[Akitando #79] Teclados Mecânicos Exóticos | Minha coleção - Parte 2

2020 May 12, 17:55 h

DESCRICÃO

Continuando sobre minha coleção de teclados mecânicos, agora quero mostrar alguns dos meus ítens mais exóticos. Mais do que isso vou falar sobre ergonomia e ainda quero aproveitar o gancho pra contar uma história sobre UNIX e Linux que muitos nem sabem ainda!

Mas pra quem estava esperando por isso também vou mostrar o que eu elegi como melhor custo-benefício. Assistam até o final!

De novo, como o video tem muitos itens diferentes, vou deixar um bookmark das seções pra ficar fácil voltar depois:

Links:

Pra Aprender a digitar certo:

SCRIPT

Olá pessoal, Fabio Akita

No episódio anterior eu comecei explicando o que é essa história de teclados mecânicos e mostrei metade da minha coleção pessoal. Não precisa ter assistido a parte 1 pra entender o video de hoje mas seria bacana se visse depois pelo menos. Hoje eu vou terminar o assunto com os exemplos mais interessantes de teclados e na segunda metade vou usar de gancho pra ensinar algumas coisas básicas de programação que eu sei que até mesmo alguns programadores que se dizem com experiência desconhecem.

(...)

No episódio anterior eu falei mais de teclados de notebooks, modelos de marcas comerciais reconhecidas como Corsair, Cooler Master, Razer e Logitech. Daí mostrei dois exemplos de marcas mais de nicho como Matias e RealForce. Essa categoria tem marcas mais de nicho, normalmente voltada pra entusiastas mesmo. E de novo repito a recomendação que fiz no video anterior de visitar canais que falam sobre esse tipo de teclado em mais detalhes como o canal do Random FrankP ou Tae Keyboards.

Duas marcas que eu ainda não tenho são a Anne e Ducky, tanto o Anne Pro 2 ou o Ducky One 2 Mini tem recebido excelentes reviews mas eles não são baratos, na faixa dos 100 dólares que é parecido com a faixa da Corsair ou Cooler Master. Porém você necessariamente vai precisar importar, diferente de uma Corsair que você acha um pouco mais fácil no Brasil.

Na categoria abaixo de 100 dólares eu acho bem mais difícil achar teclados bem construídos, mas existem, e um excelente exemplo é a Keychron. Eu mencionei o modelo K1 low profile que compete com o Cooler Master SK630. Mas eu atual favorito em termos de custo-benefício é o modelo K2.

O K2 da Keychron que eu tenho é um 75%, mas o layout dele é muito melhor que o do Matias que eu mostrei no video anterior porque ele tem teclas individuais pra page up, page down, home e end numa linha vertical, além das teclas de setas que estão bem posicionadas. Além disso os keycaps são PBT doubleshot de excelente qualidade. O chassi também é todo de metal e tem zero problema de torção ou afundar no meio. A construção inteira é uma das mais sólidas e rígidas. A única pequena reclamação é que ele é um pouco mais alto que todos os outros que mostrei até agora, incluindo o Matias e o RealForce que já são um pouco mais altos que o normal.

Por isso se você comprar eu recomendo que adicione um palm rest pra apoiar os pulsos. Eu comprei o de madeira da própria Keychron mas qualquer outro serve. Os da Razer são bem confortáveis por exemplo. Vale lembrar que o jeito certo de digitar é sempre com as mãos flutuando um pouco acima do teclado. De preferência evitar que o pulso fique apoiado na mesa pra evitar dores.

De qualquer forma, o custo benefício desse teclado é excepcional. A versão mais básica e que tem até backlight branco custa 70 dólares e lógico, isso sem contar frete. Além disso é importado e todo eletrônico que vem de fora sempre vai estar sujeito a cair em tributação, e todos sabemos que a porcaria das taxas aqui vão de 60% até 100% de imposto, o que é uma estupidez.

A versão que eu tenho custou 90 dólares porque tem backlight RGB com o frame de aluminío, então não sei dizer se a versão que não é de alumínio é tão sólida quando esta, mas vamos ouvir um pouco pra vocês terem uma noção, e comparar com o Corsair de 100 dólares que é o mais próximo em preço.

(keychron comparado corsair)

Não sei se conseguem notar a diferença da qualidade de som de um e de outro. É subjetivo, mas eu realmente prefiro bem mais o som mais sólido e assertivo do Keychron do que o som mais barato do Corsair. Os switches são Gateron Red. A Gateron é uma que faz clones de Cherry. Em termos de especificação é praticamente um Cherry MX Red então é um switch linear. Diferente de switches proprietários como da Razer e Logitech significa que você pode encaixar keycaps compatíveis com Cherry nesse teclado, como aqueles da Corsair que eu mostrei mais no começo.

Outra coisa é que este Keychron é um dos únicos teclados wireless que eu tenho. Dizem que ele tem uma das maiores baterias de todos, de 4000 miliamperes, o que justifica ele ser tão mais alto que os outros. Eu mesmo não uso em modo wireless porque ele fica na minha mesa em casa e eu ligo num desktop então pra mim realmente tanto faz ser wireless. Mas pra quem carrega entre casa e escritório ou viaja bastante, esse é sem dúvida um dos mais portáteis sem comprometer usabilidade.

Falando em switches compatíveis com Cherry, outro exemplo é a empresa Kaihua que faz os switches Kailh e eu queria testar o Kailh Silver linear deles que é parecido com o Cherry Speed Silver, por isso algum tempo atrás eu comprei o Massdrop Ctrl depois que vi no canal do Dave Lee, vale conferir o video dele.

