[Akitando] #115 - Caminho pro Melhor Teclado do Mundo!

2022 March 07, 12:39 h

== DESCRIÇÃO

Esta é a conclusão da saga de teclados! Quero explorar quais problemas herdamos desde a era das máquinas de escrever, porque temos tantos tamanhos diferentes e tantos layouts diferentes de teclados, e se é possível chegar no teclado perfeito: o melhor teclado do mundo pra digitar rápido e evitar as dores mais comuns de digitadores como tendinite e LER. Vamos explorar!

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== SCRIPT

Olá pessoal, Fabio Akita

Os meus videos de teclados foram alguns dos mais visualizados do canal e eu realmente achei que já tinha falado tudo que precisava sobre o assunto. Mas me enganei redondamente, e fui obrigado a rever todos os meus conceitos sobre digitação. No episódio de hoje quero falar de uma categoria de teclados especiais que acho que vai ser difícil me fazer voltar pros meus antigos. E ao mesmo tempo quero falar de alguns conceitos que muitos de vocês provavelmente nunca pensaram a respeito.

(...)

Por que muitos de nós parecemos tão obcecados com teclados? Sempre vai variar de pessoa pra pessoa, por isso nunca leve essas coisas como regras invioláveis nem nada disso. Na minha filosofia pessoal, existem no mínimo 3 coisas que eu faço absoluta questão de ter o melhor que puder conseguir. Nosso dia tem 24 horas. Um terço dessas horas, pelo menos 8 horas todo dia, a gente passa dormindo. Por isso faz sentido investir num colchão decente, com travesseiro decente, pra não acordar todo dia moído, com torcicolo e dor nas costas. Economiza em tudo, menos no seu colchão.

Em segundo lugar, pra todos nós que trabalhamos com programação, passamos a maior parte do tempo sentados. E não caia na armadilha das cadeiras gamers. Eu passei um tempão testando cadeiras gamer e vou dizer que a melhor gamer ainda não é melhor que uma cadeira de escritório honesta, feita pra ser realmente ergonômica. Essa que estou sentado agora é uma Hermann Miller Aeron, mas é super cara e eu acho que tem cadeira que pela metade do preço vai ser igualmente confortável. Cadeira, assim como colchão, é um troço que você precisa ir na loja, gastar algumas horas experimentando e sentir se sua lombar e tudo mais tão sustentados de verdade, se não te força numa posição estranha. Se puder, evite comprar online sem testar antes. E isso também é tudo que vou falar sobre cadeiras.

E em terceiro lugar tá o periférico que você vai usar o mesmo tanto de horas que passa sentado trabalhando, que é seu teclado. Pense que um programador gasta muito mais horas usando teclado e mouse do que usando um smartphone, mas a maioria das pessoas gasta mais tempo pesquisando sobre smartphones do que teclados, cadeiras ou colchão. E se além de programador, nas suas horas vagas você é gamer e vai virar noite no fim de semana jogando, então é bem mais que 8 horas por dia. E depois não entende porque tem 20 anos e já tem dor nas costas e tendinite.

Eu não sou especialista de ergonomia então falo só por mim, mas na prática, evitar dores no corpo tem mais a ver com ficar horas travado na mesma posição do que não estar numa "postura correta". O segredo é de hora em hora pelo menos, mudar de posição, pra qualquer outra posição. Dar uma levantada de 2 minutos, dar uma esticada de 1 minuto, mas com alguma frequência. Se fizer isso, 90% dos problemas você já resolveu. Por exemplo, se ficou 1 hora sentado com a postura correta, muda de posição, pode sentar torto, sentado em cima da perna como muita gente faz. Mas depois de uma hora, muda de posição de novo. O importante é menos a posição e mais mexer seu corpo pra não deixar forçando sempre na mesma posição.

Vamos dar uma pausa no assunto de ergonomia e voltar a alguns conceitos básicos. Nos videos anteriores eu detalhei bastante sobre switches, keycaps, ponto de actuação e vários detalhes técnicos que na realidade tem mais a ver com a sensação da digitação e muito menos com ergonomia propriamente dita ou velocidade. Nenhum teclado mecânico vai fazer diferença nas suas dores, caso sofra de tendinite ou lesão de esforço repetitivo que é o LER. Nenhum teclado mecânico vai fazer você ser muito mais rápido. Usar um bom switch Cherry ou Gateron ou Kailh tem mais a ver, por exemplo, com a qualidade do couro do volante, mais do que se o carro vai andar mais rápido.

Na realidade, o que a maioria das pessoas sofre com teclados hoje em dia tem mais a ver com legado histórico e maus hábitos, que é o que quero explorar hoje. O layout de teclados que chamamos de 100% deriva do famoso IBM Model M. É o teclado original de 101 teclas, que divide as teclas em grandes grupos. As teclas alfanuméricas, o grupo do meio que são teclas de navegação como setinhas, page up e down. Daí temos o grupo mais importante pra quem usa Excel que é o teclado numérico. Um bom contador não consegue viver sem isso. E por último, lá em cima, temos a linha de teclas de função, de F1 até F12.

Quem não usou teclados antes dos anos 90 não vai lembrar disso, mas cada microcomputador e também os terminais de mainframes; cada um tinha um layout diferente. Por exemplo, olha como era o layout do teclado de um micro MSX. Eu lembro claramente como ele tinha um layout esquisito de setas. Ou veja como era o Apple II, que já era mais parecido com o que hoje chamamos de layouts 65%. E se quiser esquisito, veja como era o ZX Spectrum, com as famosas teclas chiclete, o exato oposto de ergonomia e curiosamente mais próximo do que chamamos hoje de layouts 40%. Mas isso era cruel.

A IBM veio pesquisando teclados por décadas e finalmente chegaram num layout que encapsula tudo que um operador ou programador precisaria e esse foi o layout do IBM Model M, que saiu com os primeiros IBM PC; a primeira tentativa da IBM de conquistar o mercado fora das corporações. E fez tanto sucesso que literalmente todo mundo passou a adotar esse mesmo layout desde então. Se você tem um teclado 100%, com o teclado numérico na direita, a única diferença é que depois do Windows 95 passaram a colocar a tecla super de Windows entre o "alt" e o espaço dos dois lados e com isso temos o layout clássico de 103 teclas.

Agora, esse teclado foi pensado numa época antes da adoção do mouse do lado direito. O IBM Model M descende de teclados de terminais de mainframe, como o lendário IBM Model F, que nem esse que eu comprei no eBay mas não funciona direito. Ou este outro que é um clone do Model F e vem como kit pra você se virar, mas até hoje ainda não consegui fazer funcionar. De qualquer forma, o Model F é um dos maiores tanques de guerra dos teclados já feito. O layout era diferente, e a construção é quase toda de metal. Ele pesa mais de 4 quilos e se você bater na cabeça de alguém com isso, é homicídio. É impossível agredir alguém com um teclado desses e não esperar que o outro vai morrer no ato. E por isso também esses teclados eram super caros, acho que na faixa de 2 mil dólares.

Os Model M passaram a ser feitos com materiais mais baratos, menos ferro, mais plástico, e mesmo assim ainda são mini tanques. Eu tenho um antigo que também comprei no eBay e com um adaptador de PS2 pra USB até que funciona direitinho. Mas se quiser experimentar uma versão moderna, a Unicomp herdou o maquinário original da IBM e Lexmark e fazem um modelo mais moderno USB mas ainda construído do mesmo jeito que antes. Vale pesquisar eles se tiver interesse em saber como eram teclados buckling spring originais. Depois que comprei esse eles fizeram uma versão tenkeyless que eu prefiro.

Os Model M são muito grandes e originalmente pensados pra serem o único periférico na frente do monitor. Mesmo quando começamos a adotar mouse, mais do meio pro fim dos anos 80, depois do lançamento do Lisa, depois do Macintosh, os Commodore Amiga, Atari ST até chegar no Windows 3.1, ainda teve uma transição até a gente passar realmente a depender de mouse pra tudo. Foi mais depois do Windows 95 que o povo não profissional se acostumou a usar mais mouse e menos teclado, depois do meio dos anos 90.

Pior ainda. Foi a partir principalmente do meio pro fim dos anos 90 que passamos a usar mais mouse pra games, especialmente depois de clássicos como Doom, Duke Nukem até culminar nos Quake III, Unreal Tournment e Half-Life. Agora os teclados cheios, 100%, já passam a realmente atrapalhar. Quando a gente joga, a maioria das teclas que se usa nos jogos fica acumulado do lado esquerdo. As teclas w a s d são usados como seta, usamos espaço pra pular. E a mão direita fica no mouse. Por isso que existem até teclados gamers que são só o lado esquerdo, porque daí olha quanto de espaço que ganhamos do lado direito pra mover o mouse.

