Viagem à Europa (Parte 3) - Tel Aviv, Israel

2012 November 21, 01:57 h

Como disse no final do meu relato sobre Berlim, a Israel começaria bem antes, no aeroporto de Schönefeld quando estava indo fazer o check-in. Acontece que eles tem diversos agentes antes do check-in que escolhem algumas pessoas para entrevistar, extensivamente. Infelizmente eu fui um dos escolhidos. E não estamos falando de perguntas padrão do tipo "Alguém além de você mexeu na sua mala?". A agente quis saber porque eu estava em Berlim, porque eu vim de Amsterdã, quem eram as pessoas com quem falei, informações do hotel, tive que abrir meu notebook para mostrar meus emails, tweets, ela abriu o notebook dela pra checar se meu blog, o site da minha empresa realmente existiam. Acho que levou quase 1 hora nessa entrevista.

Chegando em Ben Gurion

PS: eu estava em dúvida sobre considerar Israel na "Europa", mas parece que ele é Ásia, mas considerado Europa para fins de esportes por exemplo :-)

Depois disso você faz o check-in e passa pela inspeção padrão que todos já conhecem. Mas na área de embarque, antes de entrar no avião da El Al Israel Airlines, você passa por uma segunda inspeção das malas e detectores de metais manualmente por todo o corpo. Não tem como passar um alfinete sem eles verem! Considerando a situação em Gaza ultimamente não dá para culpar o excesso de cuidado.

Ben Gurion

Mas os obstáculos não acabam aqui. Dizem que o aeroporto Ben Gurion é considerado o mais seguro do mundo. Chegando lá dá para entender porque. Logo na imigração eu já fui novamente separado e tive que esperar uma meia hora uma sala. Acho que eles fazem algum tipo de checagem de antecedentes e tudo mais. Mas depois desse último obstáculo finalmente consegui entrar em Israel. A primeira impressão, apesar de tudo, é o de estar num lugar bem mais civilizado do que se poderia esperar. O aeroporto tem instalações de primeiro mundo.

Espera por vistoria

Entrada do aeroporto

Lembram-se do meu martírio para conseguir um SIM card no aeroporto Tegel na Alemanha? Aqui foi absolutamente trivial. Havia uma loja de aluguel de cartões SIM Card. Todos os atendentes falavam inglês perfeitamente bem, foram bem atenciosos, me deram várias opções para minha estadia. Em poucos minutos já estava de volta à Internet. Todos os serviços de aeroporto deveriam ser como esse.

Antes de embarcar, eu havia twitado que estava indo para Tel Aviv e alguns israelenses foram muito gentis em me responder. O primeiro que já me ajudou logo no aeroporto, via Twitter, foi Omer Rauchwerger. O primeiro choque é ver tudo escrito em hebreu ou árabe. Diferente de holandês ou alemão onde você pode pelo menos tentar identificar algumas palavras ou sílabas, aqui não dá para entender absolutamente nada. Deve ser a sensação de ser completamente analfabeto. Felizmente Tel Aviv é amigável a turistas então existem diversas traduções de placas e sinalizações nos principais locais.

No próprio aeroporto você identifica a existência de um trem que pode te levar de um lado para Jerusalém e de outro para Tel Aviv. Você compra tickets em máquinas automáticas que felizmente tinham opção para inglês. Nesse caso basta comprar o ticket de ida para Tel Aviv. Pegando o trem você espera umas 3 estações (aproximadamente meia hora de viagem) e desce em Tel Aviv Merkaz (Centro), também conhecido como Savidor. Da estação eu estava a menos de 2km do Vital Hotel.

Vital Hotel

Uma dica importante: assim como aqui nos aeroportos de São Paulo, nunca pegue táxi de taxistas que te abordam na saída. Procure a fila oficial (fácil de identificar, sempre tem um funcionário coordenando uma fila). E dentro de qualquer táxi sempre peça para ligar o medidor, caso contrário eles vão querer te enrolar para fechar um preço que vai acabar sendo o dobro do normal. Aliás, fique esperto no geral, todo comerciante de rua vai querer passar a perna em turista, por padrão.

