígios pela história. Se o estudante médio precisa de 6 anos de preparação e considerando que um prodígio fez isso depois de 3 anos, ele teria pontuação de 200%. O índice de Mozart é cerca de 130%, claramente acima da média. Mas prodígios do século XX pontuam 300% a 500%. Outro exemplo de padrões que cresceram. O efeito do treinamento melhorado de hoje superaram o gênio de Mozart.

Ufa! E UAU significa que Mozart é uma fraude então? Não, não, ele simplesmente não é um semi-deus também. Mas o resultado do seu trabalho é sólido, ele realmente foi um dos grandes músicos que já existiu, mas tudo isso foi resultado de longos anos de muito trabalho. 10 mil horas? Eu diria que foi muito mais, 20 mil, 50 mil ou mais.

Aprendendo a Aprender até aqui funciona assim: primeiro, aceite que não existem semi-deuses. Eu sempre disse que é importante ter objetivos inalcançaveis pra você nunca achar que chegou ao fim. Mas se você estabelece um teto infinito logo no começo, não há nem porque começar. Você nunca vai ser um deus, desista. Mas outros humanos? Sim, aí já dá pra começar.

Quem não pensa muito no assunto acha que é uma questão de praticar, e praticar, e praticar. 10 mil horas. Está errado. É muito mais que isso.

Pra começar, praticar é hobby. É jogar futebol com os amigos antes da cerveja na sexta a noite. Você nunca vai ser um Neymar. E ninguém pensa em se tornar um Neymar, claro, mas pense que treinar algumas horas por semana não basta. Se você encara sua carreira da mesma forma, você está praticando errado.

Já Prática deliberada não é a prática que você imagina. Ela é especificamente desenhada para aumentar performance.

Pelo menos no começo é quase sempre necessário que um professor desenhe as atividades mais adequadas para melhorar a performance do indivíduo. Eu disse isso no meu vídeo sobre The Mythical Man Month. Seu professor pode ser uma pessoa, pode ser o trabalho de outras pessoas. Eu sempre encarei todas as pessoas do passado como excelentes professores. Eles vão economizar anos da sua vida porque, agora é sua vez de evoluir em cima do que eles tinham.

Prática deliberada requer que se identifique certos elementos definidos de performance que precisam ser melhorados, e então trabalhar com real intenção nisso.

Noel Tichy, um professor na escola de business da Universidade de Michigan e ex-chefe do centro de desenvolvimento de gerenciamento da famosa Crotonville da General Electric ilustra o ponto desenhando 3 círculos concêntricos. Ele nomeia o círculo interno de "zona de conforto", o do meio de "zona de aprendizado" e a mais externa de "zona de pânico". Somente escolhendo atividades na zona de aprendizado é que se faz progresso. Nós nunca vamos conseguir avançar na zona de conforto, porque é a zona onde fazemos atividades que já sabemos fazer. E zonas do pânico são tão difíceis que não sabemos como chegar perto. Identificar a zona de aprendizagem, que não é simples, e então se forçar a continuamente se manter nela, o que é ainda mais difícil, essas são as características primárias e mais importantes de prática deliberada.

Alta repetição é a diferença mais importante entre prática deliberada de uma tarefa e performar a tarefa na realidade, só quando conta. Você não vai evoluir só no horário do seu trabalho. Seu trabalho é sua zona de conforto, com raras ocasiões onde você vai fazer alguma coisa que desafia o que você já sabe. Mas é muito lento, muito demorado e altamente ineficiente desse jeito. Nenhum emprego, em nenhum lugar, vai ser suficiente. Se você leva treinamento a sério, vai precisar de muito mais treino.

Generalizando, a prática deliberada mais efetiva são aquelas que podem ser repetidas em alto volume.

Prática deliberada é sobretudo um esforço de foco e concentração. É isso que o torna "deliberado". Continuamente procurando exatamente os elementos de performance que são não satisfatórios e então forçando na melhoria especificamente desses elementos. Digamos, em programação, muita gente acha difícil escrever bons testes. Porque não pratica? Escreva centenas de testes. Não só pros projetos do seu trabalho, que como eu já disse, é insuficiente. Escreva, escreva, escreva. Vai sair um monte de porcaria no começo. E pra evoluir você precisa fazer o que Mozart fazia: copiar, testar, avaliar, corrigir e recomeçar, e recomeçar, e recomeçar, centenas de horas.

