[Akitando] #4 - Blockchain Week Seoul: Entendendo ICOs

2018 August 23, 17:00 h

Disclaimer: esta série de posts são transcripts diretos dos scripts usados em cada video do canal Akitando. O texto tem erros de português mas é porque estou apenas publicando exatamente como foi usado pra gravar o video, perdoem os errinhos.

Descrição no YouTube

Finalmente entrando mais a fundo nas diversas palestras dos eventos Beyond Blocks e Blockchain Parterns, vamos entender os principais pontos de discussão a respeito de Initial Coin Offerings ou ICOs, Security vs Utility Tokens, tokenização e outros dos principais tópicos discutidos na conferência.

Links do vídeo:

Script

Olá pessoal, Fabio Akita

Bom, se você assistiu o episódio anterior, já tem uma boa idéia de porque a Coréia do Sul se tornou uma força monumental no mundo de criptomoedas. Num certo momento, eles chegaram a ser sozinhos mais de 30% do volume global de moedas como Bitcoin ou Ethereum.

Vamos gastar os próximos 3 episódios analisando os principais assuntos discutidos nos eventos Beyond Blocks e Blockchain Partners Summit que assisti. Não vou ficar detalhando palestra a palestra mas sim delinear os pontos principais que foram comuns em todos e que podem ser novidades para a maioria das pessoas no Ocidente. Não deixe de assinar o canal e clicar no sininho para não perder os próximos episódios.

Agora pensa assim, muitos dos investidores mais antigos, que compraram Bitcoin lá por 2012, ou Ethereum lá por 2015, começaram a re-investir os ganhos em produtos e serviços e criaram o ecossistema de corretoras, wallets, crypto funds, aceleradoras e, eventualmente, o que eles chamam de “Syndicates”. Em resumo pense que existe um grupo de influência que “mentora”, “acelera”, e facilita o listing de startups que lançam ICO tokens nas diversas corretoras. Daí eles ativam os influenciadores como YouTube e apps como wallets que tem a opção de participar do lançamento inicial dessas tokens direto das carteiras!

Influenciadores como a Hashed que mencionei no episódio anterior, a BRP (Blockchain Revolution Partner), a FBG Capital, são alguns que capitaneiam o mercado de criptomoedas e principalmente de ICOs. E isso na Coréia. Uma estrutura similar existe em outros países asiáticos como China, Japão, e também Suíça, Estônia, em breve veremos algo assim em Taiwan, Thailândia, Ilha de Malta.

Nos Estados Unidos esse tipo de estrutura não pode acontecer, pelo menos não fácil. Já vou explicar porque.

Assim como em qualquer ambiente denso em startups, você vê tudo que é tipo de bizarrice. A maior parte é ruim pra caramba. Vá em qualquer evento de startups e você sabe que, dentre as dezenas de startups apresentando, talvez 1 ou 2 tenha algum futuro de verdade, todo o resto vai morrer na praia. Seja porque a equipe fundadora é claramente ruim, ou o modelo de negócios é obviamente ruim, ou a execução da idéia é obviamente mal feita, ou uma combinação de tudo isso.

Vou fazer um vídeo separado só mostrando rapidamente as diversas apresentações de startups que vi por lá pra vocês terem uma noção.

Explicando, todo VC, aceleradora e incentiva todo mundo a “perseguir suas próprias idéias”, mesmo aqueles que claramente nem deveriam, com bordões muito ruins como “faça o que você ama” ou “seja seu próprio chefe”, como se fosse a única coisa nobre a se fazer (spoiler: não é). Porque o que interessa são os grandes números. Digamos, se só 1 em cada 1000 vai ser bem sucedido, você precisa convencer 2000, 3000 pessoas, pra ter 2 ou 3 que vão trazer grandes retornos. É a estatística dos grandes números.

Esse é o normal em tech startups, esse é o normal em ICOs, todo mundo já deveria conhecer Nassim Taleb que deixa isso bem claro em seus livros Cisne Negro e Anti Fragil.

O modelo de negócio dos VCs, os venerados Venture Capitalists, é diversificar suas opções e ter acesso inicial aos negócios quando o preço das shares é mais baixo e podem ter parte do controle da empresa. Assim podem criar um pacote mais atraente e conseguir outros investidores em rounds seguintes, até que possam ter “exit” (saída) e realizar os lucros antes ainda do negócio realmente vingar. Não é responsabilidade do VC ver a empresa dar lucro e se tornar sustentável. A estrutura de um VC requer que a startup dê lucro porque ele não pode jogar contra ele mesmo ou shortear as ações como poder fazer um Hedge Fund, por exemplo.