Claro, não é exatamente muito prático ficar trocando de teclado toda vez que vai jogar, mesmo porque a gente fica em coisas como chat, ou dá uma pausa no jogo, dá alt-tab e vai no navegador procurar alguma coisa; agora a metade que não tem do teclado faz falta. Então eu não recomendo esses meio teclados a menos que tenha espaço pra ter os dois tipos conectados ao mesmo tempo. Pra maioria de nós que não somos gamers nem streamers profissionais, realmente mais atrapalha do que ajuda.

Mesmo sem contar games, atrapalha no dia a dia deixar o mouse lá longe na direita. Mesmo que você seja do tipo que não vê nenhum problema, saiba que quanto mais tá deixando o braço esticado pra direita, mais tá forçando seu ombro e pescoço. Na realidade, quanto mais horas se passa só usando mouse, mais força o braço como um todo e o ideal é evitar. Quem trabalha com coisas como Photoshop, editor de video, 3D ou qualquer coisa assim não tem tanto como evitar, a menos que já tenha migrado pra tablet com caneta, como as famosas Wacom. Ninguém que é obrigado a usar mouse o dia todo gosta muito disso, só se for masoquista e não se importa com dor. Todo o resto, ou tenta usar o teclado o máximo possível, ou migrou pra equipamentos especializados.

De novo, o foco é mais pra gente como eu que lida com programação ou similares. Galera das artes digitais vai discutir se é melhor comprar uma Wacom Cintiq ou um Huion Kamvas ou um XP-Pen da vida. Se seu foco for artes, recomendo o canal do Brad Colbow que faz reviews de equipamentos desse tipo pra desenhistas e ilustradores profissionais. Eu passei anos lidando com photoshop só no mouse, e sim, é brutal com o pulso, ombro e pescoço. Mesmo edição de video eu tenho shortcuts no teclado pra coisas como cortar e navegar pela timeline.

Se nunca tinha pensado nisso, o objetivo é pelo menos não esticar tanto o braço pra direita quando é obrigado a usar. E por isso o próximo passo de um teclado 100% são o que chamamos de TKL ou Tenkeyless, literalmente "sem as 10 teclas" ou o grupo de teclas numéricas. Eu já consigo ver um contador chorando assistindo o video, mas pra maioria de nós, esse bloco de teclas é literalmente inútil. É muito raro precisarmos digitar tantos números assim que faz diferença; por outro lado, toda vez que precisamos do mouse, esse bloco pouco usado tá no meio do caminho, então vamos arrancar fora.

Por alguma razão esse é o layout que até alguns anos atrás mais se associava a gamers. Marcas como Razer, Logitech, Asus e outros enfiaram um tanto de RGB neles e pronto: teclado gamer. Eu mostrei nos meus videos originais de teclados que eu tinha modelos como o Razer Blackwidow. E mesmo o pessoal que começou a adotar a idéia de teclados mecânicos em geral, adotou o layout tenkeyless. Ele é o meio do caminho mais fácil, porque a única modificação é tirar as teclas de números, que nenhum gamer usa, então tem zero curva de aprendizado pra mudar e automaticamente se ganha mais espaço pro mouse.

Se você quer o menor esforço pra mudar de teclado, caso estivesse usando os 100%, essa é a opção com zero dor de cabeça. Outra opção que se tornou muito popular por causa dos notebooks são variantes de layout 75%. Esses layouts tentam pegar o bloco do meio de teclas de navegação como home, end, page up, page down e setas e tentam enfiar no bloco principal alfanumérico. Esse é o layout que as setas ficam grudadas em teclas como shift e control do lado direito.

Se você tá acostumado com notebooks, tá acostumado com esse layout mais apertado. Nesse caso o objetivo foi menos dar espaço do lado direito e mais conseguir enfiar um teclado usável num notebook com telas menores que 15 polegadas. O problema de tentar usar um teclado cheio 100% num notebook é que você sempre vai ficar um pouco pra esquerda, em vez de estar centralizado com a tela. Alguns se acostumam, mas eu pessoalmente não gosto de não estar no centro da tela. É questão de gosto mas acho que o layout 75% é o mais correto e mais universal pra notebooks. De novo, a menos que seja um contador, aí vai querer as teclas numéricas também.

E quando eu falo contador, não estou menosprezando não, mas é um caso de uso muito pequeno pra estabelecer como padrão pra todo mundo e desperdiçar tanto espaço. Não só contador, mas qualquer um que lide por exemplo com data sciences, pesquisa e coisas que exigem digitar números com velocidade e precisão. Nesse caso não tem jeito, pega um teclado 100% mesmo e seja feliz. Mas pra todo o resto de nós, vamos continuar.

Um notebook tem uma vantagem em relação a desktops, a existência de trackpads embaixo do teclado. Essa é a melhor posição, porque pra maioria das atividades do dia a dia como posicionar o cursor num Word, ou só rapidamente clicar num link, dá pra fazer tudo só usando o dedão sem quase tirar a mão direita do teclado. Por muitos anos, quando usava Mac, eu preferia usar o teclado Magic Keyboard e o Magic Trackpad embaixo dele, que é parecido com o posicionamento num Macbook.

Nesse segmento que cresceu marcas como a Keychron com o seu famoso K2, que até canais renomados como o MKBHD do Marques Brownlee adotaram como teclado favorito. Inclusive pra muitos, migrar pro tal mundo de teclados mecãnicos significou ir pra um Keychron K2 ou clones similares, com layout 75%. É um layout minimalista que dá uma ótima opção pros road warriors, o pessoal que viaja muito e quer carregar um bom teclado na mochila. Pelo menos antes da pandemia.

E um Keychron sempre teve uma construção muito boa. Não é necessariamente o melhor, mas é o melhor conjunto. Os entusiastas poderiam ir pra opções de melhor construção como os kits Glorious GMMK. Eu pessoalmente testei vários Keychron já, do tenleyless K8 ao 75% K2 até o low profile K3, mas pra mim o melhor modelo deles é o Q1 que eu comprei ou o Q2 que saiu faz pouco tempo. Eles tem uma construção bem mais robusta, que compete com os modelos da Glorious e da Drop e lembra o peso de um IBM Model M, um teclado menos pra levar na mochila e mais pra deixar preso na mesa, porque com esse peso ele não vai se mexer.

Um layout que eu pelo menos não vi tanta adoção são os 65%. É basicamente o layout 75% parecido com de notebook mas sem a linha de teclas de função só. Ainda tem as setinhas na direita mas ele é mais curto verticalmente e nesse segmento acho que a marca que sempre mais se destacou foi a lendária Ducky. Eu não tenho uma, mas vejam por esta foto. A idéia acho que é porque a linha de teclas numéricas e a linha de teclas de função são as menos usadas no teclado, então vamos juntar as duas linhas em uma. Normalmente fica ativado a função numérica, mas combinando com uma tecla modificadora, ativamos a camada de funções de F1 a F12.

Mas já que tiramos teclas de função, porque não dar mais uns passos e tirar mais algumas teclas. Aí muitos vão começar a se lembrar que um nicho principalmente de programadores e gamers resolveram dar o próximo passo lógico e daí surgiram marcas reconhecidas nesse nichos a Anne Pro 2 ou esse meu Ultimate Hacking Keyboard. Até pouco tempo sempre achei esse passo desnecessário. Um 60% é igual um 65% menos as teclas de setas, page up, page down, home e end. Ou seja, é o teclado cheio sem o bloco numérico, sem o bloco de navegaçao no meio e sem a linha de teclas de função. E aqui também nasce a necessidade de começar a conseguir configurar o mapeamento das teclas pra conseguir ter o equivalente de setas e tudo mais usando combinações de teclas.

Mas pensa, não parece um saco precisar apertar tipo uma tecla como "function", toda vez que precisa usar setinhas ou dar um page up? Esse é o ponto que separa a população normal dos entusiastas. A população em geral consegue ir, no máximo, até 65% e mesmo isso já parece um grande sacrifício. Agora, num 60%, pra ter setas, precisa apertar uma tecla de função e o w a s d ou i j k l, o tico e o teco não consegue lembrar dessas coisas, dá curto circuito, o cérebro primitivo é incapaz de se adaptar a isso. Pelamordeus.