Voltando ao hotel, devo dizer que foi uma excelente escolha. Ela fica conectada ao Weizmann Shopping Center com acesso a partir da recepção do hotel. O atendente que me recepcionou foi provavelmente o mais simpático e prestativo de todos os tempos. Conversando com ele foi que decidi como ocuparia meu dia seguinte: fazendo um tour com guia por Jerusalém. Ele se encarregou de acertar tudo para mim.

O hotel é muito bem equipado, moderno, limpo e de todas as cidades que passei até agora foi a que ofereceu o melhor serviço de internet. O único que dava para fazer ligações por Skype decentemente. Já era noite e o Omer também me recomendou um bom restaurante para jantar, então como já estava equipado com internet resolvi sair para caminhar pela cidade e foi uma excelente escolha. Meu primeiro destino foi o restaurante Brasserie M&R com ótimas opções de culinária francesa. Nessa lista, por exemplo, ele está entre os 3 melhores restaurantes para ir em Israel. Uma excelente opção, um pouco cara para meus padrões mas ainda assim acessível.

Novamente as garçonetes do restaurante falavam excelente inglês e foram muito simpáticas e receptivas. Já percebi que tirando os comerciantes mais agressivos, a maioria das pessoas é sempre muito educada e receptiva a estrangeiros, fato que me deixou positivamente impressionado.

Caminhando por Tel Aviv

Caminhando por Tel Aviv

Depois da excelente refeição fui andando pela rua Frishman até a beira da praia. Aliás, diferente de Amsterdã e Berlim, finalmente um clima mais próximo ao que estou acostumado, na verdade um pouco mais quente do que eu gosto, mais próximo do clima do Rio de Janeiro. E não é para menos já que eu estava à beira do Mediterrâneo. As praias, mesmo a noite, oferecem uma excelente vista e é uma ótima opção para caminhar. E assim como nas outras cidades européias, a sensação de estar seguro novamente me deixou bem mal acostumado.

Caminhando pela praia

Caminhando pela praia

Meu hotel ficava no centro-leste da cidade, portanto andei em direção oeste para a praia e depois peguei uma paralela chamada Bograshov para retornar, passando pelo Dizengoff Center. Diferente das outras visitas, esta cidade tem diversos Shopping Centers, uma ótima opção se estiver procurando por ar condicionado nesta cidade mediterrânea. De lá subi até a Sderot e rapidamente já estava de volta à Weizmann. Uma ótima noite.

Dizengoff

Praça

A cidade de Tel-Aviv, novamente é uma cidade minúscula. Tem meros 52 km2, a área urbana tem 176 km2. Ela é a segunda cidade mais populosa de Israel e mesmo assim não tem mais que 406 mil pessoas. A cidade mais populosa é Jerusalém, com pouco mais de 800 mil pessoas e uma área de 125 km2. E não é para menos, o país inteiro ainda tem menos de 8 milhões de pessoas. Como perspectiva se lembrem de São Paulo que tem sozinha mais de 11 milhões de pessoas. Se tiver mais tempo do que eu, recomendo continuar a linha de trem que mencionei antes até a Universidade de Tel Aviv e também ir até Haifa, a terceira cidade mais populosa de Israel, com quase 270 mil pessoas.

Além do famoso Porto de Haifa esta cidade é berço de Pesquisa de Desenvolvimento para empresas como Intel, IBM, Microsoft, Motorola, Google, Yahoo!, e muitas outras de alta tecnologia. Na Universidade de Haifa fica o IBM Haifa Labs. Se Tel-Aviv é São Francisco então Haifa é Palo Alto. Infelizmente não tive tempo de visitar essa cidade, mas certamente está na minha lista para a próxima vez.

A cidade de Tel Aviv na verdade é Tel-Aviv Jaffa. Ela é uma cidade mais ou menos "vertical". Sua história iniciou no sul, com os árabes de Jaffa. Tel Aviv foi fundada pela comunidade judia de Jaffa e logo cresceu mais rápido. No final elas foram fundidas numa única cidade, Tel-Aviv Jaffa. Eu não cheguei a ir até Jaffa, infelizmente, mas dizem que se quiser experimentar um dos melhores humus que já comeu, precisa ir até o restaurante Abu-Hassan. Era um lugar que eu queria ter ido mas também não tive tempo. Fica de recomendação.