Em termos de estética este é sem dúvida o teclado que eu acho mais bonito. Vocês vão notar que o frame inteiro dele é de alumínio, com uma camada no meio de leds RGB. E como os switches ficam expostos o led reflete no alumínio. Aliás, a Massdrop é uma das poucas marcas que produzem teclados de alta qualidade e onde você consegue trocar os switches sem precisar desmontar nem soldar nada. Como eu disse, eu escolhi o meu com switches Kail Silver e, de fato, em termos de velocidade ele se compara com o Razer Yellow ou o Romer G linear que mostrei antes. Vale a pena ouvir um pouco ele comparado com o Blackwidow por exemplo.

(comparação ctrl - blackwidow yellow)

Como eu já expliquei o barulho total não vem só do switch, depende muito da qualidade do keycap, da construção do chassi, se o switch fica exposto ou não. É muito difícil determinar como vai ser o barulho final sem testar um do lado do outro mas esse é um dos menos barulhentos que eu tenho, menos ainda que o Keychron, mais próximo do Blackwidow.

Mas diferente do Blackwidow, apesar de teoricamente a força de acionamento ser os mesmos 45 gramas, não sei se os keycaps são mais densos, mas me dá impressão desse Drop Ctrl ser um pouquinho mais pesado pra acionar. Ou seja, apesar dos switches terem praticamente as mesmas especificações de força de acionamento e key travel, a diferença na construção muda bastante a sensação quando digita. Minha tese é a textura dos keycaps da Massdrop serem um pouco mais ásperas, o que dá sensação que "segura" mais o dedo na hora de digitar se comparado com os da Razer que são um pouco mais lisas.

Por outro lado, assim como os switches da Gateron, os da Kaihua também são clones de Cherry e por isso eu poderia trocar os keycaps por qualquer outro kit que seja compatível com Cherry, o que pode ser interessante se eu quiser mudar a aparência no futuro. Porém, é difícil recomendar este teclado porque o preço de saída dele é 200 dólares, sem contar frete nem imposto. É um dos teclados mais caros que eu tenho e muito disso é a escolha de materiais e engenharia que de fato são excelentes. É basicamente um bloco gigante de alumínio, tipo um macbook.

Se tem uma coisa que me incomodou é que ele não tem pernas atrás como os outros pra controlar a altura. Em vez disso ele veio com duas peças magnéticas que grudam atrás. Só que como é magnético não é difícil perder essas peças e adivinhem, eu perdi transportando e nunca mais achei. Na prática, você paga um premium por ser bonitão, mas por preço realmente não compensa porque por 50 dólares a menos que isso você compra um Blackwidow Chroma V2 que tem basicamente a mesma performance e solidez. 200 dólares é um valor compatível com os materiais desse teclado, o custo benefício não compensa a menos que você seja um entusiasta como eu.

Antes de continuar, vale e pena uma tangente pra falar sobre teclados ergonômicos e talvez um mínimo de ergonomia. Pra variar, valem os famosos disclaimers: eu não sou especialista em ergonomia mas falando de anos e anos digitando nos mais variados ambientes, o maior problema que eu sempre encontrei não foram tanto teclados e sim uma combinação de cadeira e mesa que permita que eu sente ereto, com os pés encostados no chão e que eu consiga ficar com os braços verticais pra baixo e os antebraços em 90 graus, sem forçar os ombros pra cima que é o que normalmente resulta em parte das dores no pescoço.

Eu tenho 1 e 72 de altura, meu peso médio é 76 a 77kg. Pra mim uma mesa comum de escritório que costuma ter 75 centimetros é alto demais. Pra ficar na posição correta eu sou obrigado a usar uma cadeira que levanta, mas aí meus pés não alcançam direito o chão, e depois de meses usando um apoio vou dizer que isso incomoda. Monitor eu coloco alguma coisa embaixo pra que eu consiga olhar reto pra frente sem inclinar a cabeça nem pra baixo demais nem pra cima demais.

Por isso aqui pra minha casa eu comprei esta mesa Genius Desk, que fabrica e entrega no Brasil aliás. Uma das funcionalidades é que eu posso trabalhar de pé também pra não ficar sentado o dia inteiro. Daí eu subo a mesa pra ficar com 1 metro de 4 centímetros e fica perfeito pra eu trabalhar de pé na postura certa das costas e dos braços. Só que ela é hiper cara e se o objetivo for só trabalhar de pé eu recomendo procurar por suportes articulados pra notebook que você facilmente encontra no mercado livre na faixa dos 200 reais.

Mas mais importante que isso é que essa mesa também ajusta até o mínimo de 66 centímetros que é a altura ideal pra eu sentar numa cadeira com os pés alcançando firmes no chão e manter minha postura correta como eu expliquei antes. A recomendação pra quem está sentindo problemas como tendinite, dor nas costas, nos ombros ou qualquer coisa assim não é trocar teclado, primeiro é ajustar altura da cadeira e mesa pra ficar na postura correta, depois procurar teclados especiais.

Com tudo isso ajustado o outro problema que causa dor é digitar errado. Se você for do tipo que a gente falava antigamente que cata milho pra digitar, ou seja, que não consegue digitar com todos os dedos das mãos, significa que seu braço precisa se movimentar muito mais por todo o teclado pra alcançar as teclas só com o dedo indicador e dedo médio. Antes de botar a culpa no teclado eu recomendo pegar aulas online e se exercitar digitando dúzias e dúzias de textos usando os dedos nas posições corretas. Eu mesmo não vou dizer que digito perfeitamente, o meu dedo mindinho e anelar da direita até hoje eu uso mal.

Outra coisa é que digitar em português é sempre mais devagar que digitar em inglês porque temos que ficar buscando acentos o tempo todo. Eu me acostumei a usar o formato americano US international. Eu detesto o formato ABNT2 não só por que tem a tecla de cedilha onde eu normalmente encontro o ponto e virgula mas porque diversas outras teclas mudam de lugar, em particular isso incomoda pra programar porque colchetes, sinais de maior e menor, backtick, barra invertida, tudo muda de lugar. Aqui meio que independente qual você vai escolher contanto que fique só com um layout.