Ao que parece, 4 a 5 horas por dia parece ser o limite máximo de prática deliberada, e é frequentemente concluído em sessões de não mais que 1 hora a 90 minutos de cada vez. Mesmo atletas de elite dizem que o fator que limita seu tempo de prática é a habilidade em sustentar concentração. E concentração só acontece quando você está sozinho, sem ninguém te atrapalhando. Prática deliberada é essencialmente uma atividade solitária, nunca de grupo. É quando você está 100% desligado do mundo. Portanto, se você está mais focado na sua timeline do twitter ou responder o whatsapp, você não está praticando.

Fazer coisas que sabemos como fazer é agradável, e isso é exatamente o oposto de prática deliberada. Em vez de fazer o que somos bons em fazer, nós insistentemente perseguimos o que não somos bons em fazer. Então nós identificamos as atividades mais dolorosas e difíceis que nos farão melhores e fazemos isso repetidamente. A cada repetição nos forçamos a ver - ou fazemos outros verem - exatamente o que ainda não está certo para podermos repetir as partes mais dolorosas e difíceis do que acabamos de fazer. E continuamos nesse processo até estarmos mentalmente exaustos. Se não está doendo, você não está treinando. No pain, no gain.

Parece um pouco depressivo que a coisa mais importante que podemos fazer para melhorar nossa performance não é divertido, mas console-se com este fato: TEM que ser exatamente assim. Se as atividades que levam à grandeza fossem fáceis e divertidas, então qualquer um faria. Isso é até uma boa notícia, significa que a maioria das pessoas não vai fazer isso.

Os melhores fixam objetivos que não são sobre o resultado mas sobre o processo de chegar no resultado.

A capacidade de auto-regulação mais importante que os melhores usam durante seu trabalho é auto-observação. Por exemplo, corredores de endurances em uma corrida tendem a pensar em qualquer outra coisa menos no que estão fazendo, por isso hobistas como eu e muitos outros colocam um fone de ouvido e tentam se distrair ouvindo música. É doloroso fazer uma maratona de quilômetros e conscientemente não querer se distrair. Nós preferimos tirar nossas mentes disso. Corredores de elite, por outro lado, focam intensamente neles mesmos, dentre outras coisas, eles contam suas respirações e simultaneamente contam seus passos de forma a manter certas taxas. Sério, isso dói em mim só de pensar. Por isso os melhores são melhores, porque eles dominam a dor. E não dor física, mas dor mental.

Pesquisadores chamam isso de meta-cognição - o conhecimento sobre o seu conhecimento, pensar sobre seu pensamento. Os melhores fazem isso sistematicamente, é uma parte estabelecida da sua rotina. Pense em você saindo de você e se monitorando enquanto faz a atividade.

Agora, o ponto final por hoje: A maioria se contenta com "ah, você fez bem"

Atividades de prática são inúteis sem feedbacks úteis. Mas não qualquer feedback. De forma similar, as oportunidades de prática que encontramos no trabalho não servem pra nada se não avaliarmos depois. E devem ser auto-avaliações, porque a atividade de prática aconteceu nas nossas mentes, somente nós podemos saber completamente o que queríamos fazer ou julgar como realmente ficou. Mas isso só funciona se você é altamente consciente dos seus objetivos. Se você nem sabe porque está fazendo o que está fazendo, como vai se auto-avaliar?

Os excelentes se julgam de forma diferente das outras pessoas. Eles são mais específicos, assim como quando definem objetivos e estratégias. Os medianos se contentam em se dizer que foram bem ou mal e só. Os melhores se julgam contra padrões relevantes pro que querem atingir. Algumas vezes comparam suas performances com seus melhores resultados até então; algumas vezes se comparam com competidores que estão encarando ou pretendem encarar; algumas vezes se comparam com o melhor resultado conhecido na área. Qualquer um deles pode fazer sentido; a chave, em toda prática deliberada, é escolher uma comparação que colabore para estender além dos seus limites.