E vocês acham que eles pararam aí? Não! precisa ter um nível que separa de verdade os primitivos homo sapiens e dá destaque ao homo ludens de verdade. E aí inventaram o layout 40%. E é o que vocês devem ter pensado mesmo, vamos arrancar mais teclas! É basicamente o 60% mas arrancando fora também a inútil linha de teclas de números, e arrancando e diminuindo as teclas da direita. Pra que diabos backspace e shift precisam ser tão largos? Minimiza, minimiza. E esse é o resultado, o teclado que faz qualquer um repensar a vida.

Falando sério, eu tentei um layout desses um tempo atrás. Tentei usar o Razer Huntsman Mini. E vou dizer que foi uma experiência horrorosa. Foi tão ruim que eu doei esse teclado pra um dos desenvolvedores da minha empresa. Na verdade, eu decidi me desfazer de vários dos teclados da minha coleção e no ano passado fiz um sorteio interno entre o pessoal da minha empresa. Eles levaram esse Huntsman, meu Matias Mini Quiet Pro, o low profile tenkeyless SK630 da Coolermaster, os meus dois Razer Blackwidow, o MassDrop Ctrl, da época anterior da empresa mudar de nome só pra Drop, e meu primeiro Keychron K2. Falei que usar um 40% quebra a gente...

Tô brincando, eu quis me desfazer porque realmente já tava com teclados demais, e na época chegou o Keychron Q1 que como eu falei, achei que fosse ser meu último teclado. Tinha muito pouca coisa que poderia melhorar num teclado com layout 65%, que era o máximo que tava disposto a ir. Mas no fim do ano passado eu comecei a repensar essa história de teclados por causa de um colaborador da minha empresa que curte muito teclados e me convenceu a tentar uma coisa diferente.

Antes de chegar nessa história, vou precisar voltar no tempo de novo. Agora que vocês entenderam o básico sobre o tamanho dos teclados, preciso explicar sobre o layout, a disposição das teclas propriamente dito. Acho que muitos já ouviram a história de porque usamos layouts baseados em qwerty. E chamamos de qwerty porque são as primeiras 5 teclas da esquerda. O motivo de porque letras que usamos muito como "a" ou "p" ficam um lá na esquerda pro dedo mindinho e lá na direita pro outro dedo mindinho. E tem a ver com isso aqui, a máquina de escrever original.

Quem nunca usou não vai saber, mas cada tecla empurra um braço embaixo dele que vai tanto levantar um tambor aqui dentro e empurrar o martelo da letra específica que apertou, pra bater na fita de tinta e carimbar no papel atrás. Quando falamos em teclados mecânicos, falamos em peso de actuação na faixa de 45 até 60 gramas. Mas nesse caso, estamos falando de no mímimo o dobro disso de força que cada dedo precisa fazer pra conseguir carimbar com força no papel. Não tem como digitar leve, senão a tinta nem mancha o papel.

O problema é que, depois de treinar muito, era possível digitar tão rápido que um martelo poderia acabar batendo no anterior, que não teve tempo pra voltar, e fazendo muito isso a gente trava a máquina e precisa manualmente desenroscar os martelos. Daí o povo teve uma idéia: seria difícil fazer os martelos voltar mais rápido, então era mais fácil fazer nossos dedos digitarem mais devagar. Então vamos colocar algumas das letras mais comuns pros dedos mais fracos. Não sei dizer se foi assim que pensaram, mas consigo imaginar a linha de raciocínio.

De qualquer forma, o layout que usamos hoje é derivado de uma época onde se digitava nesses troços pesados, complicados e mecânicos de verdade. Só que ninguém mais usa isso hoje em dia. Mesmo antes dos PCs se popularizarem a gente já tinha máquinas de escrever eletrônicos, que era como se fosse um teclado embutido numa impressora com um processador muito simples e poucos bytes de memória. Eu lembro que era meu sonho poder digitar numa máquina daquelas, que eu via na escola, porque era ordens de grandeza mais leves de digitar. E depois nasceu micros e PCs, e aí até essa máquina ficou pra trás.

O fato é que hoje em dia as teclas são super leves. Mesmo os dedos fracos como os mindinhos, não tem que fazer quase nenhuma força. O problema hoje é que pouca gente usa os mindinhos, mas já vou falar disso. Então, não demorou muito pra alguns pesquisadores e engenheiros pararem pra pensar, "cara, porque usar um layout derivado da época de máquina de escrever? tem gente que já nasceu com computadores e sequer usou uma máquina de escrever na vida. vamos criar um layout mais inteligente."

E assim nasceu o DVORAK, por causa do nome do inventor August Dvorak e na verdade eu fantasiei um pouco aqui. O Dvorak foi inventado nos anos 1930 com o objetivo de criar um layout cientificamente comprovado que é superior ao qwerty em velocidade, menos erros e menos esforço do digitador. Foram milhares de testes com pessoas de verdade ao longo de muito tempo pra chegar na melhor combinação de teclas que fosse melhor pro digitador. Mas na prática, qwerty é a prova que a gente tem muito pouca paciência pra aprender coisas novas.

Eu disse que o qwerty foi inventado como forma de evitar sequências de letras que pudessem emperrar os martelos, mas mesmo nos anos 30 acho que já era possível construir máquinas que emperravam menos, mas uma vez que todo mundo aprendeu a usar qwerty, era pedir demais pra mudar pra um layout novo mesmo que fosse cientificamente, comprovadamente melhor. E o mais bizarro disso, eu tenho certeza que quase 70% de vocês assistindo nunca usaram uma máquina de escrever e mesmo assim não conseguem se ver aprendendo um layout diferente de qwerty.

Mesmo hoje em dia, com computadores, e sendo super fácil trocar de layouts, a grande maioria das pessoas sequer sabe digitar qwerty como ele foi originalmente pensado, com todos os dez dedos. Tenho quase certeza que a grande maioria aqui usa 3, talvez quatro dedos. Em particular na mão direita, talvez cate milho só com o indicador e dedo do meio. E até digitam razoavelmente rápido, mas eu garanto que se sua profissão exige digitar muito, como um escritor ou programador, você eventualmente vai ter problemas no seu pulso, no seu cotovelo e no seu ombro e pode ser a razão de porque tem dores musculares e de cabeça.

Num mundo ideal, a gente aprenderia Dvorak, mas pra isso acontecer, essa teria que ser a primeira opção, e não a segunda. É como a dificuldade que muitos adultos tem de aprender uma segunda língua. Depois de uma certa idade, você não quer mais ter o trabalho. É pura preguiça mesmo, não tem nenhuma outra explicação. O motivo de porque eu não tento dvorak é justamente isso também, preguiça. E Dvorak ainda tem alguns problemas de ter sido criado numa era antes dos computadores. Mas além de preguiça eu ainda tenho uma outra boa justificativa que vou explicar.

Mas digamos que você tente experimentar Dvorak. Nas primeiras horas vai rejeitar o layout e o motivo é simples. Quais são as teclas que você mais usa no dia a dia? Eu diria que é copy e paste, os famosos control + C e control + V. Eles ficam aqui embaixo no teclado, não muito longes da tecla control. Daí às vezes a gente quer cortar em vez de só copiar, daí fazemos control + x, que tá aqui do lado do c. E quando a gente erra, faz o que? Desfaz ou undo, com control + z, que tá aqui do lado do x. Essas 4 teclas aqui embaixo é sua vida.

E onde o Dvorak coloca o C? Lá em cima, perto da tecla 9. E o V pra colar? Fica lá embaixo na direita, na direita! E cadê a porra do X pra cortar? Vou dar 1 segundo, procura, conseguiu achar? Não né. Tá aqui embaixo, no meio, em cima do espaço. E se quiser fazer control Z pra desfazer alguma coisa? Antes era lá no canto esquerto, mas no Dvorak fica lá no canto direito. Ou seja, as 4 teclas mestras do nosso dia a dia tão todas espalhadas e só isso já é suficiente pra nos deixar em pânico completo e desistir dessa brincadeira. E isso porque não sei se notou, mas lembra de onde fica o q w e no qwerty? Olha o que tem no lugar: crase, vírgula e ponto, que normalmente ficam lá embaixo na direita.

O Dvorak não deu certo na época das máquinas de escrever e até hoje permanece sendo um layout de nicho, embora todo sistema operacional já venha com opção pra escolher Dvorak se quiser. Basta ir na configuração de teclado, adicionar um novo layout, e começar a treinar. Não precisa instalar nada extra. E mesmo assim, duvido que alguém aqui tente. E por isso inventaram outros layouts pra essa era de computadores.