Turismo por Jerusalém

O tour que eu escolhi foi de grupo pequeno (business), é mais caro mas mesmo assim por USD 100 compensa. Você definitivamente não quer grupos de mais de 15 pessoas, e os pacotes mais baratos podem comportar 30 ou mais pessoas e aí é extremamente desconfortável. Obviamente em um único dia é impossível ver tudo que Jerusalém tem por isso escolhi o pacote para andar por dentro da cidade antiga, a Velha Jerusalém. O serviço de turismo vai te buscar direto no seu hotel o que é bastante cômodo para quem tem pouco tempo a perder.

Micro-ônibus

Micro-ônibus

Uma coisa que eu não tinha noção mas que vocês já devem ter percebido é como Israel é pequeno. Ir de micro-ônibus de Tel Aviv até Jerusalém é uma viagem que não dura mais que 40 minutos. Sem ter nenhum conhecimento eu imaginava que elas eram distantes (para mim distante é ir de São Paulo ao Rio) mas aqui a viagem é mais como ir de São Paulo a Sorocaba.

Indo a Jerusalém

Indo a Jerusalém

Indo a Jerusalém

Jerusalém, ao contrário do que eu poderia imaginar, também é uma cidade moderna. Tem hotéis muito bonitos, a arquitetura da cidade toda são casas e prédios com pedras claras que dá um tom "creme" à cidade. Ela é razoavelmente arborizada então é um cenário muito bonito. Já o que se chama de Velha Jerusalém é o que está atrás dos antigos muros e é conhecida também como Cidade de Davi. Se você imagina que visitar a Europa é ter um gosto do passado, na Velha Jerusalém estamos falando de outro tipo de passado: do tipo que tem uma história de mais de 3 mil anos. Acho que nenhum lugar parece mais fora do tempo do que essa cidade. O importante aqui não é a religião (e aqui você vai encontrar judeus, cristãos, islãs e muçulmanos), mas sim o "peso histórico" que esse lugar carrega, e História é uma coisa que eu respeito muito.

Arquitetura de Jerusalém

Arquitetura de Jerusalém

Arquitetura de Jerusalém

Arquitetura de Jerusalém

A primeira grande parada antes de entrar na Velha Jerusalém foi no Monte Scopus, não conheço a história mas parece que foi ponto estratégico durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948 e a Guerra de 6 dias de 1967.

Monte Scopus

Monte Scopus

Monte Scopus

Em seguida nos dirigimos para o famoso Monte da Oliveira onde dizem que o messias vai retornar primeiro no fim do mundo. Esse lugar é um enorme cemitério onde judeus vem sendo enterrados há 3 mil anos, tendo mais de 150 mil covas. Paga-se caro para ser enterrado nesse local, onde também se acredita que quando o messias chegar, essas são as pessoas que serão ressucitadas primeiro. Ou algo assim. Se quiser ver o Monte das Oliveiras ao vivo existe até um canal de TV com câmeras apontadas ao Monte das Oliveiras, para capturar o momento que o tal messias retornar. Tem doido pra tudo.

Monte das Oliveiras

Monte das Oliveiras

Monte das Oliveiras

Monte das Oliveiras

Finalmente, nos dirigimos até a Cidade de Davi e Solomão. Deixamos o micro-ônibus e daqui iríamos a pé. Ao entrar pela segurança da cidade (novamente, revista do que você carrega em bolsas e mochilas), o primeiro lugar que podemos ver é o famigerado Muro das Lamentações. Dizem que em igrejas e sinagogas você tem uma comunicação indireta com o todo poderoso, mas nesse muro é ligação direta, tipo fibra ótica de alta velocidade mesmo, sem intermediários. A área na frente do muro é dividido, uma área grande para homens e uma área menos para mulheres. Ironicamente a área das mulheres é mais cheia que a dos homens. Parece que os homens já não ligam muito para isso, mas as mulheres ainda levam os pedidos mais a sério. Se você já não é judeu e tem as vestimentas corretas, eles tem kits que você pode usar antes de entrar nessa área sagrada.