Ficar mudando derruba a produtividade. Tudo que é importado vai ser formado americano, e se comprar fabricados no Brasil vai acabar sendo ABNT2. E falando em layout eu já disse no video anterior que tentar aprender Dvorak ou Colemak com objetivo de ser mais veloz eu acho que não compensa. E se o outro motivo for pra evitar dores, eu também acho que faz pouca ou nenhuma diferença. O que faz diferença é digitar errado e postura errada, independente do layout.

Se você já consertou tudo, mas digita muito rápido corretamente e tem tendinite, temos os teclados ergonômicos que talvez ajudem. Até onde eu sei não existe um consenso de qual é o melhor estilo mas em princípio você quer evitar mexer seu pulso o máximo possível. O problema é que todo teclado é totalmente horizontal, só que suas mãos não ficam naturalmente na horizontal. Você precisa girar os pulsos. Além disso você precisa trazer as duas mãos mais pra perto uma da outra, mas teoricamente o natural seria elas estarem mais separadas. Quanto maior você for mais isso é verdade.

Por isso a maioria dos teclados considerados ergonômicos primeiro não vão ser horizontais e sim inclinados de tal forma que você não precise girar os pulsos, mantendo o centro do teclado mais pro alto e as extremidades laterais pra baixo. Além disso eles vão dividir o teclado em duas partes e separar de tal forma que você não precisa aproximar tanto suas mãos. Tudo pra forçar menos tanto o pulso quanto todas as articulações do seu braço até os ombros. Muita gente ignora, mas sempre note se você está fazendo força com os ombros, isso causa dor.

Nessa categoria você encontra teclados como o Microsoft Sculpt ou similares da própria Microsoft como o Natural Ergonomic ou Surface Ergonomic, alguns mais genéricos como os da Logitech e algumas mais famosos hoje em dia como os da Kinesis, onde você tem tanto o monstruoso Advantage2 ou o Freestyle.

O principal problema que a maioria das pessoas vai ter com teclados desses eu diria que é até um ponto positivo, na real, porque você vai ser obrigado a aprender a digitar corretamente. Porque não tem como você digitar teclas que seria da mão esquerda com a a mão direita ou vice versa porque agora tem um espaço bem maior entre as duas metades.

Mas pra mim o problema era outro. Primeiro porque eu sempre achei teclados ergonômicos feios e com materiais de baixa qualidade. Isso felizmente mudou porque um Microsoft Sculpt é bem construído e até fico com vontade de experimentar. Segundo porque a maioria era full-size, ou seja, tinha teclado numérico e aí meu problema era dor no braço por usar o mouse tão afastado pra direita. De novo, o Sculpt é 75% então seria perfeito e apesar de ainda não ter experimentado eu recomendaria porque até o preço é razoável a 60 euros. Ele provavelmente não é mecânico, mas entre ter dor e usar um teclado rubber dome de boa qualidade, eu escolheria não ter dor.

Obviamente existem opções mecânicas como os da Kinesis. O Advantage2 usa switches Cherry Brown ou Red mas eu acho monstruoso demais, mas uma coisa que eu gosto dele é que tem boas opções de teclas extras perto dos dedões. Em vez de um espaço fixo no meio das duas metades do teclado, tem o Freestyle que você pode ajustar quanto espaço quer. O Freestyle normal é de membrana e rubber dome mas o Freestyle Pro tem opção também com switches Cherry Brown ou Red, mas eu nunca parei pra pedir. Mas pra variar, esses modelos são super caros com os Freestyle Pro na faixa dos 180 dólares e os Advantage2 na faixa dos 350 dólares. Os mais baratos de 100 dólares não são nem mecânicos.

Talvez um dia eu tente os modelos da Kinesis mas recentemente eu esbarrei em alguns vídeos mostrando um novo teclado, o Ultimate Hacking Keyboard. O conceito é muito bacana e eu recomendo ver os vídeos de review mais detalhado dele. Porém, assim como a Massdrop este daqui também é caro, mais caro ainda aliás, começando em nada menos que 275 dólares, sem contar frete e sem contar que no meu caso quando chegou aqui, a porcaria da receita federal me taxou em 100% do valor do produto. Bando de filho da p ...

Aham, enfim. Agora que está aqui o que eu posso dizer é que assim como o Kinesis Freestyle, você tem o teclado fisicamente dividido em duas metades, o que facilita ajustar a distância no meio o quanto quiser, diferente dos da Microsoft por exemplo. Você também pode unir as duas metades se preferir e usar como se fosse um teclado normal. Quando faz isso o mecanismo de junção é um híbrido de encaixes físicos e ímãs que mantém as duas metades bem firmes no lugar, realmente é muito bem construído.

O chassi é de metal mas o frame ao redor é de plástico, mas é um plástico rígido de boa durabilidades, e não um molenga barato então não tem torção aparente e não afunda em nenhum lugar. Você pode parafusar os pés dele pra ficar em posição de tenda, levantando mais o meio, que é como todo ergonômico faz. Ou você pode escolher usar do jeito tradicional levantando mais a frente ou até fazer inclinação negativa colocando pra trás que eu não gosto muito.

Os keycaps foram minha maior decepção porque eles não chegam a parecer que são de ABS mas não parecem PBT também. Talvez um ABS melhor produzido. Não é doubleshot então as letras são todas impressas, o que significa que daqui algum tempo vai começar a sumir também. Por outro lado é um teclado com switches Kaihua, que são compatíveis com Cherry, o que significa que eu sempre posso trocar os keycaps por um kit de PBT doubleshot no futuro. Mas como o teclado já custa 275 dólares, eu esperaria keycaps melhorzinhos.