Na realidade, depois de Dvorak surgiram dezenas de outros layouts, mas nenhum ficou mais famoso em anos recentes do que o Colemak de 2006. Um layout mais moderno e mais sensível, onde o autor Shai Coleman também fez pesquisas pra chegar num layout que fosse mais eficiente pra digitar, assim como o Dvorak, mas ao mesmo tempo não tão complicado de migrar do qwerty. E de fato, só de bater o olho, ele já não ofende tanto quanto o Dvorak. Pra começar as teclas de símbolos quase não muda nada de lugar. Vírgula, ponto, tudo no mesmo lugar.

Mais do que isso, copiar, cortar, colar, desfazer, as teclas Z X C V continuam também nos mesmos lugares lá embaixo. Teclas como Q W A também parecem nos mesmos lugares, mas daí o miolo muda. Qual o princípio? É a idéia de manter seus dedos o maior tempo possível no que chamamos de "home row" ou "linha de casa", que é a linha do meio.

Olha só, num mundo ideal, seus dedos deveriam no máximo mover o menos possível, uma tecla pra cima, uma tecla pra baixo, mas ficar no meio o máximo possível. Quanto mais manter os dedos na linha do meio, menos esforço precisa fazer e menos erros vamos cometer. A maior parte dos erros vem de ter que tirar a mão dessa posição, por exemplo pra apertar o backspace pra apagar, que costuma ficar lá em cima na direita, ou quando você não usa o shift da direita pra fazer maiúsculas com as teclas da esquerda.

Eu mesmo ainda não tive paciência pra testar, mas Colemak pode ser uma boa alternativa pra quem quiser migrar de qwerty pra um layout que possivelmente vai te deixar mais rápido e ao mesmo tempo diminuir problemas de lesão por esforço repetitivo ou LER. Eu estou chutando, mas imagino que qualquer um que digite errado vai ter mais chances de ter lesões no futuro. Mesmo se não quiser mudar de layout, no mínimo tente treinar pra usar todos os 10 dedos no qwerty. Eu também chutaria que seja qwerty, ou dvorak ou colemak, pra maioria das pessoas, não vai fazer tanta diferença e agora vou explicar porque não é só por preguiça que não me animo de mudar pra um Colemak da vida.

Alguns anos depois, um cara que experimentou dvorak e colemak, justamente por causa de lesões por esforço repetitivo, ficou curioso com uma coisa que ele notou no Colemak. De fato, ele diz que notou que os dedos fazem menos movimentos pra linha de cima ou pra linha de baixo comparado com qwerty. Mas ele cismou que alguns dedos faziam mais movimentos laterais na linha do meio mesmo. E a razão disso foi a posição da letra H no colemak, que por acaso se manteve no mesmo lugar comparado ao qwerty.

Tanto dvorak quanto colemak existem na idéia de aumentar a eficiência ao tentar manter seus dedos na linha do meio o máximo possível, mas o Bucao, criador do layout Workman, acha que obcecar só nisso e ignorar o movimento natural diferente dos dedos das mãos não é eficiente. No site do workman ele tem uma enorme explicação muito bem embasada com toda a pesquisa que justifica o porque do layout dele. E aí que eu acho que pra nós, eu aqui e vocês assistindo, não faz tanta diferença a menos que seu dia a dia seja só escrever textos em inglês.

Em particular a cisma que ele teve com o H foi porque o E fica duas teclas pra direita na linha do meio no Colemak. E o segundo bigrama mais usado na língua inglesa é o HE, como em "The". O primeiro bigrama é "TH", claro, que aparece tanto em "The" como "there" ou "this". Bigrama é um termo de linguística pra estudar línguas e se refere a pares consecutivos de letras que aparecem em palavras. Todo mundo que já lidou com indexação e pesquisa de palavras já esbarrou em termos como bigrams ou n-grams, na documentação de um Elasticsearch ou full text search de bancos de dados. Mas isso é assunto pra outro dia.

Otimizações desse tipo são totalmente dependentes da língua. Pensa, como que fazemos pra manter os dedos o máximo possível na linha do meio do teclado? Simples, pegamos todos os textos de livros e revistas indexados tipo no Google e fazemos uma análise estatística de bigrams, n-grams e tentamos colocar no meio as letras mais frequentes. E tentamos também colocar mais próximo as letras dos bigramas mais usados como o TH e HE que o Bucao mencionou. E vamos fazendo experimentações e medições pra ver se realmente ao digitar textos em inglês, no geral, os dedos tendem a se mexer o menos possível e fazer o menor número de repetições desconfortáveis que poderiam levar a lesões.

Mas de novo, toda essa pesquisa vale pra inglês. Mesmo entre inglês britânico e americano vai ter muitas diferenças. Se colocar nosso português na mistura, pior ainda, tem que refazer a pesquisa toda. Eu não pesquisei, mas nunca esbarrei num layout que foi pensado especificamente pra nossa língua. Certamente alguém deve ter tentado. Pior ainda, e pra gente que é programador que precisamos escrever em português e em inglês ao mesmo tempo? Não tem como fazer um layout que atenda todas as possibilidades de múltiplas línguas. E por isso eu não vejo muita vantagem migrar de qwerty pra outra coisa.

A grande vantagem do qwerty e o motivo de porque ninguém tem muita vontade de mudar é porque é universal. Pode não ser o melhor, mas podemos usar computador de casa, notebook do trabalho, computador na casa dos pais, amigos, em lojas, e sempre vamos achar o mesmo layout. Seja o melhor ou não, a vantagem é a universalidade. Por isso eu não vejo o qwerty morrendo tão cedo. Mesmo os layouts cientificamente comprovados como melhores como dvorak ou colemak permanecem num nicho muito pequeno de usuários.

Pra quem é programador e sequer digita textos muito longos nem em português, nem inglês, e sim coisas como "function", "class", "const", "let" com mais frequência, os estudos todos que foram baseados em literatura, não bate com a realidade. Se você programa em javascript eu poderia chutar que o bigrama mais comum não vai ser "TH" com em "The" e sim talvez "LE" de "let" ou "CO" de const, e essas seriam candidatos de letras que deveriam estar na linha do meio. Mas como vimos, se tirar o "C" da linha de baixo, vai dar treta, porque mais que digitar código, programador moderno vai é fazer control + C e control + V com mais frequência do que qualquer outra coisa.

Eu pessoalmente não vejo vantagens em mudar de qwerty, mas se no seu dia a dia você digita mais textos em inglês o dia todo, talvez como pesquisador escrevendo papers ou gerente escrevendo relatórios, talvez um colemak ou workman sejam os mais indicados pra testar, se fizer muita questão de tentar. Mas esperem passar por pelo menos 2 semanas de muita frustração e ter que retreinar digitação do zero até conseguir chegar numa boa velocidade e com poucos erros. Na prática o problema da maioria das pessoas não é o layout e sim nunca ter treinado pra digitar nem o qwerty direito, com todos os dez dedos das mãos na posição correta. Já vou falar sobre isso.

Mas falando em relíquias da época da máquina de escrever tem de fato uma coisa que é difícil de defender. E foi isso que meu amigo aqui da empresa me recomendou e me convenceu a investigar mais. Olhem pra todos esses layouts, qwerty, dvorak, colemak, workman. Conseguem ver um troço estranho em todos eles? Ou melhor ainda, olha pro seu teclado na sua frente agora assistindo aí o video. Lembra quando eu falei agora pouco sobre o layout 60% de porque diabos teclas como backspace ou shift precisam ser tão largos? Sério agora, porque você acha que muitas teclas tem tamanhos diferentes?

Mas vamos um passo além, porque diabos todas as teclas precisam ser desalinhadas? Coloca sua mão na posição neutra na linha do meio. Indicador esquerdo em cima da tecla F, que costuma até ter um relevo pra você sentir que estacionou no lugar certo. E indicador direito em cima da tecla J que também tem esse relevo. Agora você vai digitar a tecla "C", qual é o dedo certo? É descendo o indicador ou o dedo do meio? E a tecla "Z"? É o mindinho ou o anelar? Sério, consegue me dizer de cabeça sem tentar no seu teclado?

E todas as teclas da linha de cima e de baixo sofrem do mesmo problema. Muitas delas são ambíguas, e se você nunca teve treinamento formal de digitação, cada um vai ter uma resposta diferente porque ao longo dos anos acostumou a usar um dedo ou outro. Mesmo quem digita com todos os dez dedos vai ter dificuldades e esse é o motivo de porque você erra tanto e porque a tecla que mais usa é o backspace pra apagar e corrigir; porque se tenta ir muito rápido eventualmente seu dedo bate na borda de uma tecla e acaba apertando a outra do lado.