Muro das Lamentações

Muro das Lamentações

Muro das Lamentações

Eu pessoalmente fiquei só observando e me veio à cabeça o nome em inglês do Muro, chamado de Western Wall, Kotel ou Whaling Wall. Sendo que "whale", enquanto verbo é como "apanhar", "tomar uma sova", mas enquanto substantivo é uma baleia. E ainda quando Twitei que estava visitando o Muro das Lamentações meu caramada Gleicon ainda me respondeu "visitando o Twitter?". Pronto, minha Teoria da Conspiração é que a famosa tela da Baleira (Fail Whale) do Twitter é na verdade inspirado no "Whaling Wall". Verdade ou não, é uma história engraçada para se contar.

Whaling Wall

Depois disso o guia nos levou mais para dentro da cidade. Sinceramente não consigo lembrar de tudo que ele explicou, especialmente porque me faltam as bases históricas para conectar os pontos. Mas passamos por diversas vielas cheias de comerciantes. Lembram daqueles filmes que mostram cidades árabes ou do oriente médio cheio de comerciantes? É tipo isso mesmo. Aliás, por recomendação do guia, tome muito cuidado ao fazer compras nessa região, como disse antes esses comerciantes de rua obviamente sabem que você é um turista ingênuo e farão de tudo para te vender as coisas mais caro do que são. Se decidir comprar pechinche o quanto puder, lembre de estar sempre convertendo de cabeça de Shekels para Reais, mais ou menos divida o preço em Shekels por 2 e terá em Reais. Por exemplo, uma garrafa de água custando 10 Shekels (5 Reais) obviamente está muito caro.

Hora do Almoço

Hora do Almoço

Hora do Almoço

No meio da cidade paramos para almoçar, onde pude comer um excelente Shawarma. E também entramos numa joalheria (dizem que ela é certificada para poder vender ouro, no mercado de rua vão te vender bijuteria como ouro). Mas cuidado, os preços são bastante salgados, é para quem tem muito dinheiro mesmo. E a lábia dos vendedores é ligeira "é baratinho, leva esse crucifixo que é só USD 1.000 e eu te dou a cordinha de ouro por meros USD 100, pechincha." De jeito nenhum.

Comércio

Comércio

Finalmente chegamos à Via Dolorosa, onde dizem que Jesus deu seus últimos passos antes de ser crucificado. Essa rua possui nove das catorze estações da cruz, as cinco últimas na Basílica do Santo Sepúlcro, que foi nossa próxima parada. Se eu entendi o que a Wikipedia explica, conhecemos o termo "Via Crucis" que é o trajeto que Jesus fez. Via Sacra é o exercício da reprodução que os fiéis fazem desse trajeto. O trajeto em si foi feita na rua cujo nome é Via Dolorosa. Os passos desse trajeto são as Estações da Cruz, reproduzida em toda Igreja Católica. Vivendo e aprendendo.

Via Dolorosa

Via Dolorosa

Via Dolorosa

A Basílica do Santo Sepúlcro é o lugar mais sagrado do cristianismo, dizem que mais ainda do que a Igreja de São Pedro em Roma. Esse é o lugar onde Jesus foi crucificado, sepultado e onde ressucitou no Domingo de Páscoa. As áreas de interesse começam logo que se entra, à direita, com o Calvário ou Gólgota, uma elevação de 5 metros onde dizem que Jesus foi crucificado.

Santo Sepúlcro

Santo Sepúlcro

Calvário

Na entrada, logo à frente está a tal Pedra da Unção, a pedra onde dizem que o corpo de Jesus foi preparado para ser enterrado. Muita gente ficava bem emocionada tocando essa pedra, imagino que é porque imaginam que o corpo de Cristo efetivamente descansou sobre essa pedra antes de ser enterrado. É uma grande pedra.

Pedra

Pedra

Finalmente, andando mais à esquerda está a edícula do Santo Sepúlcro propriamente dito, onde tecnicamente o Jesus foi enterrado. Tinha uma fila enorme não entendi bem para que. A Basílica em si é enorme, tem mais do que eu descrevi, um andar subterrâneo. Em algum lugar por ali dizem que foi enterrado também José de Arimatéia, mas vou deixar isso para quem entende mais dos contos da Bíblia.

