[Akitando] #18 - Motivação: O Diário de Henry Jones

2018 October 16, 17:00 h

Disclaimer: esta série de posts são transcripts diretos dos scripts usados em cada video do canal Akitando. O texto tem erros de português mas é porque estou apenas publicando exatamente como foi usado pra gravar o video, perdoem os errinhos.

Descrição no YouTube

O que o diário de Henry Jones (Indiana Jones e a Última Cruzada) tem a ver com minhas atividades de blogueiro, palestrante e agora YouTuber? Quero contar uma história pessoal que se inicia em 1984 e dura até hoje.

Não subestime uma criança, você nunca sabe o que pode se tornar uma inspiração que pode durar uma vida inteira.

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Script

Olá pessoal, Fabio Akita

Quem me acompanha pelo Instagram sabe que passei as últimas 2 semanas numa peregrinação blockchain. Vou compilar o que aprendi provavelmente semana que vem.

Pensei em começar a contar algumas histórias pessoais, meio inspirado pelo meu episódio de “Devo Fazer Faculdade?”.

A história de hoje é como Indiana Jones me levou a virar blogueiro e, por consequência, começar este canal do YouTube.

(...)

Eu lembro até hoje, em 1989 meu pai me levou no cinema pra assistir Indiana Jones e a Última Cruzada. Eu já era fã de Indiana desde 1984 quando assisti tanto Star Wars o Retorno de Jedi e Indiana Jones e o Tempo da Perdição. Obviamente eu queria ver a Última Cruzada.

Chegamos atrasados pra sessão, quando entramos no cinema já tinha passado a introdução com o Indiana Jones adolescente e já estava na parte em que ele estava recuperando a Cruz de Coronado no navio. Lembro que a sessão estava cheia e assistimos tudo da primeira fileira, vou dizer que foi bem ruim pro pescoço, depois desse dia nunca mais me atrasei pra uma sessão de cinema. Enfim, resolvemos ficar depois do filme até a sessão seguinte pra ver a introdução que perdemos.

Eu gosto bastante desse filme por várias razões, assisti dezenas de vezes desde então, mas um conceito que ficou na minha cabeça sobre esse filme foi o diário de Henry Jones. Eu fiquei fascinado com o conceito de um pequeno livro que contém todo o conhecimento do personagem sobre o assunto do Graal, que ele veio escrevendo ao longo dos anos e que no final tinha as chaves pra resolver os 3 desafios do templo do sol.

Acho que todo mundo tem pequenos ganchos aleatórios como esse. Só faz sentido pra um jovem eu porque naquela época não existia o conceito de Web. Aliás, a palavra “internet” simplesmente não existia. Pra mim existia livros, revistas. Como uma criança de 12 anos eu ficava fascinado que era possível comprimir o conhecimento em volumes de uma enciclopédia. Eu não tinha a Britânica, mas tinha uma versão menor, o Mirador.

Eu não era particularmente estudioso nem nada disso. O que ressoou pra mim é que o diário de Henry Jones não era um enciclopédia. Era um compêndio sobre o Graal, um apanhado dos insights sobre um único assunto.

Outro gancho foi que na época eu tinha outro fascínio: computadores. Eu nunca brinquei na rua, só lia gibi e jogava videogame. Eu não refletia muito sobre computadores, pra mim eram simplesmente brinquedos caros que eu não tinha acesso. Porém, eu tive a sorte de ter um gibi de edição especial da Disney com a História dos Computadores de 1984. A história era muito bem contada, ia desde a origem dos números, do ábaco, passava por coisas como Leibnitz, Konrad Zuze, ENIAC, até o computador moderno - que naquela época eram representados pelos Macintosh e os primeiros IBM PC.

E como eu tinha uma enciclopédia, você pode imaginar que o verbete que eu lia mais vezes era a história dos computadores, que preenchia os detalhes que não tinha no gibi da Disney. Foi quando aprendi sobre Babbage, Lovelace, Turing e tantos outros.

Em a Última Cruzada, o diário era o compilado do trabalho de uma vida inteira de pesquisa. Em 1989 eu tinha 12 anos, na minha cabeça de criança, eu queria um livro como aquele, mas era super frustrante que obviamente eu não tinha nada pra escrever que desse mais que 2 páginas. Minha vida não era particularmente interessante.