ICOs de security tokens adicionam um problema hoje em alguns lugares. Simplificando, ICOs, ou Inicial Coin Offerings, apareceram como uma alternativa barata e simples aos IPOs ou Initial Public Offerings. Porque você está oferecendo shares ao público, pra abrir e poder negociar você precisa passar pelo crivo da SEC que é a U.S. Securities and Exchange Commision. Só aí você pode listar na bolsa. No Brasil o equivalente seria a Comissão de Valores Mobiliários, ou CVM.

Agora, ICOs, tirando vantagem da característica de imutabilidade e consenso descentralizado do blockchain, permite que você distribua “assets digitais” únicos, não adulteráveis, como moedas, ou no caso, de Security Tokens como mencionei, o equivalente a uma security (ou valor mobiliário) digital. Daí você corta o intermediário (SEC, bolsa) e vai direto a quem quer adquirir esse asset usando um token.

Existem pelo menos 2 tipos de ICOs, as que distribuem security tokens e as que distribuem utility tokens. Voltando aos Estados Unidos, existe um critério chamado o Teste de Howey por causa da disputa SEC vs Howey em 1946. Na prática: se é um investimento de dinheiro, num empreendimento comum, com expectativa de lucro primariamente através dos esforços de terceiros” então é um security.

Isso meio que leva todo ICO nos Estados Unidos a ser reconhecido como security. E isso impede que ICOs tenham muita utilidade lá. Entenderam porque eu quis ir conhecer a Ásia?

Existem desvantagens em ICOs assim como em qualquer investimento de risco, regulado ou não regulado. Porém, um ICO tem algumas grandes vantagens difíceis de ignorar. Primeiro de tudo elas são mais baratas, porque não tem taxa de intermediários, corretoras, bancos, burocracia. Tem velocidade na execução, novamente porque estamos removendo intermediários. Fora a maior exposição ao livre mercado internacional, por exemplo, você é do Brasil como que você pode comprar ações da Nasdaq? É difícil. Como faz um cidadão chinês, ou sul coreano? É difícil. ICOs removem as barreiras geopolíticas. Isso em contrapartida aumenta a quantidade possível de investidores também. Em querer evitar que as ICOs ruins tenham acesso a essa demanda, você também impede os bons ICOs de serem bem sucedidos.

Utility Tokens como o nome diz, tem uma utilidade na rede. Por exemplo, uma Smiles poderia transformar seus pontos em utility tokens. Você poderia adquirir esses pontos como tokens e trocá-los livremente por produtos ou serviços. Esses tokens podem mudar de valor por causa da dinâmica de oferta-procura mas não seria puramente uma security. Parece confuso, mas em conceito é simples: um é um papel, como uma ação, só que em formato digital. O papel por si só não tem utilidade nenhum. Um utility token no mínimo tem um uso, pode não representar um valor pra todo mundo, mas tem valor na rede onde ela opera, exatamente como um Smiles ou qualquer carimbo num cartão de fidelidade, só tem valor na loja que carimbou. Uma security token, por outro lado, é a digitalização de um papel, um asset, assim como o e-mail é a digitalização de uma carta, barateando todo o processo de envio da carta, como consequência.

Sobre utility e pagamentos, tivemos vários exemplos de discussões a respeito. Empresas como PumaPay que é resultado de outra bem sucedida ICO que levantou quase USD 120 milhões e se tornou o 7o maior ICO de sucesso, levantando o ponto de como cartões de crédito tem uma baixa usabilidade hoje, com tecnologia defasada dos anos 50 cobrando taxas enormes dos comerciantes, com longa demora de settlement (ou liquidação), sem contar as fraudes.

Outra apresentação interessante que me chamou a atenção veio do co-fundador da Tmon, o equivalente Groupon deles, Daniel Shin, onde ele pretende lançar uma plataforma chamada Terra para pagamentos com criptomoedas e usar o poder que ainda tem na TMon para alavancar essa plataforma, assim como a eBay fez ao Paypal. Um conceito que parece estar ganhando terreno no mundo de pagamentos com criptomoedas é o uso de algum tipo de “Stable Coin”, uma moeda cujo controle é mais centralizado, onde o Terra seria emitido ao mercado com mais frequência quando a demanda for alta e parte das taxas seria guardado para a recompra das moedas quando a demanda cair, de forma a manter o preço mais ou menos estável, como um Banco Central faz com swaps cambiais para estabilizar a cotação do dólar, por exemplo.

Este e o próximo episódio estão densos em conceitos que talvez sejam novos para muita gente assistindo. Eu gostaria de evitar fazer vídeos muito introdutórios, vamos assumir que a maioria das pessoas já entende o que são criptomoedas. Não vejo necessidade de ficar explicando, de novo, a técnica por trás dos blockchains, mesmo porque eu acho que a tecnologia ainda vai evoluir em breve.