Uma parte importante da auto-avaliação é decidir o que causou os erros. Os medianos acreditam que seus erros foram causados por fatores externos ao seu controle. Meu oponente teve sorte; a tarefa era difícil demais; eu não tenho mesmo habilidade natural pra isso. Os melhores, ao contrário, acreditam que eles foram os responsáveis por seus erros. Sempre. Qualquer um que passa muito tempo culpando os outros, os colegas, os chefes, os políticos, a sociedade, nunca vai sair da mediocridade.

Eu nunca peço e nunca pedi feedback pros outros, sempre achei meio irrelevante. Eu sempre soube o que eu queria fazer em cada momento. Você sabe porque você faz o que você faz? Porque se você não sabe, jamais vai conseguir se auto-avaliar, e nesse caso, qualquer feedback de fora é inútil pra você. Por outro lado, se você tem sabe porque você faz o que você faz, então você já sabe o que fez de errado e, de novo, um feedback externo é inútil pra você na maior parte do tempo.

Claro, feedback externo, sempre pode colaborar um pouquinho para você ver algo que não estava vendo. Mas ele não é nem de longe o mais importante. Aqui eu fecho com o que eu comecei: você precisa aprender a esvaziar seu copo. Tá entendendo o que isso significa? Se você acha que está fazendo tudo certo, como vai melhorar? Eu por outro lado, às vezes vou a extremos, eu sempre acho que estou fazendo tudo errado. É altamente tenso ser auto-crítico. Eu não dou o mínimo valor quando alguém me diz que eu fiz algo bem. Entendem? O que os outros entendem dos objetivos que eu quero alcançar? É mais irritante ainda quando eu digo que não fiz tão bem quanto queria e alguém chega - com boas intenções - e me diz que ficou bom. Não ficou. Eu sei que não tá bom. E se eu sei disso, porque eu me contentaria com alguém me dizendo que eu fiz bem?

Isso é se auto-enganar e é o extremo oposto de prática deliberada. Como eu disse, prática deliberada é brutal, é doloroso, porque você não pode ficar se enganando achando que “está suficiente”. Nunca é suficiente. No pain, no gain. Eu não sou grande coisa, e eu vivo com esse conceito em mente. Validação de terceiros é a maneira mais fácil de sabotar seu talento. Falta de auto-avaliação é o que faz você começar academia na segunda e desistir na sexta. “Já fiz o suficiente, já disseram que fiz o suficiente, tá bom”.

E qual seu objetivo? Ganhar mais dinheiro? Só isso? Tem formas muito mais fáceis se o objetivo for só esse, isso é muito pouco.

Lembram do Einstein? A teoria da relatividade é ensinado no 1o ano de faculdade, qualquer estudante minimamente competente consegue entender. Não querendo menosprezar, mas Einstein já foi superado, Mozart já foi superado, Jobs e Gates estão sendo superados na atualidade. A história não é estática e todo mundo está olhando pro futuro.

Tem gente que fala que eu sou grande coisa, eu Não sou, e não estou sendo falso humilde. Eu ficaria muito chateado se alguém achar que não dá pra me superar, eu sou facilmente superável, é um objetivo muito baixo pra esta nova geração. No século XXI eu sou nível 1, me supere, na metade do tempo que eu levei. Eu desafio todos vocês a colocar o que eu disse esta semana em prática. Não tenha ídolos, tenha referências, tenha objetivos a serem superados e logo que conseguirem, persigam outro pra superar.

Ufa, Esta semana foi bem intensa, mas como eu disse, no pain, no gain, e vocês já chegaram ao fim de suas carreiras? Estão começando suas carreiras? Qual a sua história de treinamento deliberado? Compartilhem com a gente nos comentários abaixo, se curtiram mande um joinha, assinem o canal e cliquem no sininho. A gente se vê, até mais.

tags: geoff colvin noel tichy mozart deliberate practice akitando

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