Eu gastei algum tempo datilografando a história dos computadores. Coitados dos meus pais, quando criança eu ficava datilografando de noite e isso fazia barulho. Quando meu pai comprou meu primeiro computador, ele também comprou uma impressora matricial, uma Epson FX-1050. Eu era uma criança barulhenta de certa forma.

Foi assim que nasceu um pouco minha vontade de escrever e também meu interesse em história da computação. Meu Graal se tornou a computação. Nunca quis me tornar um especialista, foi só uma daquelas idéias que você tem quando criança que persistem mesmo quando você vira adulto.

Em paralelo, durante os anos 90 eu tinha outra obsessão: mangás e animes. Isso daria um episódio por si só, mas pra resumir aqui, além de consumir eu queria muito escrever a respeito. Eu conheci um grupinho e algumas pessoas que começaram a publicar uma revista chamada Animax, foi logo depois da revista Herói. A Herói era muito mal escrita, num nível que me dava raiva, então eu escrevi algumas matérias pra Animax, em particular sobre Evangelion. E como eu tinha acesso a um servidor web da faculdade, eu fiz um site chamado Animax Plug-in pra publicar matérias sobre meus animes favoritos da época como Evangelion, Gundan Wing, Ranma ½. Foi assim que comecei a escrever publicamente. Não lembro exatamente porque parei.

Eu gosto de explicar as coisas no contexto da história. Por exemplo, não era suficiente pra mim falar de Evangelion, eu precisava explicar a Gainax e seus trabalhos anteriores, Nadia and the secret of blue water, Gunbuster, Wings of Honneamise. E toda vez que escrevi sobre assuntos de computação a primeira coisa que me vinha na cabeça era escrever a história. Eu tenho essa obsessão de pensar em como as coisas chegam onde estão baseado nos eventos anteriores.

Por exemplo, por volta de 2002 eu quis dar um workshop de Java pra consultoria SAP onde eu trabalhava. Era pra ensinar o básico. Mas, claro, em vez de fazer slides mostrando como instalar o JDK, baixar o Eclipse e fazer um Hello World, eu comecei a apostila falando da história do Java. Claro, porque isso seria interessante … só que não.

Eu tenho um grande defeito. Eu nunca quis ser um escritor, eu era programador. Eu queria escrever alguma coisa pra mim. Melhor, sempre que escrevo penso no que eu de daqui 10 anos diria. Eu primeiro penso em mim, e é secundário se outra pessoa vai ou não gostar. Por isso eu nunca fui muito didático, nem escrevo só sobre assuntos da moda, porque o momento não necessariamente vai interessar o eu de aqui 20 anos.

Em 2006 eu publiquei meu primeiro livro de verdade, o Repensando a Web com Rails. Não era a primeira vez que eu aprendo uma nova linguagem, mas foi a primeira vez que eu fiquei empolgado além do meu normal, o suficiente pra largar minha carreira anterior e cair de cabeça nisso. Novamente, um assunto que daria facilmente outro episódio, mas pra resumir, meu objetivo com o livro era muito simples. Naquela época ninguém dava atenção a um assunto se não tivesse um livro publicado, por isso eu senti a necessidade de publicar em papel. Por outro lado eu não queria que fosse um livro caro e também não queria fazer um livro curto. Então eu cortei meus royalties. Eu faturei exatamente zero reais mas isso ia deixar o livro um pouco mais acessível. E eu não fiz isso por nenhum motivo altruísta, o livro nunca foi o objetivo final, era só um meio. Esse conceito pra mim é importante: eu não faço as coisas porque penso num bem maior ou porque vou ganhar dinheiro, eu faço porque eu quero.

Outra característica: eu tenho alguns momentos obsessivos quando escrevo ou programo. Meu estilo de vida sempre foi insalubre, e eu também não recomendo isso pra ninguém. De novo, eu não faço isso porque me espelho em alguém, por isso espero que ninguém se espelhe nas minhas partes ruins. Em vez de copiar o que eu faço, faça melhor do que eu, é melhor. Toda vez que eu varo noite eu fico frustrado comigo mesmo, porque só significa que eu ainda não sou bom o suficiente pra acabar antes. Não existe mérito em varar noite. Isso dito, como eu trabalhava tempo integral na consultoria SAP eu escrevi o livro nas horas vagas durante o dia, todas as noites, todos os fins de semana e todos os feriados durante um período de mais ou menos 2 meses pra escrever umas 500 páginas. O primeiro capítulo do livro e muitos dos capítulos seguintes começam com algumas páginas de história. Não é simplesmente um passo-a-passo, eu sinto essa necessidade de argumentar qualquer coisa que eu digo em vez de só dizer “faça porque eu disse”.