Mas o preço é caro assim por causa do circuito integrado e do software customizado. Esse teclado foi feito pra aceitar módulos que colocam controles extras ao alcance do seu dedão. Eu pedi os módulos de touchpad pro dedão direito e um grupo de teclas customizáveis extras pra ficar no dedão esquerdo. Se o touchpad funcionar resolve um dos meus problemas de ritmo que é ter que tirar a mão direita do teclado pra pegar no mouse. Com touchpad no dedão, não preciso tirar a mão do lugar, que é uma das coisas que sinto falta dos macbooks.

E o grupo de teclas pro dedão esquerdo vai ser importante porque esse teclado só tem layout de 60% que eu disse lá atrás que eu não gosto. Significa que qualquer tecla de navegação como page up, home e tudo é uma combinação de duas teclas. Imagina pra fazer coisas como shift + control + end pra marcar o texto até o fim da linha. Isso vira um malabarismo de apertar shift com o dedo anelar, control com o mindinho, mod com o dedão e "O" do outro lado. Eu até acho que com algumas semanas me forçando eu vou criar memória muscular, mas isso é bem inconveniente.

Pior ainda é que como não tem a linha de teclas de função em cima da linha de números, não existe a tecla Esc. Ela precisa ser uma combinação de duas teclas. Felizmente deu pra mapear a tecla que seria caps lock e que nesse teclado é um modificador pra controlar o mouse via teclado, mas mesmo assim minha memória muscular joga meu anelar esquerdo lá pra cima toda vez que quero Esc. Mas com o tal módulo pro dedão esquerdo eu conseguiria mapear coisas como esc, ou delete pra não ser uma combinação de teclas.

O problema é que esses módulos ainda não foram lançados. Eu comprei na pré-venda a 60 dólares cada módulo e eles só vão lançar em junho deste ano ainda. Me acompanhem no Instagram porque eu só vou mostrar esses módulos lá depois. De qualquer forma, o nome realmente resume bem o que é esse teclado, o Ultimate Hacking Keyboard. Falando nisso notem que a maioria dos teclados que eu falei até agora podem ser customizados e remapeados via software, mas tá fora do escopo deste video eu ficar falando disso, mesmo porque eu nunca remapeio teclas ou fico fazendo macros.

De novo, eu não sou gamer então não tenho tanta necessidade de customizar. E mesmo pra ambiente de programação eu prefiro não ficar criando macros porque eu uso teclados diferentes em cada lugar, então não vale a pena eu me acostumar com macros se vou usar 3 ou 4 teclados diferentes toda vez. Mas, sendo realista, este teclado é completamente fora de mão em termos de custo. Seriam 275 dólares só o teclado, mais 120 dólares por dois módulos, mais 75 dólares o palm rest de madeira que parafusa nas duas metades. Então o conjunto completo são nada mais, nada menos que 470 dólares sem contar frete nem imposto.

E falando em teclado caro, chegou a hora de eu mostrar o esteticamente mais diferente da minha coleção. Este é o QwerkyWriter S, e é querky com “K”, não confunda com o layout “qwerty”, obviamente que foi um trocadilho de propósito. Esse é outro que me custou nada menos que 300 dólares quando eu comprei em 2018. Não lembro se comprei em pré-venda ou algo assim porque fui ver na Amazon esses dias e esse mesmo modelo estava uns 500 dólares. Se for isso mesmo, esse é de longe meu teclado mecânico mais caro de todos e justamente por causa disso eu não recomendo pra ninguém que não seja entusiasta mesmo.

Esse foi o único que eu comprei exclusivamente pela aparência mesmo. Como podem ver o objetivo dele foi tentar se aproximar da aparência de uma máquina de escrever antiga. E sim, todos os apetrechos que você está vendo funcionam. A alavanca na esquerda realmente age como um return. Os botões de girar na esquerda e na direita que tentam parecer como se fosse pra puxar uma folha de papel se fosse uma máquina de escrever agem como botão de volume na direita e seta pra cima e seta pra baixo na esquerda, o que é bem legal porque é quase mesmo como puxar papel.

Ele é caro assim porque a construção e escolha de materiais é bem superior. Ele é um dos mais pesados, mais sólidos e mais rígidos, o que é absolutamente necessário pra passar mesmo a sensação de uma máquina de escrever. Ironicamente ele também é wireless com suporte a conectar até 3 dispositivos por bluetooth. E vem com um apoio atrás onde você pode colocar um tablet ou mesmo seu smartphone de pé. A intenção é que assim fica parecendo mesmo que você tá teclando num pedaço de papel, só que digital.

Aliás, uma dica se você conectar um teclado bluetooth num smartphone como iPad ou qualquer Android. Você vai ter dificuldade pra acentuar as coisas. Mas não precisa mudar o layout ou configurar nada. Por alguma razão o teclado em Android aceita combinações semelhantes ao do layout de teclados Mac. Por exemplo, pra acento agudo use alt e "e" e daí a sílaba. Pra acento com crase faça alt e "i" e daí a sílaba. Pra til é a mesma coisa só que com “n”, pra crase com backtick e pra cedilha é só alt e "c". Alt em Mac é a tecla Option.

Esteticamente o que faz esse teclado evocar a aparência correta é porque assim como no Massdrop Ctrl ou Cooler Master SK630 que eu mostrei, os switches ficam expostos e, claro, os keycaps são mais altos. O que sai caro nesse teclado são justamente os keycaps que não são só plástico injetado. Cada um deles tem esse detalhe prateado ao redor. Em termos de acabamento e estética realmente se destaca de todos os outros na atenção a detalhes. Pra ficar mais próximo possivel de uma máquina de escrever, ele precisa ser barulhento, por isso vem com switches Cherry MX Blue. A própria batida da tecla no chassi complementa um som mais alto que o normal. Mesmo assim não é exatamente a mesma coisa.