Edícula

Edícula

Subterrâneo

Saindo da Basílica fomos até o fim do percurso, no caminho passamos por um tal Muro de Solomão, mas não entendi bem sua história. A única coisa que sei é que ela está obviamente em pedaços e podemos caminhar sobre a linha por onde ela passava antes. Provavelmente tem a ver com essa notícia de 2010 sobre a descoberta desse muro. Existem dezenas de escavações por toda cidade.

Muro de Salomão

Muro de Salomão

Muro de Salomão

Saindo da Cidade

Saindo da Cidade

Saímos da Velha Cidade, voltamos ao micro-ônibus e de lá fomos à nossa última parada e, na minha opinião, a melhor parte do passeio, por uma enorme margem. Fomos visitar o Museu do Holocausto, Yad Vashem. Em primeiro lugar eu completamente ignorava que um lugar como esse existia. Ela é uma enorme área de 180 mil m2, destinada não só a ser um museu de exposição, mas um centro de documentação, pesquisa e educação sobre o Holocausto.

Yad Vashem

Yad Vashem

Yad Vashem

O guia nos avisou que tudo era proibido, comer, fumar, beber, etc, incluindo tirar fotos (de fato, notei funcionários à paisana fiscalizando quem estava tirando fotos). Antes de entrar eu imaginava que passaria rápido e seria somente mais um museu. Tínhamos somente uma hora. Eu pretendia obedecer a norma de não fotografar, mas depois de entrar no museu eu mudei completamente de idéia.

Yad Vashem

Yad Vashem

Yad Vashem

A arquitetura é muito interessante, ela é um zigue-zague que te guia de sala em sala mostrando todos os aspectos da história da Segunda Guerra Mundial da perspectiva dos judeus. Ela conta a história de como Hitler subiu à posição de ditador da Alemanha, como ele começou a invadir os países vizinhos. Principalmente como a ideologia do Nazismo considerava os judeus um problema e a apresentação da sua Solução Final, a criação dos guetos, a transferência para os campos de concentração e o genocídio de 6 milhões de judeus (dos 9 que existiam na Europa na época), sendo 1 milhão de crianças.

Yad Vashem

Yad Vashem

Yad Vashem

Ao final do museu existe a Sala dos Nomes, uma enorme sala em formato cilíndrico com um cone enorme no topo. Ficando abaixo desse cone é possível ver as fotografias de pelo menos 600 judeus mortos. E nas paredes do cilindro estão as Páginas das Testemunhas, uma coleção de mini-biografias dos 6 milhões de mortos que estão sendo coletados com o tempo.

Sala dos Nomes

Sala dos Nomes

Sala dos Nomes

A exposição em si é espetacular, ela te guia por cada episódio do acontecido, através da ordem das salas que você tem que percorrer e dos materiais em exposição que incluem não somente textos, fotos, objetos mas também centenas de horas de áudio e vídeo com testemunhos, documentários, notícias da época. Principalmente nas partes que se falam dos guetos e campos de concentração existem pequenas salas mais isoladas para te fazer assistir vídeos de testemunhos e entrar no clima sombrio e melancólico. O áudio vem de diversas direções, a forma como as coisas estão expostas, tudo contribui para criar uma experiência de imersão.

Lembram da Lista de Schindler? Pois é, está em exposição em Yad Vashem.

Lista de Schindler

Sinceramente, 1 hora é muito pouco tempo. Esse museu exige no mínimo um dia inteiro de dedicação apenas para começar a apreciar tudo que ele tem a oferecer. Mesmo depois que você sai do pavilhão principal, Yad Vashem é uma enorme área com diversos outros prédios e monumentos. Dentre eles estão o Yad Layeled, o memorial das crianças, e a Avenida dos Justos Entre as Nações, com mais de duas mil árvores plantadas em nome de pessoas não judias que se arriscaram para ajudá-las.

Saída do Museu

Memorial das Crianças

Memorial das Crianças

Memorial das Crianças

Memorial das Crianças

Infelizmente tivemos muito pouco tempo, se um dia retornar a Israel, reservarei um dia inteiro dedicado somente a visitar Yad Vashem novamente.