E por que diabos as teclas são todas desalinhadas? Já pararam pra se perguntar isso? Eu mesmo nunca tinha parado pra pensar nisso até que me fizeram essa mesma pergunta. E a resposta, pra mim que aprendeu a digitar numa máquina de escrever é super óbvia. Vamos voltar aqui pra minha máquina. Lembram que cada tecla tem um braço em L embaixo que liga com o tambor lá atrás? Concorda que seria muito complicado se as teclas fossem alinhadas verticalmente? Elas são desalinhadas pros braços das teclas da linha de baixo não cruzarem com os braços das teclas da linha de cima.

Deixa eu mostrar com calma que isso é importante, olha só como cada tecla fica exatamente entre duas de cima. Pras teclas serem alinhadas verticalmente, esses bracinhos de ferro embaixo precisaria cada uma ser dobrada de jeitos diferente pra desviar das outras. Eu imagino que até seja possível, mas aí na hora de fabricar, teria que ter um desenho de braço diferente pra cada linha de teclas. E esse é o único motivo de porque as teclas são todas desalinhadas. Não é por eficiência pra digitar nem nada, mas sim pela forma que máquinas de escrever eram construídas.

E de novo, ninguém mais usa máquinas de escrever. Mudar de layout eu realmente acho que o ganho não compensa a dor de cabeça pra reaprender, mas o desalinhamento realmente me atrapalha mesmo depois de digitar assim por 3 décadas. Eu sempre errei mais do que gostaria e sempre porque vira e mexe, quando começo a digitar muito rápido, acabo apertando duas teclas sem querer, e como sou obrigado a mover os dedos pra um alinhamento estranho na linha de cima e de baixo, pra voltar pra posição neutra no meio de novo, é mais devagar.

E foi isso que ano passado eu fui obrigado a parar pra pensar. Não existe nenhuma razão pra teclados modernos terem teclas desalinhadas a não ser legado histórico e costume. E depois que isso me ocorreu, não consigo mais despensar e fiquei com isso na cabeça me perturbando. Eu sou do tipo que quando uma coisa óbvia aparece, não consigo mais ignorar. E por isso encomendei dois teclados novos. E agora podemos continuar a história dos tamanhos de teclado também.

Lembram que brinquei que o homo sapiens vai parar no layout 65% porque a evolução só chega até esse ponto e só o homo ludens vai o caminho todo até os famigerados 40%? Pois é, conheçam o meu novo Planck EZ da ZFA, a mesma que muitos devem conhecer pelo famoso Ergodox. Se nunca tinha visto, isto é um 40%. Esse teclado é um pouco menor que um Nintendo Switch, e só um pouco mais grosso na lateral. Aliás, uma dica pra quem tem teclados desse tamanho. Ainda não existe um case oficial pra transportar o Planck na mochila mas um case de Switch serve direitinho. Eu tenho esse genérico da Insignia que comprei pra transportar meu Switch e olha só, cabe o Planck direitinho nele.

Mais do que 40%, esse teclado tem as teclas todas alinhadas verticalmente. É o que se chama de teclado ortolinear, teclados tradicionais chamamos de staggered, ou escalonado. Vamos falar disso primeiro e vamos colocar os dedos na posição neutra, indicador esquerdo no F e indicador direito no J, igual antes. Agora lembram da pergunta? Qual dedo que devemos usar pra apertar a tecla C? Indicador ou dedo do meio? E aqui está absolutamente óbvio que é o dedo do meio, só deslizar ele pra baixo uma tecla. E a tecla Z, é com o mindinho ou o anelar? E de novo é óbvio, só deslizar o mindinho e ele encosta no Z. Não tem dúvidas de qual dedo vai em onde.

Olha só, deslizamos verticalmente pra cima, deslizamos verticalmente pra baixo, os únicos dedos que tem mais de uma letra são os indicadores que continuam deslizando pras colunas do meio. Mas beleza, e se eu quiser digitar números? Onde eles foram parar? E aqui começa uma coisa que é específica deste teclado e pode variar em outros modelos. No caso do Planck, ele pode ser totalmente customizado via um software chamado Oryx. Vamos abrir online pra olhar, é uma aplicação web, nem precisa instalar.

Teclados 40% obrigatoriamente precisam ter camadas, ou layers como eles chamam. Essa camada que vocês conseguem ver chamamos de layer base. É onde ficam todas as letras normais e teclas de modificação como shift, control, alt e outros. No meu caso em particular eu modifiquei meu layout pro enter ficar do lado direito do espaço e pro backspace ficar no dedão do lado esquerdo. O motivo é simples. Quais são os dedos mais fortes das suas mãos? O dedão, e enquanto dedos fracos como o mindinho da esquerda precisa além de apertar as telas Q A e Z ainda precisa apertar o control, o shift, o esc e tudo mais. E o dedão? A única coisa que ele faz é apertar a barra de espaço. Com certeza esse dedão consegue fazer mais que isso.

Fazendo isso eu consigo colocar de volta a tecla de igual e mais lá no canto superior direito, que no layout padrão é onde fica o backspace e aí eu perderia essa tecla. Tecla de igual usamos bastante em programação. No layout padrão do Planck, temos duas teclas especiais de troca de layers. Voltando ao assunto de layers, o Planck tem 3 layers, o que ele chama de layer baixo, layer alto e layer de ajuste. No meu caso eu fiz a tecla de backspace trocar pro layer baixo quando deixa apertado.

Vamos a mais detalhes. A gente costuma pensar em uma tecla como só tendo uma função. Por exemplo, a tecla de backspace, apaga uma letra. Se deixamos apertado ele sai apagando mais letras pra esquerda. Mas só com essa descrição sabemos que a tecla tem pelo menos 2 comportamentos diferentes pra 2 estados diferentes, o estado de teclar e o estado de deixar apertado, ou held. Olha só no Oryx, de fato eu posso configurar cada estado como eu quiser. E além de só apertar e deixar apertado eu ainda tenho os estados de dar duplo clique rápido e o estado de apertar rápido uma vez e deixar apertado no segundo toque que é esse "tapp and then held".

Ou seja, cada tecla pode ter até 4 comportamentos diferentes e foi assim que fiz meu backspace também ter o comportamento de mudar pro layer baixo, quando deixa apertado sem soltar. Justamente um dos maus hábitos que nós temos é errar e sair apagando com backspace apertado a linha toda em vez de usar combinações mais eficientes como control + backspace que apaga palavras inteiras de uma só vez. Enfim, voltando pro Oryx, veja como está meu layer baixo hoje.

Quando eu deixo apertado o backspace, meu teclado muda de cor, que foi como eu configurei no Oryx. Agora as teclas da linha do meio da esquerda são os acentos mais chatos de português como til e circunflexo. E na linha do meio da direita eu deixei o mesmo esquema de navegação de setinhas como é no editor Vim, com H pra esquerda, J pra baixo, K pra cima e L pra direita. Vários outros utilitários de Linux costumam navegar no estilo Vim e esse eu acho que é o jeito mais eficiente pra navegar por um texto.

Esse ponto vale explicar mais. Vamos lá, o grande motivo de porque a maioria das pessoas não tá disposta a experimentar layouts abaixo de 65% é porque perdemos as setas de navegação que ficam lá embaixo na direita; olha só neste teclado 65% por exemplo. Você tá digitando seu texto ou código aí decide que faltou digitar alguma coisa no parágrafo de cima, o que você faz? Tira a mão direita inteira do teclado e move lá pra baixo. Daí quando termina de navegar, agora precisa encontrar a posição neutra tudo de novo pra voltar a digitar.

Agora vamos ver como é no modo Vim. Mesma coisa, quero navegar algumas linhas pra cima pra acrescentar alguma coisa. Agora eu aperto o backspace e deixo apertado pra mudar pro layer de baixo, sem tirar as mãos da linha do meio eu navego e imediatamente volto a digitar sem tirar as mãos do meio do teclado. Essa é a grande vantagem da navegação Vim. E some a isso esse layout de 40% e literalmente os dedos não precisam se mover mais do que uma tecla pra cima ou uma tecla pra baixo.

Isso ajuda mesmo acentuação de português que é um saco. Pensa o til. Se você digitava errado como eu, a gente precisa tirar a mão esquerda toda da posição pra alcançar shift e til, ou apertar shift com mindinho da direita e til com mindinho da esquerda, puta combinação chata. No meu caso eu configurei pra ser no layer de baixo então só aperto backspace com o dedão pra ativar o layer e F que é onde configurei pra ser o til. Essa é uma combinação bem mais próxima e sem malabarismo, com dois dedos fortes, o dedão e o indicador. E no caso de acentos eu recomendo que se experimente diversas combinações pra achar o que mais se adequa pra você.