Pra provar isso, temos que ver o verdadeiro teclado 100% mecânico. A boa e velha máquina de escrever. Pra mostrar aqui no canal eu resolvi comprar esta Olivetti Lettera 82, primeiro porque ela é bem menor do que a Olivetti que meu pai tinha ou as gigantonas britânicas Remington. Pense que isso aqui poderia ser como um jornalista iria em campo pra escrever matérias. Pensa como seria abrir um troço desses num Starbucks. Uma máquina dessas tem mecanismos que mapeiam cada tecla com um martelo num tambor na parte do meio. E a nitidez das letras vai ser proporcional à força que você marreta a tecla. Lembram que eu tava reclamando da diferença entre os 45 gramas de força de um Cherry Speed Silver contra os 78 gramas de um Thinkpad? Ha, essa aqui deve precisar pra lá de 100 gramas de força, fácil.

Mesmo se você nunca viu ou usou uma máquina dessas provavelmente entende o princípio de que tem um tambor com martelos de metal com letras em relevo no inverso, e quando você bate uma tecla ele movimenta um desses martelos batendo numa fita de tinta contra o papel. Daí por puro movimento mecânico a máquina mexe um espaço pra esquerda e assim você vai batendo uma letra atrás da outra.

Essas máquinas são a melhor coisa pra treinar digitar corretamente. Primeiro porque você literalmente vai fazer musculação nos mindinhos tentando marretar uma tecla pesada dessas, especialmente nas máquinas maiores. Segundo porque você realmente precisa fazer cada dedo bater no meio de cada tecla com precisão. Se escorregar e seu dedo bater duas teclas de uma só vez, os martelos podem enroscar e aí você tem que manualmente desenroscar, o que vai diminuir muito sua velocidade. Pior ainda se escorregar e seu dedo cair no meio das teclas. Embaixo são barrinhas de metal que vou te falar que dependendo de como você bater, pode machucar os dedos. Essa máquina é pra quem cresceu na época que mertiolate ardia.

Comparado com uma máquina de mesa essa pode ser considerada até leve, mas é no mínimo o peso de uns dois notebooks normais um em cima do outro. Eu não pesei mas me parece mais pesado que um saco de arroz de 5kg. As de mesa acho que era quase o dobro do peso. Ela é pesada demais pra carregar numa mochila mas leve demais a ponto de quando você tá datilografando e marretando teclas, ela fica escorregando na mesa se for muito lisa. Pra poder gravar eu tive que prender na mesa com fitas pra não ficar balançando pra tudo que é lado.

Eu não comprei junto mas antigamente a gente podia fazer múltiplas cópias ao mesmo tempo, bastava colocar papel carbono entre duas folhas e bater mais forte. Lembram o episódio do Diário de Henry Jones? Era assim que eu passava muitos dos meus dias:

(demonstração - lettera)

Achei interessante que tem vários modelos que você vai achar até que fácil em sites de usados como mercado livre, custando na faixa de uns 200 ou 300 reais. E tem até fitas novas sendo vendidas a meros 10 reais. Então, pra quem tiver curiosidade, tá super acessível. Obviamente os modelos mais raros vão ser mais caros, mas essa Lettera 82 hoje em dia tá fácil de achar.

Falando em carbono, quero aproveitar pra fazer uma tangente. Tem muita coisa do nosso dia a dia que os jovens, na faixa aí dos 20 anos ou menos não tem muita idéia e também nunca pararam pra questionar. Vou dar alguns exemplos: o mais óbvio é o famoso ícone em muitos programas pra opção de Salvar que ainda hoje é representado por um disquete. Eu usei muito disquete mas a nova geração nunca viu um ao vivo, e só sabe porque todo mundo já repetiu sobre isso em algum canal de YouTube. Outro exemplo que eu testei alguns meses atras foi sobre cartões de crédito. Alguma vez vocês já se questionaram porque cartões tem dados como o número, nome, data em relevo?

A maioria dos jovens primeiro nunca notou isso. Os que notaram acham que é puramente por estética. Porém a resposta é bem mais simples. Cartões de crédito são usados desde o meio do século XX. As maquinetas de cartão tipo as Cielo ou Stone que tem em toda loja hoje são invenções recentes que só começaram a se difundir no século XXI. E mesmo quando elas foram inventadas a internet móvel era super instável e em muitas regiões podia nem existir, então como fazia em lugares sem internet ou quando a internet caía? A gente tinha outra opção e eram máquinas manuais.

Nessas máquinas você colocava o cartão num espaço especial, daí colocava tipo um boleto com múltiplas folhas e carbono entre elas, daí puxava esse troço grandão que aplicava pressão contra o cartão. Daí o número, nome e data eram impressos no papel por causa da pressão da máquina contra o carbono e o cartão e voilá, tinha uma cópia pro lojista, outra pra administradora e um recibo pra você. Daí de tempos em tempos uma cópia era recolhida pela administradora que daí emitia fatura pra você e pagava o lojista. Basicamente processo parecido com o de hoje só que analógico. E quando começaram a surgir as maquinetas eletrônicas, elas podiam falhar ou ficar sem sinal ou mesmo a luz cair, e nesses casos os caixas tinham a contingência de usar essas máquinas manuais.

Voltando pra máquina de escrever. Elas são invenções bem antigas, acho que do fim do século XIX. No começo do século XX elas foram evoluindo. Resumindo bastante a história nós passamos por Graham Bell, por Thomas Edison, e criou-se a malha de comunicação e de eletricidade. Primeiro a gente tinha telégrafos, depois pulou pra telex. De forma simplificada podemos trafegar dados digitais encodados em ondas analógicas que podem viajar tanto pelo ar via rádio ou via cabo. Numa ponta ele precisa encodar a mensagem como um binário de zeros e uns, transformar isso em onda, transmitir e na outra ponta reverter da onda pra binário.

