Rubyconf Brasil 2013: Lembrando de _Why. Engenharia vs Arte

2013 August 24, 22:26 h

Se você ainda não se inscreveu, não perca a oportunidade. Vá ao site oficial para se cadastrar agora mesmo! A conferência inicia no dia 29 de Agosto, estamos em contagem regressiva com apenas 5 dias para o grande dia! #ZOMG

Segunda feira, dia 19 de Agosto, completou-se exatamente 4 anos da "morte" do personagem _Why, The Lucky Stiff. Nem todos os mais novos na comunidade Ruby vão se lembrar dele, mas os mais experientes certamente ainda tem lembranças do seu trabalho e do choque de sua "morte".

Why

“quando você não cria coisa, você se torna definido pelos seus gostos em vez de suas habilidades. seus gostos apenas reduzem e excluem as pessoas. então crie.”

― Why The Lucky Stiff

Muitos dos melhores rubistas do mundo se influenciaram com seu trabalho e em particular com seu magnum opus, "Why's Poignant Guide to Ruby", certamente o mais original livro para aprender uma linguagem de programação já criada. E também existe uma versão em português, traduzida pela comunidade com a iniciativa do Carlos Brando alguns anos atrás.

Somos todos engenheiros no mundo de programação, por isso as atitudes de Why são tão contrastantes com nosso jeito de pensar. Ele encarou programação literalmente como arte. Um engenheiro cínico não considera seu trabalho como arte, mas programação é certamente uma forma de expressão.

Muitos engenheiros, especialmente os comprometidos em colaborar com projetos open source se sentiram mal quando um autor de projetos open source resolveu deliberadamente retirá-los do ar sem aviso prévio. É uma coisa impensável para qualquer um do mundo open source. Muitos o odeiam até hoje por causa disso.

Eu por outro lado, pessoalmente acredito que entendo bem porque ele fez o que fez. Alguém que compreende o modo de pensar Individualista e é contra a escravidão do Coletivismo e Altruísmo certamente poderia compará-lo ao icônico personagem Howard Roark, do romance The Fountainhead, de Ayn Rand. Eu escrevi sobre isso no artigo em inglês "_Why, Ruby Dramas, and Dynamiting Courtlandt". Muitos que o odeiam acham que ele não tinha o "direito" de apagar seus próprios projetos. Apesar de entender isso, do ponto de vista dele, sim, ele tinha todo o direito de fazer o que quisesse. Quando outros decidiram colaborar ou usar esses projetos, eles o fizeram entendendo que apesar de poderem "usá-los" ele não retiraram de _Why a sua "propriedade", e com nossa propriedade podemos fazer o que bem entendermos, inclusive dinamitá-lo. Ninguém tem o direito de retirar nossa propriedade das coisas que criamos, e certamente não tem o direito de escravizar nossas capacidades em nome de um "bem maior".

Para mim, na verdade, o fato dele ter deletado seu trabalho foi a maior lição a quem quer se tornar um artista: um artista não faz arte que as pessoas vão gostar, ela faz arte que ela gosta. Se as pessoas vão gostar ou não é uma consequência secundária. Ninguém deve fazer nada para os outros, mas para si. E em fazendo o melhor para si, automaticamente os outros talvez vão se beneficiar disso. Essa é a essência da arte.

Engenheiros tem a mania de calcular "valor" como algo tangível e mensurável como "horas de programação", "horas de colaboração em comunidades", "quantidade de código gerado", "quantidade de pessoas usando seus projetos". Só que "valor" é na sua essência o quanto alguém está disposto a pagar para usá-lo. Para um engenheiro é um conceito alienígena pensar que um pedaço de papel com um punhado de tinta possa valer milhões de dólares enquanto suas horas de programação valem poucas centenas de reais. Pior ainda, bons trabalhos de arte se valorizam quanto mais ficam velhos enquanto seu código desvaloriza a cada dia. Valor é muito mais do que horas de trabalho.

Independente dos que ainda o adoram e aqueles que o odeiam, é inquestionável que _Why deixou sua marca. Uma comunidade tem muita sorte de poder contar com uma mitologia. A maioria das mitologias do mundo da programação são muito ruins. No máximo estamos falando do criador de uma linguagem, do criador de um framework. Eu acho isso muito pouco. Os nomes realmente relevantes são aqueles que mudaram ou influenciaram nosso modo de pensar de alguma forma, pessoas como Turing, Backus, McCarthy, Ritchie e assim por diante definitivamente fazem parte do círculo maior da nossa mitologia.

Dentro de nossa pequena comunidade, _Why foi o que definiu Ruby com palavras como "elegância", "criatividade". Hoje já tiramos certas coisas como "óbvias", "rotineiras", mas outrora elas eram a forma "errada" ou mesmo ignoradas. Sejam microframeworks, DSLs amigáveis, toolkits gráficos, geradores de código, geradores de blogs estáticos, linguagens de template. Veja o espelho dos seus projetos no whymirror. A maioria concorda que a qualidade técnica do seu código não é das melhores e nem deve ser copiada, mas as interfaces e APIs certamente foram grandes inspirações pra projetos que usamos até hoje como Psych, Sinatra, Nokogiri, etc.

A comunidade Ruby possui uma mitologia que fica cada vez mais rica, e _Why seria o Zeus dessa hierarquia, junto com nomes com o próprio Matz, Jim Weirich. Um engenheiro segue procedimentos, faz métricas, estabele "melhores práticas" e evolui um pequeno passo de cada vez. Um artista pega tudo isso e cria o caos, gira do avesso e, às vezes, damos um salto ordens de grandeza maior e mais rápido. É o que precisamos fazer mais e mais: criar, não apenas copiar e evoluir mudando pequenas coisas.

O programador brasileiro Diogo Terror escreveu um artigo em inglês para a revista Smashing Magazine em maio de 2010 chamado _Why: A Tale Of A Post-Modern Genius. Vale a pena ler para entender um pouco mais dessa história. Existiu também um rumor que _Why poderia estar retornando, em Janeiro deste ano muitos publicaram indícios sobre isso mas até hoje nada se concretizou e continua recluso e incomunicável.

Então, eu publiquei outro artigo em inglês chamado _Why Documentary at Rubyconf 2012, Denver em Setembro de 2012. O criado do documentário sobre o _Why comentou no meu blog e lá foi feito o convite:

Convite

Aliás, daí vocês podem ver que a data da Rubyconf Brasil é definida com muita antecedência.

Finalmente, Kevin Triplett, da Abraxis Productions e eu vamos realizar a abertura da Rubyconf Brasil 2013 com o documentário sobre o _Why, que eu estou traduzindo para o português neste exato momento a partir do timing realizado pela comunidade japonesa que organiza a conferência RubyKaigi do Japão. Não perca a abertura do evento exatamente às 9 da manhã do dia 29 de Agosto, quinta-feira. Acorde cedo!

SRT

Nosso trabalho do dia a dia é estressante, é pesado, é cinza e por muitas vezes desinteressante. Ninguém pode nos motivar a não ser nós mesmos, e histórias como do _Why sempre servem de inspiração para fazer as coisas diferentes. Pois como diria outra grande inspiração:

Steve Jobs

tags: rubyconfbr2013

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