De Volta a Tel Aviv - Startups

O dia foi bem proveitoso, bastante inspirador de certa forma por passar por uma carga tão grande de história de uma só vez. Na volta para Tel Aviv, já no começo da noite, entrei em contato com outra pessoa que fiquei conhecendo apenas via Twitter recentemente, Ben Lang. Quando twitei que vinha para Israel, algumas pessoas no Twitter me falaram sobre o site Mapped in Israel, um completo diretório de Startups, aceleradoras, co-workings, investidores e tudo mais sobre esse mercado. Ela lista atualmente 790 startups em Israel (lembram como em Berlim, que tem metade da população do país de Israel tinha cerca de 330?). Se quiser pesquisar mais sobre o mercado de Israel este é um excelente lugar para começar. Um site menor, que serve para complementar esse é o RoR Israel que lista mais de 50 empresas que utilizam Ruby on Rails em Israel, criada por Boris Dinkevich.

Como o Ben estava com tempo justamente quando meu micro-ônibus estava começando a deixar o grupo em seus hotéis, pedi ao motorista para me deixar no meio do caminho e peguei um táxi até Carlebach 4. Ele estava num pequeno bar-restaurante, sentado numa mesa na rua com seu notebook - aliás, outra coisa impossível de se fazer aqui no Brasil. O Ben é jovem, acho que tem seus 18 anos agora, se mudou dos Estados Unidos com sua família e já é bem conhecido, tem mais de 11 mil seguidores no Facebook, já escreveu para sites conhecidos como Techcrunch e Business Insider. Ele foi muito simpático, me explicou mais sobre o mercado e como acabou de entrar para o exército de Israel por vontade própria, e devo dizer que ele sabe o que está fazendo - mais sobre isso no fim do artigo.

Estava acontecendo algum evento de Startups na região - e segundo ele acontecem vários toda semana - e ele estava matando tempo antes do after party que aconteceria ali por perto. Comemos um bom Falafel de rua e fomos pra um bar-balada numa cobertura, devidamente chamada de "Roof Top", que oferece uma área aberta com excepcional vista para a cidade. Chegamos um pouco cedo, não havia quase ninguém, então ficamos ali conversando um tempo.

Roof Top

Roof Top

Logo pessoas que conheciam o Ben se aproximaram e com isso fiz alguns contatos, incluindo Mayer Reich, da startup Rank Above uma plataforma de sucesso que oferece ferramentas e serviços no domínio de SEO, toda feita usando Ruby e Merb (!). Fiquei de visitá-los no dia seguinte. Também pude brevemente me encontrar com Roy Carthy da Initial Capital, que recentemente iniciou negócios no Brasil também.

Eu tinha acabado de voltar do turismo por Jerusalém e estava bem cansado, então depois de conversar com algumas pessoas por algum tempo decidi fechar o dia e retornar ao hotel para descansar. O dia seguinte também seria corrido.

Meu último dia em Tel Aviv começou com a visita à Rank Above. Não era muito longe, pouco menos de 2 km então decidi ir caminhando em mais um dia quente. Devo dizer que mesmo no calor a cidade é bastante agradável para caminhar, então recomendo se possível.

Caminhando

Caminhando

Caminhando

A Rank Above é uma empresa que já tem 5 anos, o Mayer veio de Nova Iorque e montou uma equipe em Israel. A empresa não deve ter mais que 15 pessoas no total, com meia dúzia de desenvolvedores Ruby. Eles tem um escritório até que espartano mas confortável. Ficamos conversando sobre Ruby, em particular eles estavam interessados na minha opinião sobre migrar de Merb para Rails.

