[Akitando] #10 - 9 Dicas para Palestrantes: Venda sua Caneta!

2018 September 13, 17:00 h

Disclaimer: esta série de posts são transcripts diretos dos scripts usados em cada video do canal Akitando. O texto tem erros de português mas é porque estou apenas publicando exatamente como foi usado pra gravar o video, perdoem os errinhos.

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Estamos próximos da THE CONF 2018 (21-22 Setembro) e me achei que seria um bom assunto explicar como eu encaro a produção e apresentação de palestras.

Assista para saber quais são 9 principais dicas que eu posso dar para melhorar sua apresentação.

E o que isso tem a ver com "vender uma caneta"??

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Script

Olá pessoal, Fabio Akita

Uma coisa que eu venho fazendo nos últimos 12 anos é dar palestras. Menos hoje do que antigamente porque literalmente eu tenho muito menos tempo. Não sou um palestrante perfeito mas acho que aprendi algumas coisas nos últimos anos que vale a pena compartilhar.

E no final eu quero que vocês me vendam esta caneta.

...

Vamos dividir este episódio em 9 tópicos. O nono é o mais importante então vejam até o final.

Primeiro, não importa que ferramentas você vai usar. Se é Slide.com, Google Slides, PowerPoint ou Keynote. Coloque a menor quantidade de texto possível em cada slide. Na verdade, se você puder colocar ZERO texto é melhor ainda.

Quanto mais texto você coloca nos slides, mais propenso você fica em LER os slides. E nenhuma audiência tem interesse em um apresentador que simplesmente lê os slides. Se for só pra ler, me dá os slides que eu leio sozinho. Os slides precisam COMPLEMENTAR o que você está dizendo, por isso é muito mais útil se você colocar fotos, ilustrações ou diagramas que ILUSTRAM o que você está dizendo.

Segundo, se for slides de código, MUITO cuidado. Se você sabe de antemão que os slides serão exibidos numa TV HD por exemplo, que tem alto brilho e alto contraste, você tem mais liberdade de cores. Se você não souber ou se for um projetor, NUNCA use fundo escuro com letra clara. Prefira fundo claro com letra escura, preferencialmente fundo branco com letra preta. E nunca use nada menor do que 24 pontos de tamanho da fonte. Um projetor projeta sobre uma tela branca, então aproveite esse fato para usar um fundo branco.

Terceiro, esqueça tabelas cheias de números, gráficos muito detalhados, números muito exatos. Diga o que a platéia quer realmente saber. Ninguém se interessa se o número de vendas foi 69.143 unidades ou se faturou 123.456 milhões de dólares. Números precisam de perspectiva. Diga: vendeu 2x mais que o ano passado ou faturou 3x mais que o último trimestre. Números relativos são bem mais marcantes do que números exatos.

Quarto, adicione anotações em seus slides e use numa segunda tela. Sempre anote os pontos principais que você quer dizer em cada slide. Evite ficar lendo na hora da apresentação, mas é sempre bom ter os pontos principais caso você esqueça de alguma coisa na hora. Além disso, digamos que você queira reapresentar seus slides daqui 1 ano, se tiver as anotações vai se lembrar do que era importante falar. Hoje em dia você conecta um HDMI no seu notebook e ele vira uma segunda tela mostrando quanto tempo falta, o próximo slide e as anotações. Escreva pouco, e coloque letras grandes pra conseguir ver rapidamente.

Quinto, procure saber se você vai apresentar com formato 4:3 ou 16:9, ou seja, slides mais quadrados ou retângulos. Use todo o espaço que puder. Vai parecer mais profissional do que seus slides 4:3 ficando com cantos pretos verticais numa tela widescreen.

Sexto, evite qualquer coisa envolvendo internet ou live coding. Eu sei que muita gente gosta de fogos de artifício e às vezes é legal mesmo de ver se o apresentador tem talento. Mas pra audiência faz muito pouca diferença se você está digitando ao vivo ou se é uma gravação. Na realidade, é muito pior pra audiência se acontecer uma falha no meio do caminho. Interromper uma apresentação por problemas técnicos é uma das piores coisas que pode acontecer. Ficar toda hora interrompendo de slide pra editor pra terminal de volta pra slide e um tanto de alt-tab, é entediante ao extremo, ninguém gosta, e apesar da graça de poder dizer "olha só, funcionou ao vivo", no final todo mundo vai esquecer isso se o que você quer dizer ficar confuso. Simplesmente não faça. Se precisar fazer uma demonstração, GRAVE, no Mac você tem ferramentas como ScreenFlow, no Windows você tem OBS. Configure seu ambiente pro terminal ter fundo branco como já falei acima, com letras enormes, com tudo maximizado, ou seja tudo do jeito que é o oposto do que você provavelmente usa hoje (eu por exemplo uso o tema Solarized Dark ou Gruvbox, que é excelente pra trabalhar mas horroroso pra apresentar, o tema Mac Classic é o melhor pra slides). Uma gravação de um live coding tem exatamente o mesmo efeito no final com a vantagem que você pode repetir várias vezes e o resultado é 100% previsível todas as vezes. Sua audiência agradece.

Sétimo, faça backups das suas apresentações. Coloque em OneDrive, Dropbox, leve em pen drive. Já vi muitos problemas por causa da falta de ter um backup. Nunca confie no seu notebook apenas, ele pode falhar. E de preferência tenha uma versão em PDF, que pode ser aberto em qualquer computador. A qualidade vai cair porque não tem animação nem transição, mas na pior das hipóteses ainda é melhor do que ficar com zero slides. Eu já passei por isso, então não custa se precaver. Só porque nunca aconteceu, não quer dizer que nunca vai acontecer.