O blog akitaonrails.com começou como akitaonrails.blogspot.com antes de ter domínio e era mais para publicar notícias e dicas de Rails que eu ia vendo por aí. Levou ainda algum tempo pra começar a escrever conteúdo realmente original. De 2006 até hoje se passaram 12 anos. Eu nunca virei um blogueiro profissional de milhões de acessos. É um blog de nicho, mas mais importante, assim como foi com o livro de Rails, com meu site de anime, com as apostilas, até as datilografias da história da computação: eu nunca escrevo pros outros. Eu escrevo pra mim. Se meu blog só tivesse 1 acesso, de mim mesmo, era suficiente. Eu nunca cobrei pra escrever. Meu blog não tem ads. Meu canal de YouTube não vai monetizar. Porque no fundo, eu fico tentando escrever o diário de Henry Jones. Se eu ficasse pensando em matérias pra monetizar, eu ia escrever sobre coisas que interessam os outros mas não eu mesmo.

Meu blog é a primeira vez que eu cheguei perto de alguma coisa parecida com esse diário. É a coletânea de todas as minhas reflexões sobre pesquisas de assuntos que me interessam em particular e que eu escrevi de tal maneira que mesmo lendo 10 anos depois os argumentos sejam minimamente válidos, e que eu não me contradiga.

Novamente, meu objetivo nunca foi virar um escritor profissional e ganhar pra escrever. Minha obsessão é esse maldito diário. O canal do YouTube é a versão em vídeo do meu blog. O formato mudou. No começo eu tinha interesse em ter um volume em papel, como o diário original do Jones. Do papel pra sites, de sites pra blogs, agora de blogs pra vídeo. A mídia mudou, mas o objetivo continua sendo o mesmo.

Em retrospecto, tudo que eu faço eu faço pra mim, nunca pros outros. Eu sempre fiz tudo sem buscar validação. Eu não preciso muito que os outros digam que estou fazendo certo ou errado. Eu escrevi e gravei sobre porque você não deve procurar fazer só o que ama. Como eu disse naquele vídeo, eu não amo ficar varando noite pra editar vídeo, mas eu gosto de assistir o resultado tipo “da hora, pra um amador como eu, até que esse vídeo não tá vergonhoso, mas eu sei que posso fazer melhor”.

Deve ser muito frustrante quem faz as coisas esperando a validação de alguém. Eu não entendo muito quando as pessoas reclamam que ninguém elogia ou dá feedback positivo no trabalho delas. Me soa muito com uma extrema falta de capacidade de auto-crítica. Eu dou feedback pra mim mesmo. Eu nunca fiz nada porque alguém me motivou. Eu me motivo sozinho. Eu me sentiria muito mal se pra tudo que eu fosse fazer eu precisasse ser validado.

E tudo isso de certa forma nasceu daquele diário de Henry Jones, ele não foi feito pra ser lido por milhões, ele foi feito pra ser lido por uma única pessoa. A experiência pra mim era ver se eu conseguia chegar perto. E, claro é até engraçado pensar em ultrapassar um personagem fictício, é coisa da cabeça de uma criança de 12 anos. O diário de Henry Jones é só um prop de cinema que tem meia dúzia das 300 páginas de verdade. Eu provavelmente já mais que ultrapassei o volume. Agora vocês sabem porque eu consigo escrever conteúdos aqui pro canal: eu venho fazendo isso faz 20 anos. Eu escrevi 500 páginas de um livro. Eu escrevi 1000 posts. Eu produzi dezenas de palestras. Eu venho treinando faz tempo.

Esta história não é uma recomendação, tampouco uma receita. É só isso, uma história. Eu acho que todo mundo tem alguma história que os motiva de alguma forma. Qual é sua história? Compartilhe nos comentários abaixo. Se gostaram desse vídeo mandem um joinha, não esqueçam de assinar o canal e clicar no sininho pra não perder as próximas histórias.

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