Por exemplo, outra tendência que se mostrou durante o evento é uma nova categoria de ICOs chamado de “Reverse ICOs”. Em vez de startups iniciando do zero e lançando tokens, reverse ICOs são empresas que já tem uma grande base de usuários lançando um sub-produto ou complemento a um produto existente via lançamento de ICOs oferecendo ao público a chance da compra dos primeiros tokens, incluindo ter direitos de voto e dividendos futuros. O conceito nasceu do já existente reverse IPOs e reverse mergers - eu digo que o mundo financeiro é infinitamente criativo, desenvolvedores de software como eu tem muito a aprender ainda - Num reverse IPO uma empresa privada pode se tornar pública comprando as ações de uma empresa pública e fazendo uma troca das ações privadas pelas públicas.

Empresas da Coréia do Sul tem olhado para essa categoria também como uma forma de difundir seus produtos além de suas fronteiras. Como disse antes, a Kakao é gigante na Coréia do Sul mas ninguém conhece nem a marca fora dela. A Kakao está investindo em criptomoedas, como com a Ground X que é a spin off de cripto deles, e também tendo uma das maiores corretoras de lá, a Upbit que roda na plataforma da Kakao e está integrada ao KakaoTalk que é o equivalente Telegram deles. Lembram quando falei da população “hiperconectada” deles? Imagine criptomoedas integrados diretamente no seu Whatsapp. E isso é só o começo.

Jason Han, CEO da Kakao e da Ground X explicou que muita gente vê a implementação de soluções em cima de blockchain da maneira errada. Claro que isso faz muito sentido visto do ponto de vista da Kakao, mas não está errado. Não se deve pensar em “vamos refazer o Whatsapp em blockchain” isso seria ridículo porque todos nós sabemos que nenhum blockchain tem hoje throughput para aguentar o tráfego de um grande comunicador. Mas sim, como podemos integrar alguns tipos de funcionalidades entre diferentes comunicadores usando blockchain, por exemplo.

Diferentes soluções estão sendo apresentados, em particular a utilização de side-chains ou redes paralelas off-chain. Uma segunda rede mais veloz sobre a rede mais segura e, por consequência, mais lenta. Um exemplo foi da palestra da Orbs que se apresenta como a “Hybrid Blockchain” uma das muitas alternativas de solução que está sendo usado por diversas empresas incluindo a Kik, cujo ICO levantou mais de USD 100 milhões mas obviamente teve dificuldades para executar porque ele usou o approach errado de querer fazer um comunicador em cima de algum blockchain.

Voltando ao assunto de securities. Nos Estados Unidos, a SEC tende a automaticamente categorizar mesmo as utility tokens como securities. E daí a startup é obrigada a passar pelas Regulações D (formulário D), A+ e S. Isso não é barato, e aí você acaba procurando um VC para conseguir fazer os ritos necessários.

Isso tudo é importante, porque foi justamente o tema central tanto dos eventos Beyond Blocks quanto Blockchain Partners. Como os países têm encarado a diferenciação de Security vs Utility, onde as leis são mais amigáveis? Por isso também as tech startups têm migrado pra fora dos Estados Unidos e procurado outros países. E pela mesma razão vários países, querendo a oportunidade de tomar a dianteira estão se tornando amigáveis a startups que nos EUA não são tão bem vindos.

Mesmo países como Japão e Coréia do Sul ainda estão tomando precauções contra security tokens e ICOs em geral, aumentando a barreira de regulamentação, especialmente por causa do boom do fim do ano passado. Então países como Tailândia, Ilha de Malta e Taiwan têm apresentado alternativas de oportunidades. Taiwan, por exemplo, parece que está organizando um guideline para auxiliar na definição do que são bons e maus ICOs e preparando uma “zona de livre comércio” para empresas que queiram lançar seus ICOs lá.

A Suíça é notoriamente um dos lugares amigáveis a criptomoedas, pelo fato que muitos desenvolvedores core do Bitcoin coincidentemente serem de lá, e mais ainda desde a fundação do Ethereum Foundation. Eles atraíram cerca de 2000 empresas nesse mercado. Taiwan, com suas novas regulamentações mais liberais, quer atrair mais 200 empresas pra lá ainda esse ano. A Tailândia acabou de lançar novas regulamentações que devem facilitar empresas de criptomoedas incluindo ICOs e exchanges. E muito se falou do crescente interesse na Ilha de Malta.

É notório que hedge funds como a Galaxy de Novogratz ou a XRP Capital de Michael Arrington não gostem das excessivas restrições dos Estados Unidos. É notório também que a linha de discurso de todo mundo é um mercado mais livre, nos melhores moldes libertários. Significa correr mais riscos e não “proteger” as pessoas de si mesmos e simplesmente deixar a coisa rolar. Por isso eles também tem incentivado esses novos países com leis mais simples.

E, por hoje chega! No próximo episódio vamos ver porque essa discussão de regulamentação é tão importante, o que pode significar criptomoedas no futuro e qual a nossa situação do Brasil em comparação

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