Oitavo, treine. Quando terminar de editar seus slides, apresente em voz alta pra você mesmo. Pelo menos umas 2 vezes, e cronometre. Toda vez que você ver que dá uma travada no mesmo lugar pode ser que o slide em questão não seja tão bom quanto você pensava, talvez você precise mudar de lugar. Você vai notar que algumas partes são mais longas do que você imaginava e as partes importantes ficaram curtas. Arranque fora alguns slides. Coloque outras no lugar. Esse é o processo de edição. A maioria dos palestrantes de primeira viagem vai adicionando slides e quase nunca arranca slides fora. É como programador iniciantes que acha que só avança se adicionar código. Apagar coisas pra ganhar balanço é parte importante do processo. No final você não quer que sua audiência fique entediada. A pergunta que você precisa fazer é: os slides estão reforçando a mensagem da apresentação? Ou viraram tangentes que - apesar de parecerem importantes pra você - no final não está contribuindo pra mensagem?

Ok, essas são as 8 dicas que sempre me ajudaram. Mas tudo isso que acabei de dizer não tem importância nenhuma se você não entender a nona e última dica: qual é a mensagem?

Essa é de longe a parte mais difícil, eu levei anos pra entender isso, e até hoje ainda tenho problemas com isso. Deixar uma mensagem clara no final.

Uma palestra tem no máximo 1h. É muito pouco tempo para ensinar código passo a passo. É impossível ficar 1h mostrando código e achar que a audiência vai sair com alguma coisa prática. Screencasts são bons formatos porque o usuário pode pausar, voltar alguns minutos, repetir várias vezes. Mas uma palestra ao vivo é completamente diferente.

Vocês assistiram o filme Lobo de Wall Street? Tem uma passagem que eu achei sensacional e que já foi discutido muito porque é um cliche em muitas entrevistas de emprego.

.... Me venda esta caneta.

É isso que você está fazendo numa palestra, vendendo a caneta. E quais são os jeitos errados que todo mundo faz?

Primeiro, você começa tentando se vender. É a parte mais entediante de uma palestra quando o apresentador gasta 10 minutos listando seu currículo. Eu fiz isso, estudei aquilo, já trabalhei na multinacional X, na startup Z. Diga somente a parte que é relevante à palestra. Uma introdução do apresentador tem que acabar em 1 minuto.

Segundo, você passa um tempão descrevendo a caneta. A qualidade de construção da caneta. Os materiais. A fábrica. A biografia dos designers. Quão ambientalmente correto é a produção dessa caneta.

Terceiro, você passa outro tempão demonstrando a caneta. Olha a precisão da linha, como é suave no papel, como a tinta não borra, como as cores são vivas. como não escorrega na sua mão.

E depois de tudo isso, você não vende a caneta.

Você gasta todo seu tempo falando de você, falando das qualidades da caneta, mas não QUAIS REAIS problemas ela resolve PRA audiência. Ou POR QUE alguém deveria se importar?

Você pode ter a caneta mais evoluída da face da terra em termos de qualidades. Mas isso não importa tanto quanto você pensa. Sendo mais específico pra nossa área, essa caneta pode ser um novo framework, uma nova linguagem ou algo assim. Ok, você apresentou como no Netflix ou Facebook ela é capaz de aguentar 20 milhões de transações por segundo. Bacana. Quem da sua audiência tem o problema de ter 20 milhões de transações por segundo? 99% está batalhando pra conseguir terminar o produto, ter 1 acesso, que dirá milhões. Que diferença faz sua nova brilhante tecnologia nesse cenário?

Você assume que se o Google, ou o Facebook ou o Netflix usam, então deve ser bom pra todo mundo. Não, tá errado. Ninguém é o Google, ou o Facebook ou o Netflix.

O problema é que normalmente todo palestrante faz a palestra usando como base ele mesmo, as próprias circunstâncias. Ou pior, simplesmente repete o discurso dos outros sem nunca ter de fato batalhado centenas de horas sem dormir pra entregar um produto e aguentar ele de pé.

Uma palestra é um pitch de vendas, você quer que sua audiência compre sua solução. Mas sua solução não é universal.

Então, a parte mais importante da palestra: em vez de ficar mostrando dúzias de códigos de porque teoricamente ela funciona, gaste mais tempo explicando DE QUE MANEIRA ela soluciona problemas do mundo real, da maioria das pessoas. Esse insight é importante, o como a ferramenta funciona qualquer um pode entrar no Google e procurar, mas pra ele ter esse interesse primeiro ele precisa ser convencido de que há chance disso solucionar um problema real, senão a apresentação vai ser só mais um panfleto de marketing sem nenhum valor.

Uma palestra é um exercício de vendas. Vendas tem a ver com convencimento. Para convencer uma platéia você precisa se conectar a ela. E para se conectar a ela você precisa contar uma boa história, que toque no emocional, nas dores reais, não num ideal dogmático do panfleto de alguma grande empresa.

E essa são minhas dicas. Fazer palestras não é fácil, e você não precisa acertar tudo de uma só vez. Eu vim fazendo errando e melhorando ao longo de mais de 200 palestras. E você? Tem dicas pra compartilhar? Não deixe comentar abaixo. Se gostou do episódio mande um joinha, assine o canal e clique no sininho. Nos vemos na próxima, até mais!

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