Muitos iniciantes tem dificuldade de entender isso. Mas pense na máquina de escrever. Cada tecla mapeia pra um martelo de metal no tambor. E se em vez disso ele mapear pra um código? Por exemplo, a letra “A” poderia ser 0 0 0 1 1, a letra “B” poderia ser 1 1 0 0 1 e assim por diante. E de fato era assim que as primeiras máquinas de telex funcionavam. Essa tabela de conversão era o baudot code inventado em 1870 e implementado em 1901. Telex significa Teleprinter Exchange e era usado uma máquina parecida com a de escrever mas em vez de ser só mecânica passou a ser eletromecânica pra fazer a conversão e modulação do sinal analógico.

Essa tabela de conversão Baudot era de 5 bits. E se você fez a conta de cabeça significa que é possível ter 2 elevado a 5 combinações diferentes, o que dá 32 combinações únicas. Como o alfabeto tem 26 letras e 10 números isso sem contar símbolos como de mais ou igual, significa que em 5 bits não cabe tudo. Pra isso você tinha dois códigos especiais pra mudar pra uma tabela de letras e outro código pra mudar pra uma tabela de números. Então o mesmo código pra letra “A” que eu falei também era do símbolo de “menos” se usasse antes o código de figuras. O da letra “B” era a figura de interrogação. No começo do século XX cada bit a mais era caro de processar porque eram processos mecânicos. O transistor só viria a ser inventado quase 50 anos depois.

Hoje em dia encodamos letras, números e símbolos usando convenções como UTF-8 onde a maiorias das letras e números em binário coincidem com a antiga tabela ASCII que era limitada em 127 combinações, porque é um esquema de 7-bits. Lembrando que você precisa se acostumar a pensar em binário e hexadecimal. Isso é matemática de primário, onde cada bit a mais que você adiciona duplica a quantidade possível de combinações. É uma exponencial de base 2. O ASCII antigo definia as primeiras 127 combinações. As próximas 128 combinações num esquema de 8-bits variavam bastante como no charset 1252 do Windows ou Mac Roman. De qualquer forma, strings e principalmente Unicode é um assunto bem cabeludo que fica pra outro dia. O importante era só lembrar que foi assim que tudo começou e que em computadores tudo é binário e como isso mapeia pra letras é uma convenção.

Falando em encoding de texto de Windows, vocês que são de Mac ou Linux devem ficar irritados toda vez que baixa um texto vindo de editores Windows antigos, porque o equivalente a uma nova linha que a gente em programação costuma simbolizar com “\n”, se vier de Windows, vai ter um caracter estranho aparecendo que é o símbolo “\r”. Mesmo em Git de Windows tem até a opção pra filtrar fora esse caracter inútil. Editores modernos como VS Code fazem certinho e não usam mais o \r.

Deixa eu mostrar pra vocês de onde vem o \n que significa New Line e o \r que significa Carriage Return. Vamos lá:

Isto é um New Line ou nova linha E isso é um Carriage Return ou retorno do carro, e carro é esse cilindro onde passa a folha de papel.

(carriage return maquina de escrever)

Lembram que eu falei que as máquinas de Telex eram basicamente máquinas de escrever mais sofisticadas? Elas recebiam comandos e automaticamente batiam os martelos numa folha e precisavam receber os dois comandos pra fazer a coisa certa. Se recebesse um TXT moderno que só tem \n, não haveria o retorno do carro pro começo da nova linha. Esse era o motivo.

Aliás, outra coisa antiga que você talvez tenham se dado conta agora é que talvez já tenham ouvido falar de bauds quando lidam com modens. Muita gente confunde bauds com bits e de fato antigamente 1 baud era um 1 bit. Então um modem de 1200 bauds transmitia 1200 bits por segundo. Porém baud é um termo de telecomunicações e eletrônica que significa um símbolo ou mais corretamente um pulso por segundo. Num pulso você pode empacotar muitos bits, então um model de 1200 bauds com pacotes mais compactos de 8 bits por pulso na verdade transmitiam 9600 bits por segundo. E de onde vem Baud? Vem de Émile Baudot que criou a tabela de 5-bits usado nos telex que eu falei agora pouco.

Pra terminar a tangente, tem outra coisa que você provavelmente também já viu e não tem idéia do que é. Mas pense assim, depois da era do Telex começou a era da computação, principalmente depois dos anos 50 quando o transistor começou a popularizar. No fim dos anos 60 apareceram os primeiros UNIX. Mas os computadores de antigamente eram gigantes que nem um armário. Não era que nem um desktop que você coloca embaixo da mesa. Mais do que isso, eles eram recursos compartilhados porque não dava pra ter um computador gigante por pessoa. Por isso nasceu o conceito de rodar jobs assíncronos em paralelo de várias pessoas e depois timesharing pra ser possível ter múltiplas pessoas usando o computador ao mesmo tempo com o processador dividindo o tempo entre diferentes processos. Eu explico um pouco disso no meu video do ano passado que está na Playlist de Programação para Iniciantes, na de concorrência e paralelismo.

Então, por necessidade, precisava dar um jeito de compartilhar o mesmo computador, mesmo remotamente. Por isso existiam os terminais remotos. E os primeiros terminais sequer precisavam ter monitores, pense que eles eram máquinas de Telex conectadas no computador e as respostas eram impressas em papel. A vantagem disso era que você podia ter esse teleprinter do lado do computador ou remotamente. Então o que chamamos hoje de STDIN ou Standard Input era uma máquina tipo essa minha de escrever mas adaptada pra ser uma teleimpressora como na era do Telex. E o STDOUT ou Standard Output poderia ser um monitor de fósforo verde ou âmbar de antigamente ou mesmo a impressora em papel.

Quando a saída eram monitores remotos eles eram chamados de Video Terminals ou VTs. Com o tempo, além das letras e números mapeados na tabela ASCII que eu falei, começaram a criar comandos de escape especiais pra mover o cursor em posição X e Y na tela bem como mudar cores e coisas do tipo, e um conjunto ficou mais conhecido e é usado até hoje, o conjunto VT-100, que são combinações de caracteres que escapam de serem impressos, normalmente começando com o código binário pra Esc, abre colchete e algum código. Um dos grandes problemas do console de linha de comando antigo do Windows, o conhost é que ele sequer suportava esses escape codes então imprimia tudo errado. Isso foi corrigido com o novo Windows Terminal que tá quase saindo de versão Preview e você pode ver mais sobre isso no episódio que eu fiz sobre o WSL 2.