No meu caso, no layer de cima é onde estão coisas como as teclas de função de F1 a F12 aqui no bloco do lado esquerdo. Eu quase nunca uso essas teclas, mas tá lá se precisar. E no lado direito tem uma curiosidade que ainda não me acostumei. Em vez de tirar a mão do teclado e pegar o mouse, pra coisas pequenas como clicar num campo num formulário de um site pra dar foco, eu posso controlar o cursor do mouse via o teclado. Olha só. Eu ativo o layer de cima e com essas teclas de baixo na direita mexo o cursor e posso até clicar com equivalente do botão direito ou esquerdo do mouse. A idéia não é substituir o mouse, mas só evitar precisar dele pra coisas pequenas e rápidas.

Enfim, eu já reconfigurei esses layouts literalmente dúzias de vezes. Toda vez que vou digitar um texto novo percebo alguma coisa que quero mudar de lugar. Depende muito do tipo de coisa que mais digita. Lembra o que eu falei sobre layouts como colemak, workman e afins? Diferente de inglês, português usa muita acentuação, é um grande saco, e nenhum desses layouts leva isso em consideração. Os acentos que a gente mais precisa ficam espalhados por todo o teclado. E com teclados como o Planck posso configurar onde Eu acho mais confortável.

Aliás, o Oryx não é o único software que existe. Cada fabricante costuma ter o seu, precisa pesquisar, mas em particular dê preferência pra teclados que aceitam firmwares QMK, que é um projeto de código aberto pra ser o cérebro de teclados customizáveis. O próprio software Oryx na realidade é o QMK com uma cara mais bonita que a ZFA fez pra ela. Uma das grandes vantagens é que toda essa configuração não fica só no seu computador. Deixa eu mostrar.

Toda vez que modifico alguma coisa, ele compila e me dá opção de baixar um arquivo binário. Daí eu abro esse aplicativo de Windows chamado Wally e seleciono o binário que acabei de baixar. Olhem como tem vários do planck porque eu tava brincando bastante com ele. Daí pede pra colocar o teclado num modo que aceite o upload desse binário, que é apertando um botãozinho com uma agulha. Demora alguns segundos, restarta o teclado e pronto, tá com a nova configuração. E toda vez que mudar qualquer coisa precisa fazer esse processo de novo.

A grande vantagem é que agora posso plugar esse teclado em qualquer outro computador e todas as minhas customizações vão funcionar igual, sem precisar instalar nada extra. Fica tudo na memória do teclado. Marcas grandes como Razer tem software 100% proprietário como o Synapse, que costuma dar mais prioridade em mudar o RGB do que realmente customizar o teclado e foi o motivo de porque eu disse que minha experiência com o Hunstman Mini foi horrorosa. Porque não podia mudar quase nenhuma tecla. E um teclado 40% que não deixa customizar tudo, não serve pra nada. Portanto fiquem espertos com compatibilidade com QMK, isso é o mais importante.

Agora, mesmo customizando tudo que quiser, mesmo assim você não vai conseguir sair digitando rápido no mesmo dia. De jeito nenhum. Mesmo se já é um bom digitador num teclado normal, se já consegue uma média de 80 palavras por minuto, tenha certeza que no dia 1 sua média vai cair pra 20 palavras por minuto ou menos. Ou seja, sua velocidade male male vai ser 25% do que era antes. E isso vai ser extremamente frustrante, porque 20 palavras por minuto é a velocidade de alguém catando milho. Velocidade de ficar olhando e procurando a tecla.

E não tem jeito, seu corpo se acostuma com tudo que você faz repetidas vezes, inclusive as coisas erradas. Por isso é tão difícil quebrar um mau hábito. E mesmo sendo ruim digitar com teclas desalinhadas, sua memória muscular tá acostumado a lidar com esse problema. Ele naturalmente digita errado, naturalmente seu dedinho vai pro backspace e você naturalmente fica nessa rotina de, digita errado, apaga, conserta, digita errado, apaga, conserta. Você faz sem pensar. Mas colocando um teclado 40% e ortolinear ainda por cima, a região consciente do seu cérebro certamente não tem como ignorar. Ele vai ter que voltar pro zero.

Voltar do zero significa abrir um notepad e começar a reacostumar dedo a dedo. Faz de conta que você tava acostumado a digitar a letra C com o indicador esquerdo. Então coloca as mãos na posição neutra e começa a digitar a tecla C com o dedo médio quinhentas vezes no notepad, até parecer que seu dedo médio acostumou que é Ele que vai no C. E vai fazendo isso letra a letra.

Quando terminar de se familiarizar com o teclado, agora precisa de treino intensivo e pra isso servem sites como o keybr.com. Lembrando que vai ser extremamente frustrante mas você precisa ignorar a frustração e prestar atenção. Qual dedo tá tendo mais dificuldade em qual letra? Seu mau hábito tá levando o dedo pra tecla errada? Então volta pro notepad e fica treinando só esse letra, até marretar no seu cérebro que é o outro dedo que tem que ir nessa tecla. Volta pro keybr, faz algumas rodadas de palavras com as letras que tá errando. Recalibra outro dedo errado no notepad, e vai fazendo isso, dedo a dedo. Seu dedo não pode mandar em você, precisa subjugar esses dedos rebeldes.

Lembra bigramas? Além de digitar as teclas com o dedo errado, tem diversas combinações que naturalmente digitamos mais rápido. Acho que isso varia de pessoa pra pessoa, mas por exemplo uma palavra como "palavra", no meu caso o "pala" eu digito muito rápido, é o mindinho da direita, depois o mindinho da esquerda, daí o anelar da direita e de novo o mindinho da esquerda. Como alterna direita e esquerda, elas saem quase ao mesmo tempo. Se você digita com dedos errados, tá acostumado a combinações rápidas que agora vão sair devagar, e até reacostumar, vai ser a parte mais frustrante de reaprender, na minha opinião.

Imagino que foi intencional, mas por isso eu acho interessante não treinar no começo com palavras que tá acostumado. Olha como os testes de prática do Keybr são palavras nada a ver. Isso força seu cérebro a desistir da memória muscular, porque nenhuma palavra tem o ritmo que você espera, e aí precisa prestar mais atenção no que tá digitando em vez de confiar na memória. Esse é um bom jeito de começar a forçar a digitar da forma correta, tirando completamente da zona de conforto.

E quanto tempo precisa pra acostumar? De novo, isso não é científico porque é a experiência de uma única pessoa que sou eu mesmo. Se olhar no meu perfil no keybr, eu treinei um total de 4 horas, quase 500 testes de prática como esses que mostrei. Imagino que a maioria das pessoas não tem paciência pra ficar catando milho e se frustrando por mais que meia hora por dia, então chuto que vai levar mais de uma semana tentando, no mínimo, porque picado assim vai levar mais tempo no total. E não adianta, tem que ser um treino deliberado como falei, prestando atenção dedo a dedo e retreinando letra a letra. Não adianta querer sair digitando de qualquer jeito que aí sua memória muscular vai forçar os dedos errados nos lugares errados.

Eu sou meio retardado, e já tinha ouvido falar que podia levar 2 semanas ou mais de treino e eu tava com zero paciência pra esperar tanto. Então, essas 4 horas foram ao longo de 2 dias num fim de semana. E na realidade foi mais de 4 horas. Depois das primeiras horas no keybr decidi tentar palavras de verdade em outro site, no Monkeytype. E lá gastei mais 2 horas de treino e uns 300 exercícios. No total foram pelo menos umas 3 horas num sábado e mais 3 horas no domingo, total de quase 800 exercícios. Na verdade acho que foi mais porque eu só fiz conta no keybr bem depois que comecei a treinar.

Nas primeiras horas eu tava catando milho, no máximo 20 palavras por minuto. Mas é incrível o que treino deliberado prestando atenção no tempo, na métrica e disciplinadamente indo dedo a dedo fazem. No final dessas 6 horas já tinha voltado pra minha média de 80 palavras por minuto, e forçando um pouco mais já tava conseguindo ficar no range entre 90 e 100 palavras por minuto que era minha velocidade em teclados normais antes. Hoje em dia facilmente atinjo 90 palavras por minuto se estiver focado. Então a boa notícia é que se você for do tipo dedicado e focado, dá pra acostumar no layout ortolinear de boa em um único fim de semana, sem nem precisar se matar tanto assim.

Considere o seguinte, eu digito no estilo qwerty com teclas desalinhadas faz mais de 30 anos, e tinha alguns poucos maus hábitos de dedos em teclas erradas. 6 horas intensivas num fim de semana foi o suficiente pra corrigir meus maus hábitos e acostumar num alinhamento novo, o suficiente pra segunda-feira estar respondendo emails, conversando com o pessoal da empresa no chat e ninguém notando diferença na minha velocidade. Lembra meu episódio de a Dor de Aprender? Foi tipo isso.