Rank Above

Rank Above

Ao mesmo tempo o Omer me apresentou, de novo via Twitter, ao Vitaly Kushner um programador Ruby ucraniano que se mudou pra Israel faz muitos anos. Ele tem uma pequena consultoria de Rails chamada Astrails. Ele e seu outro sócio Michael Mazyar foram me buscar no escritório da Rank Above para almoçarmos. Fomos comer num restaurante de comida búlgara. Eles me contaram como atuam com Rails faz muitos anos mas mesmo assim ainda não conseguiram crescer. Eles obviamente são muito experientes e sabem disso, o problema que todo bom desenvolvedor tem é delegar para programadores menos experientes, especialmente se você se torna preciosista e o código dos outros sempre é pior que o seu. Por isso, eles são em 6 pessoas dividindo múltiplos projetos por pessoa ao mesmo tempo, o que causa muito estresse e mais medo ainda de escalar. Conversamos bastante sobre o que eu tenho feito em consultoria porque eles ficaram interessados em saber como eu escalei de 2 programadores para mais de 30 em menos de 1 ano. Espero que tenha ajudado.

Nesse fim de tarde eu havia combinado com o Omer que eu participaria de um encontro de usuários Ruby da região chamada Ruby Underground. Algumas semanas antes de iniciar essa viagem toda, eu havia publicado no blog que talvez viria pra Tel Aviv e o Omer foi o primeiro a se manifestar. Ele organizou o encontro na empresa onde trabalha, a suíça Klarna. Eu faria uma palestra sobre a comunidade Ruby Brasileira e as novidades do Rails 4.

Depois do almoço com o Vitaly e o Michael eu ainda tinha algum tempo então pedi para me deixarem no Azrieli Center Mall que era perto do prédio da Klarna. Depois de algum tempo, resolvi ir até o encontro. O prédio da Klarna fica próximo à estação de trem e do Azrieli dava pra ir a pé sem nenhum problema.

Azrieli

Azrieli

Azrieli

Azrieli

A Klarna é uma solução de pagamento para ecommerces, por exemplo, com uma solução onde o cliente recebe o produto antes de realizar o pagamento. O escritório de Tel Aviv é bem amplo, moderno e organizado, com uma área especial para eventos junto à uma cozinha e terraço. Caberia até 100 pessoas sentadas sem problemas.

Klarna

Klarna

Klarna

Klarna

Acho que havia quase 80 pessoas presentes, e devo dizer que eu estava um pouco nervoso pois seria mais uma palestra que eu terminei durante a viagem e ainda não tinha conseguido testar o tempo, mas acho que consegui passar tudo que queria com clareza no tempo exato de uma hora, um recorde!

Palestra

Palestra

Tive a oportunidade de conhecer diversos rubistas, muitos ainda iniciantes durante o encontro e no final do evento fomos todos para um happy hour no pub Lee Bloom. Conversei bastante com Daniel Szmulewicz que além de Rubista e programador experiente, também é filósofo por formação, e eu gosto pouco de filosofia (nah) então dá pra imaginar que a conversa foi bem longe.

Lee Bloom

Enfim, foi um último dia muito proveitoso até o último minuto. Tive a oportunidade de conhecer mais empresas e entender bem mais sobre esse poderoso mercado Israelense. No dia seguinte infelizmente eu já tinha que retornar. Deixo apenas registrado que a volta por Ben Gurion não é mais fácil que a entrada, novamente com múltiplas etapas de revista - lembra da recomendação de chegar com 3 horas de antecedência? Bem, em Israel isso não é recomendação é obrigação, caso contrário você não embarca. Mesmo com tudo isso, volto ao Brasil com vontade de retornar a Israel o quanto antes. De todos os lugares que visitei nos últimos anos, nenhum lugar me deixou com mais vontade de retornar do que Israel, e para um cara desapegado como eu, isso é muita coisa.

Vistoria no aeroporto

Por que Israel é tão Avançado?

Quero aproveitar esse final para que todos vocês, leitores, pensem nisso: o que faz um país de menos de 8 milhões de pessoas, somente 60 anos de idade (ela declarou sua independência faz pouco tempo), cercada de inimigos em constante estado de guerra, sem recursos naturais, ser a segunda do mundo em startups, atrás apenas dos Estados Unidos? Ou seja, ela está à frente de países maiores, com mais recursos e pacíficos como Japão, India, Coréia, China e muitos outros europeus. Brasil então, está na rabeira da rabeira em comparação.