Mas, voltando onde quero chegar. Esses teleprinters são o que chamamos de dispositivos de entrada, input devices. E foi no UNIX que se criou o conceito de lidar com tudo, incluindo devices, como se fossem arquivos. Por isso existem os arquivos /dev/tty que vai de tty0 até tty63, ou seja, num Linux moderno daria pra ligar até 64 dispositivos. Toda vez que você abre o programa de Terminal, como o que vem nas distros ou outros como um Tylix da vida ele se registra como um dispositivo de entrada virtual, um pseudo-TTY ou PTY.

Vamos fazer um teste abrindo aqui meu bom e velho Manjaro de guerra. Se eu abrir um Terminal e digitar o comando tty ele vai devolver em qual estou conectado. Note que não é um /dev/tty1 ou algo assim e sim /dev/pts/0. PTS são Pseudo Terminal Slaves, associados a um PTY, que serve pra conectar terminais falsos ou emuladores de terminal como é o caso de um programa como xterm ou Tylix que não é um teleprinter de verdade e nem mesmo um hardware moderno como teclado ou mouse. Se eu abrir outra janela ou mesmo dividir essa janela em duas, a segunda vai se conectar em outro pts diferente. Eu posso fazer um script besta na primeira janela pra esperar alguma coisa, por exemplo um programinha de uma linha de Ruby com o comando gets, que vai ficar esperando alguma coisa vir pelo STDIN, por exemplo pelo teclado.

Agora, do segundo terminal eu posso dar o comando echo de qualquer string direto pro /dev/pts/0 e ele vai direto pro script Ruby. Mas agora, quem se liga nos TTY de verdade do sistema além de teclado e mouse? Podemos dar um comando ps aux pra listar todos os processos rodando e dar um grep por tty e de fato vemos que o X.org e o GDM que é o gerenciador de janelas gráficas do GNOME é que estão pendurados lá. Note que eles estão no TTY2. Se eu der Ctrl + Alt + F3 eu vou pular pro TTY3, de onde eu posso dar login normalmente. E se der de novo ps com grep em tty pra filtrar, vemos que no tty3 está o Zshell que é onde estou neste momento. E se eu der Ctrl + Alt + F2 eu posso voltar pra sessão gráfica do X.

Em muitos casos, se por acaso seu X travar por alguma razão, pode ser possível destravar sem precisar bootar a máquina. Tente fazer primeiro Ctrl + Alt + backspace que é um hard restart do X. Se isso não funcionar, você pode tentar ir pra outros TTY e de lá dar um kill forçado no X por exemplo.

E agora vem o interessante, eu ainda não falei o que significa TTY. Máquina de escrever em inglês é typewriter. Um typewriter adaptado pra Telex é um TeleTypeWriter e daí vem TTY. Agora você sabe. Este assunto de TTY é muito importante que todo programador que usa Linux ou derivados de UNIX tem obrigação de saber. Por isso vou deixar linkado nas descrições abaixo um artigo que eu achei faz tempo e que é bem completo chamado TTY Demystified.

Voltando pro assunto de teclados, já que falei do avô dos teclados, podemos finalizar pulando algumas décadas e cair nos anos 80 pra falar do último da minha coleção. Diferente de máquinas de escrever que você encontra até que barato, este teclado é caro. Eu paguei uns 1400 reais no mercado livre num anúncio que estava lá pegando poeira fazia alguns anos. Aliás, quando eu abri a caixa veio pó com cheiro dos anos 90 nele, sério.

É este IBM Model M, uma das primeiras versões. Este em particular é da série que chegou a ser montado na Zona Franca de Manaus. E não é como os porcaria que vinha nos IBM Aptiva de 1994 em diante. Este Model M é de dez anos antes, 1985. Se quiserem entender a história dos Model M, por acaso, tem um video curto e bem feito do canal Linus Tech Tips que explica as diferentes versões, então vou deixar o link nas descrições abaixo também.

Os model M são tanques de guerra. Este em particular, é um que provavelmente se ligava num Terminal remoto, num VT. Isso porque ele é a versão que ainda não tem as luzes de caps lock ou num lock na direita. E fora isso o conector dele é anterior à existência do padrão PS2. O cabo é serial com conector RJ-45 que é o mesmo que se usa em cabow de rede Ethernet. Ou seja, eu preciso de um adaptador especial que não é o mesmo adaptador de redes pra USB que se encontra por aí, o circuito é totalmente diferente. Por isso eu encomendei um que achei no eBay mas ele não chegou até o dia de gravação desse video então eu não pude testar de verdade esse teclado. Mas vamos ver como ele se parece digitando.

(digitando model M)

Como deu pra ouvir, o barulho é alto, irritante e extremamente satisfatório. Esse barulho faz o click dos Cherry MX Blue parecer brincadeira de criança. Se a máquina de escrever que mostrei é o avô dos teclados mecânicos, este Model M é o paizão de todos. Porém, diferente dos mecanismos modernos, este tem switches que chamamos de Buckling Springs. Na prática, dentro tem uma mola que quando você vai pressionando ele vai se deformando até acumular força pra empurrar a peça da base e pressionar um rubber dome em cima de uma membrana, registrando a tecla. Ou seja, este é provavelmente um dos melhores teclados de membrana ou rubber dome, com a diferença que não é a resistência do domo de borracha que segura a tecla e sim a mola entre a tecla e o domo. Por isso a sensação é bem diferente e única.