Eu diria o seguinte. Os melhores digitadores conseguem fazer acima de 150 palavras por minuto se estiverem completamente focados. É muito difícil conseguir isso. O meu máximo, com 30 anos de digitação nas costas, é 100 palavras por minuto, mas isso se estou num site como monkeytype ou keybr: em condições perfeitas, foco completo, sem acentuação, sem pontuação, sem palavras em maiúsculo, ou seja, condições de laboratório.

Aliás, eu facilmente chego acima de 90 palavras por minuto se forem palavras em português. Uma coisa legal do Monkeytype é que dá pra escolher dicionários em várias línguas. No caso de inglês dá pra escolher dicionário de palavras fáceis e ir escolhendo de palavras bem mais complicadas pra dificultar o treino. Em inglês minha média cai pra casa dos 70 a 80 palavras por minuto. Por alguma razão eu digito bem mais rápido em português sem acentos. E um chute que eu tenho é que em inglês eu noto que uso mais igualmente as duas mâos, mas em português parece que eu uso bem menos a mão esquerda. Minha mão direita é um pouco mais devagar, daí em inglês vou mais lento que português. A velocidade não é a mesma em qualquer língua.

No dia a dia, eu devo estar muito mais próximo da média de 60 palavras por minuto. Até menos. Isso porque quando digito um texto, eu páro pra pensar, mudo de idéia, reescrevo de um jeito mais bonito ou menos agressivo. Ninguém fica digitando 100 palavras por minuto o tempo todo, só em ambiente controlado. Então eu diria que mais que digitar rápido, é mais importante digitar corretamente, cometendo menos erros. Erros é o que atrapalha seu raciocínio, porque quebra sua concentração ter que ficar dando um monte de backspace toda hora.

E falando em digitar muito rápido, um tanto de gente ficou me mandando um video que eu já tinha visto também no TikTok de um teclado diferente onde o cara consegue digitar 200 ou 300 palavras por minuto. É o Charachorder. Parecem duas bolas com botões pendurados. Vou resumir pra vocês: primeiro, esse teclado não presta pra gente. Segundo, essa idéia não é nenhuma novidade. Existe faz décadas.

Só existe uma profissão onde digitar extremamente rápido e sem erros é fundamental. Se você for um estenógrafo. Sabe séries de TV que tem julgamentos, tipo Suits da vida? Sempre tem aquela pessoa quieta que fica transcrevendo tudo que todo mundo fala no julgamento. Já pararam pra pensar como fazem isso? Pra conseguir transcrever uma pessoa falando em tempo real de fato você precisa ter velocidade consistente acima de 150 palavras por minuto, durante todas as horas que pode durar um julgamento. Digitar 100 já exige todo meu foco, imagina 150 ou 200 palavras por minuto durante um dia inteiro de 8 horas.

Num teclado normal isso é impossível. Com todos os defeitos legados que herdamos da máquina de escrever, não tem como. Nem se eu treinar muito no meu ortolinear, também é impossível. Eu preciso juntar meu teclado com um software que pensa junto comigo. É uma combinação de macros e autocomplete, que nem o teclado do seu smartphone faz sugerindo palavras antes de terminar de digitar. Palavras super longas eu abrevio pra uma combinação de poucas letras num macro, que nem snippets de código num VSCode. Os teclados especializados de estenografia oficiais custam super caros, até 6 mil dólares. Isso porque eles são essencialmente computadores com dicionários caros.

Esse cara do CharaChorder acho que vende o teclado diferentão e também tem opção só do software pra usar com um teclado normal. Ele usa características de teclados modernos como n-key rollover, que já expliquei no outro video que é digitar várias teclas de uma só vez e o sistema conseguir registrar todas elas. Ele faz isso. É semelhante à função de swipe de teclado virtual que a gente só desliza o dedo em cima das teclas e ele adivinha que palavra que a gente queria digitar.

Se quiser estudar mais sobre como se faz isso, hoje em dia tem machine learning envolvido porque é um processo estatístico que aprende baseado em frequência de palavras e n-grams. Mas precisa entender o que são cadeias de Markov e processo estocástico. Lembra quando povo fala que aprender matemática é opcional? Pois é, sem entender cadeias de markov, você nunca vai conseguir fazer coisas como um teclado virtual.

Mas esquece esse cara do CharaChorder. Nada do que ele tá vendendo é novidade. Você também não precisa gastar milhares de dólares e fazer curso oficial de estenografia. Teclado de estenografia tem só duas linhas principais de teclas em vez de três. Dá pra ou comprar um kit barato ou configurar seu teclado normal. Existe um projeto de código aberto chamado Open Steno que tem os softwares, documentação que ensina como usar, e uma comunidade de entusiastas que querem aprender a digitar tão rápido quanto um estenógrafo de verdade. Existe todo um campo de pesquisa e engenharia em cima disso. Isso existe faz décadas.

E de novo, esses sistemas funcionam bem quando tá tudo configurado de um jeito bem diferente do que seu teclado se comporta. Um estenógrafo que transcreve casos nos Estados Unidos tem configurado um bom dicionário em inglês. Se precisasse transcrever um brasileiro falando, ele ia ter problemas. Precisa de um dicionário em português, reconfigurar todos os macros, e retreinar tudo pra uma língua nova. Agora imagina programação, que todo código tem um monte de palavras que simplesmente não existem num dicionário, com um monte de parênteses, chaves e coisas que não se usa num texto normal. Daí esse tipo de teclado vai mais atrapalhar do que ajudar. Por isso eu falei, pra gente é meio inútil. Só serve se você quiser ser um estenógrafo ou se exibir em video no TikTok.

Digitar rápido não é o objetivo. Ninguém vai ganhar nada digitando 300 palavras por minuto. Você nem tem tudo isso de palavras prontas na cabeça pra digitar um texto ou código que faça sentido. Porra, a maioria das pessoas consegue digitar merda em 200 letras num tweet. Magina escrevendo 300 palavras por minuto o tanto de lixo sem sentido que vai sair. Foque em escrever correto e não em escrever rápido. O objetivo é não forçar seus nervos e evitar dores desnecessárias.

O Planck EZ não é o único nesse formato. Tem outros como o OLKB Planck da Drop, que antes era Massdrop. É exatamente o mesmo layout. No momento que eu tava escrevendo o episódio eles tavam sem estoque. Mas tem outros fabricantes menores e entusiastas que fazem kits de teclados nesse e outros formatos mais exóticos, vale dar uma pesquisada. Não são baratos. Pode esperar gastar 200 dólares, sem contar frete e impostos.

Mas o título do episódio é pra falar do melhor teclado do mundo, e esse ainda não é o Planck. Da mesma empresa ZFA já tinha um que muita gente elogiou que é o Ergodox e depois dele, a ZFA pegou os feedbacks e fizeram um melhor ainda, que é o Moonlander MK1. E se prestou atenção em tudo que expliquei agora, falta só voltar pra um ponto que falei lá no começo do video: melhorar a ergonomia.

O Planck é muito bom pra quem precisa carregar o teclado na mochila. Literalmente cabendo num case de Switch, sabemos que é super portátil. Mas se você trabalha remoto, e só precisa de um teclado, dá pra optar por um melhor. E esse é o Moonlander. A principal diferença é ele ser dividido no meio. Ele até foi feito pra ser razoavelmente portátil, embora eu não ache que esse é o objetivo. Vamos recapitular sobre postura.

Você quer sempre colocar o menor stress possível no seu ombro e nos seus braços, por isso tente sentar de tal maneira que seus ombros não fiquem assim tensionados pra cima. Eles tem que estar naturalmente pra baixo. Altura errada de mesa e cadeira que prejudicam isso. Além disso vocês já devem ter ouvido falar que quando usamos um teclado normal, rotacionamos, ou pronamos os braços de tal forma que arriscamos estar beliscando os nervos quando as mãos estão retas na horizontal. A posição natural seria o mais vertical possível.

É isso que muitos teclados ergonômicos fazem, sendo mais altos no meio, a tal forma de tenda, pra aliviar essa pronação forçada. Todo mundo que já usou um teclado ergonômico da Microsoft ou Logitech já viu formatos assim. Além disso, outra coisa que pode forçar seus ombros e pescoço é trazer as duas mãos pra junto, em vez disso seria mais natural estarem separadas. E são esses problemas que um teclado split, cortado no meio, tenta ajudar a resolver. Olha como eu deixo esse Moonlander na minha mesa. Sim, agora minhas mãos ficam quase meio metro separadas uma das outras. E sim, digitar corretamente é pré-requisito, porque se um dos seus maus hábitos é digitar alguma tecla do lado esquerdo com sua mão direita, agora não tem como.