Por que Israel é tão mais avançada? Essa é a pergunta que os autores Dan Senor e Saul Singer se propuseram a responder no conhecido livro Startup Nation. Eles focam em dois pontos que argumentam ser os principais, o serviço militar mandatório e a imigração. Eu já sabia que o serviço lá era obrigatório mas não tinha parado para pensar no que isso significava. Aqui no Brasil é obrigatório apenas para homens por 1 ano. Em Israel é obrigatório para homens por 3 anos e mulheres por 2 anos. Ou seja, todo mundo no país passou por uma formação no exército muito mais difícil do que em países como o Brasil.

Diferente do que muitos podem imaginar, o exército evoluiu muito da imagem que temos de anedotas e histórias. Os autores argumentam que o Israel Defense Force (IDF) ajuda a criar bons empreendedores com reais capacidades e, por causa do tempo de serviço, também com muitos contatos. A IDF dá experiência a esses jovens para exercitar responsabilidade num ambiente onde a hierarquia não é tão rígida, onde criatividade e e inteligência são altamente valorizados. Soldados da IDF recebem poucas ordens vindas de cima para baixo e são incentivados a improvisar, mesmo que signifique quebrar algumas regras. Soldados de patentes mais baixas chamam seus superiores pelo primeiro nome, e se eles vêem seus superiores fazendo algo errado eles devem dizer isso. (Aliás, conceito que tento explicar há tempos e parece tão difícil de se fazer entender.)

Soldados

Olhando meus pares no mundo em geral e principalmente no Brasil, sinto que uma estrutura como o IDF proporciona está em grande falta. Hoje os garotos são muito molengas, choram por qualquer coisa, fazem birra, fazem cortina de fumaça reclamando para esconder a própria incompetência, não sabem receber críticas, tem medo de cara feia, tem medo de dizer o que estão pensando, são vergonhosamente covardes só falando mal pelas costas achando que ninguém está prestando atenção, enfim, uma grande decepção. Muitos reclamam por picuinha em trabalhos de 3 meses. Esses adolescentes israelenses passam 3 anos - 3 anos! - servindo no exército.

Estudantes

Estudantes

Difícil dizer que esse é o fator fundamental, mas que certamente faz uma diferença de ordens de grandeza com certeza faz. Esses garotos de Israel, quando terminam seu serviço no IDF certamente saem muito mais próximos a se tornarem adultos de verdade. Os garotos daqui, por sua vez, estão chegando aos 30 anos com mentalidade de adolescente mimado, acostumado a receber tudo de mão beijada. É lamentável.

Estudantes

Some a isso alguns outros fatores que já mencionei durante o artigo: todos falam inglês fluentemente. No Brasil não dá pra dizer que alguém fala inglês decentemente. Além disso, ao contrário do Brasil que tem um enorme mercado consumidor interno, Israel só tem 8 milhões de pessoas, é muito pouco, ou seja, toda startup lá precisa pensar desde o dia 1 em ser uma aplicação web ou mobile já internacionalizada e focada no mercado exterior.

Finalmente, outro fato: empresas grandes como IBM, Motorola, Intel abrem escritórios em países como Índia ou Brasil para terceirização de mão de obra barata. Na cidade de Haifa, que mencionei antes, eles abriram centros de R&D, Pesquisa e Desenvolvimento, coisa que não vemos no Brasil. São só alguns fatores. Determinantes? Não sei, mas são muitos fatores derivados da necessidade de sobrevivência num ambiente hostil. Isso sempre evolui uma população muito mais do que abundância de recursos e muita paz.

Lembram que o jovem Ben Lang me disse que decidiu entrar no IDF voluntariamente? (Como estrangeiro, ele não era obrigado.) Acho que ele também leu Startup Nation. Antes mesmo de entrar pro IDF ele já demonstrou ser mais adulto com 18 anos do que muitos de 25 ou mais que eu conheço. Fiquei bastante impressionado ao ouvir isso. E imaginar que todas as pessoas à minha volta, nas empresas que visitei, no encontro de Ruby, eram todos com formação militar de 3 anos, eu não conseguia me conter mas ficar empolgado com as possibilidades e potencial que eles tem comparado às comunidades que eu estou acostumado.

Esses são pessoas de ação e não de dramas. Enquanto os meninos estão fazendo birra, eles estão construindo a segunda maior economia de startups do mundo. Louvável.

tags: europe2012 israel

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