Assim como o Cherry Blue, ele tem um click bem nítido de quando a mola quebra a tensão, soltando o barulho de click. Além disso os keycaps neste modelo são diferentes. Eles são, entre aspas, double mas não é double shot, são literalmente duas cascas de tecla uma em cima da outra mas não grudados. Parece que a tecla que se conecta no switch é tudo do mesmo tamanho, daí em cima dela tem outra que tem os formatos diferentes de cada tecla. Então são teclas mais pesadas do que você tá acostumado. Some a isso este frame e chassi que é grande, denso, robusto e bem rígido. Esse teclado é um tanque de tão pesado. Eu poderia chutar que é metade do peso da máquina de escrever. Por isso você pode bater com a força que quiser que esse monstro aqui não se mexe.

Não dá pra usar a medida de força de acionamento oficial porque estamos falando de um mecanismo com molas que são mais velhas que a maioria de vocês assistindo, provavelmente com 30 anos ou mais de idade. As patentes originais foram sendo passadas pra frente e hoje estão com a empresa Unicomp que faz Model M novos usando os mesmos mecanismos mas com peças novas e você pode encomendar na Amazon americana por uns 95 dólares, o que eu diria que vale a pena. Eu só não gosto porque eles só fazem tamanhos full-size, com o teclado numérico que eu não preciso.

Mas a sensação de digitar é bem diferente do que todos os outros teclados. Eu diria que ele precisa de pouca coisa mais de força do que os Cherry MX Blue. Mas é um pouco menos do que os switches Topre da RealForce. O Topre vocês vão lembrar que eu disse que sinto que tem uma resistência maior logo no começo da tecla, este tem uma resistência um pouco maior mais pro fim, no ponto em que a mola faz o clicky e é amortecido pelo domo de borracha da membrana. Não dá pra dizer se ele é melhor, mas certamente a sensação é bem diferente. Eu pessoalmente gosto bastante desse switch e queria ver modelos modernos. Talvez eu encomende um Unicomp. O problema é que ele é um dos mais barulhentos então eu definitivamente não recomendo usar num escritório com outras pessoas.

Com este Model M eu senti que tenho uma coleção com as principais variações de switches e qualidades de construção. Assim que chegar o adaptador pra esse conector RJ-45 eu falo mais sobre ele no Instagram, então não deixem de me seguir lá, que aliás é onde vou mostrar qualquer outro novo teclado que comprar. Mas depois de tudo isso, qual o teclado que eu gosto mais? Isso varia muito, depende do dia e do meu humor mesmo. Tirando o baratinho que mostrei no começo do video anterior de propósito, todos os outros são bons e eu gosto e não pretendo me desfazer de nenhum. Na prática, não precisa comprar nenhum de 200 dólares ou mais porque não vão ser tão diferentes dos de 100 dólares. Vai variar mais em funcionalidades, tamanho, portabilidade, extensões e outras coisas, mas pra digitação em si muda muito pouco.

Por isso eu falei no começo deste video que o melhor custo-benefício são os da Keychron. Começando abaixo de 100 dólares, é difícil competir. No Brasil talvez seja mais fácil achar os Corsair ou Razer, então ficaria de olho neles também. Ambos até tinham quiosques de demonstração em alguns shopping centers. Se você for entusiasta e tiver dinheiro pra gastar existe um ecossistema enorme onde você pode comprar todas as peças separadamente e você mesmo programar seu firmware, soldar sua própria placa com os switches que quiser e muito mais. Só de keycaps você vai encontrar dezenas de qualidades, cores e estilos bem diferentes. E sim, vai ter que importar, basicamente inexiste um mercado de peças de boa qualidade fabricadas no Brasil pra entusiastas.

No final, não, você não precisa e nem deve procurar teclados caros achando que isso vai afetar sua produtividade de alguma forma, porque não vai. Da mesma forma que não adianta sair comprando Nikes de corrida se você não consegue correr nem um quilômetro sem morrer. O equipamento só ajuda quem já é treinado. Sim, teclados baratinhos daquela faixa dos 100 reais pode atrapalhar, porque seus dedos vão escorregar em teclas de baixa qualidade, o amortecimento de domos de borracha porcaria vai dar falsos registros de tecla ou nem registrar, as membranas podem ter mal contato e te levar a erros mais frequentes e tudo mais. Mas na faixa dos 70 dólares pra cima é mais difícil de errar. Acho que com os teclados que mostrei deu pra dar uma noção de porque alguns cobram mais caro que outros. E é muito mais pelo luxo do que pela produtividade.

Inclusive, outra pergunta que muita gente deve ter na cabeça é por quê eu tenho esta coleção. E a resposta é muito simples, pelo mesmo motivo que qualquer pessoa faz uma coleção: porque eu quero. Tem gente que coleciona quadros, tem gente que coleciona miniaturas, tem gente que coleciona tampinhas de garrafa ou sei lá, eu gosto teclados e ponto. É mais barato que colecionar carros e tem a diferença que teclado é de longe o equipamento que eu mais uso todos os dias. Eu passei os anos 90 e os anos 2000, quase 20 anos usando teclados de membrana com plástico barato porque era o que dava pra comprar. Hoje eu posso comprar um bom mecânico. Dependendo do seu estilo de vida, um bom teclado desses sai mais barato que muito show ou balada por aí.

Cada seção onde eu falo de cada teclado deste episódio e do anterior eu escrevi usando o teclado certo, então estes episódios foram escritos com todos os 16 teclados, com exceção da Olivetti Lettera e do IBM Model M que ainda não dá pra ligar. Mas o que eu mais usei no geral foi mesmo meu Keychron K2. E com isso encerro o assunto de teclados mecânicos, aproveitem pra ajudar o povo com dúvidas nos comentários, se curtiram o video mandem um joinha, assinem o canal e cliquem no sininho pra não perder os próximos episódios. E não deixem de compartilhar o video pra ajudar o canal. A gente se vê, até mais.

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