Diferente do Planck, o Moonlander não é minimalista. Ele tem mais ou menos o equivalente a um teclado 60%. Não tem as teclas de função lá em cima e nem as teclas de setas. Por outro lado adiciona várias teclas auxiliares ao redor que podemos customizar como quisermos no mesmo software Oryx que mostrei antes. Em particular tem esses thumb clusters, ou grupos de teclas por dedões. Lembra quando falei que nossos dedões podiam ter mais trabalho? Pois é, agora podemos dar trabalho pra ele, se quiser cada dedão tem quatro teclas dedicadas de cada lado.

Igual no caso do Planck, eu ainda fico modificando o layout pra achar alguma combinação de teclas que acho mais confortável. E ele também tem diversas camadas que podemos configurar. No caso do Moonlander, posso criar quantas camadas quiser. Isso é útil se por exemplo eu uso Photoshop, DaVinci Resolve, Blender e quiser fazer camadas especiais pra cada programa. E assim como no caso do Planck, eu deixo coisas como enter e backspace nos dedões.

Diferente do Planck, que é ortolinear, ou seja, é alinhado tanto na horizontal quanto na vertical simetricamente, o Moonlander é colunar. A diferença é ser alinhado na vertical, mas não na horizontal e isso é a última forma de quebrar o legado das máquinas de escrever. Não só nunca fez sentido desalinhar as teclas na vertical, mas também não existe motivo nenhum pra serem alinhadas na horizontal. Pára e pensa, olha pras suas mãos. Seus dedos tem o mesmo comprimento? Então porque as teclas ficam alinhadas na horizontal?

Alinhamento na horizontal significa que seu indicador e principalmente dedo médio ficam o dia todo muito dobrados, e também significa que seus mindinhos precisam esticar pra alcançar os cantos. Se você tiver mãos grandes, seus dedos vão dobrar mais. Se tiver mãos pequenas, seus mindinhos não alcançam os cantos. Em ambos os casos vai estar fazendo esforço extra desnecessário. Mas e se simplesmente alinharmos as colunas de teclas de acordo com o comprimento dos dedos?

Eu entendi ortolinear e me convenci da teoria, mas vou dizer que estava um pouco cético do desalinhamento horizontal do colunar. Mas posso dizer que funcionou super bem. O único porém é que não é muito trivial saber como de fato usar esse alinhamento. Eu mesmo pensei que as duas metades deveriam ficar paralelas com meu braço, mas não, o certo é elas estarem levemente rotacionadas e abertas. Eu vi isso em outro canal que recomendo de teclados do Ben Vallack que vou deixar na descrição abaixo.

Em resumo, se deixar da forma paralela, mesmo as colunas levando em consideração o comprimento dos dedos, ainda assim o indicador tem espaço sobrando e os mindinhos precisam esticar demais. Mas inclinando dessa outra forma, olha como fica mais fácil pros mindinhos trabalharem. E essa é a melhor forma de digitar com o Moonlander. O trabalho é mais decidir quais configurações colocar em quais camadas e como ativar cada camada do jeito mais fácil e isso vai depender só do seu treinamento. Minha configuração serve só pra mim. Tem até algumas combinações como control + shift + colchete que precisa pra editar no DaVinci Resolve, e agora fica fácil porque posso juntar tudo numa tecla só e facilita horrores pra editar.

Essa idéia de considerar o comprimento dos dedos não é nova. Eu já tinha visto outras opções como o Kinesis Advantage 2. Ele também é ortolinear, mas em vez de desalinhar horizontalmente, ele foi além e colocou as teclas todas numa cuba, como dá pra ver nessa imagem, porque é até difícil de descrever em palavras. E agora que aprendi a digitar com ortolinear, consigo entender porque esse teclado funciona bem. Talvez um dia experimente, mas tem uma coisa que não gosto dele, o fato de ser gigantesco e de não poder colocar as duas metades separadas como quiser. Mas eu sei que tem projetos pra impressora 3D e kits inspirados nesse formato que tentam melhorar esses pontos, vale pesquisar.

Se você leva a sério a história de ergonomia, tanto o Moonlander quanto o Advantage 2 cumprem mais ou menos as mesmas coisas que expliquei em termos de evitar pronar o braço e dar menos stress nos ombros, mas em termos de estética ainda prefiro mil vezes o Moonlander. Mais ainda porque se você realmente quiser levar pras últimas consequências, embaixo de cada metade do Moonlander tem um encaixe pra um acessório que faz ele ter o mesmo encaixe padrão do parafuso que tem em tripé de câmera fotográfica. E a ZFA tem um acessório que encaixa nele e você pode fazer um adaptador pra colocar no braço da sua cadeira.

Sim, o teclado sequer precisa ficar na mesa. Dá pra encaixar cada metade em cada braço da cadeira pra posição mais bizarra de todos os tempos e vou dizer que agora que aprendi a digitar corretamente em cada metade, essa idéia até que me atrai. Sem contar que daria pra colocar num tripé de cada lado pra poder digitar de pé em mesas que levantam em altura. Tem muitas possibilidades.

E falando em possibilidades e no canal do Ben Vallack, como último assunto não podia deixar de falar de uma versão de teclado que estou querendo testar. Pois bem, os homo ludens chegaram no layout 40%, mas essa ainda não é a última forma. Lembrem, o objetivo é evitar ao máximo tirar os dedos da linha do meio e no máximo mover uma tecla pra cima ou pra baixo, mas ainda tem muita tecla no Moonlander.

Graças às novas funcionalidaes de firmwares de código aberto como o QMK e de aumentar a densidade de funções que uma única tecla pode ter, chegamos no ponto que podemos remover ainda mais teclas. E o Ben e diversos outros entusiastas falam agora no layout de meras 34 teclas. Seria um layout 33%, que é o menor que podemos chegar. Dá pra colocar tudo em camadas e combinações de teclas. Recomendo dar uma olhada na série de videos onde ele faz experimentações com diversas configurações até chegar nesse modelo. É fascinante ver qual é o limite dos teclados. O Ben começou tirando teclas do Moonlander e configurando no Oryx pra não usar essas teclas e foi testando pra ver até onde dava pra ir. E disso projetou um teclado próprio de só 34 teclas que ele vai mostrando no canal.

E quem quiser uma versão um pouco mais extrema que o Moonlander e um pouco menos extrema que o do Ben, tem esse GergoPlex, que é até barato por 45 dólares. Bem mais acessível que os 200 do Planck ou os mais de 360 dólares do Moonlander. E além dele tem diversos outros kits. Hoje em dia povo projeta e faz impressão 3D e até os PCBs que são as placas lógicas dá pra fazer o projeto e só mandar imprimir em serviços como no JLCPCB.com. É o sonho de todo engenheiro elétrico. A comunidade de teclados abaixo de 40% tá mandando ver em opções acessíveis e com firmwares de código aberto como o QMK, só tende a aumentar as opções.

E realmente é prático? Dá pra aprender a usar um Planck ou Moonlander e digitar coisas de verdade? Bom, este episódio foi digitado metade no Moonlander e metade no Planck. A parte chata é que algumas combinações de teclas são diferentes nos dois e leva alguns minutos pra eu lembrar qual era qual. Mas agora digito melhor e com menos erros e na mesma velocidade de antes. Lembra o último episódio do tutorial de WSL2 que falei que deu umas 40 páginas de Word? Também inteiro escrito com o Moonlander. E na realidade os últimos 4 episódios foram escritos totalmente com o Moonlander. Eu gostei tanto que já comprei mais um pra colocar no escritório o dia que voltarmos da pandemia.

E agora sim, eu acho que finalmente falei tudo que queria falar sobre teclados. Acabou se tornando um hobby experimentar tudo que sai de novo e essa comunidade de entusiastas tá o tempo todo procurando maneiras mais eficientes de digitar. Só nesse canal, que tem mais de 100 episódios, se der uma média de 20 páginas por episódio, já soma mais de 2 mil páginas. Quase 2 livros do Cormem de algoritmos ou quase os 3 primeiros volumes de livros do Knuth. Mas lembrem-se que a escolha de qual teclado e qual layout usar depende dos seus objetivos pessoais. Se você não sente que precisa mudar nada, não tem nenhum problema. Nenhum teclado vai fazer você fica magicamente melhor. Se ficaram com dúvidas, mandem nos comentários abaixo. Se curtiram o video deixem um joinha, assinem o canal e compartilhem o video com seus amigos. A gente se vê na próxima, até mais.

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