Opções de hospedagem Rails: AppFog

2013 May 02, 17:52 h

Como disse no artigo anterior, na dúvida, use o Heroku. Mas depois disso, alguns perguntam se existem outras alternativas. De fato existem várias. Agora é a vez de outra opções, o AppFog foi uma das mais interessantes que usei.

Appfog

Ela tem algumas características semelhantes e outras diferentes do Heroku. Vamos a alguma delas:

Precificação

A parte da precificação é onde a AppFog mais se diferencia dos demais, ao mesmo tempo oferecendo vantagem e desvantagem.

O que eles fazem é oferecer pacotes pré-pagos que inclui:

Por exemplo, tem 3 camadas no limite de 2GB: o free (que só permite domínio *.af.cm), o que não tem suporte a SSL e o que tem suporte a 1 endpoint SSL. Respectivamente o preço varia de USD 0, depois USD 20 e USD 50.

Esses 2 GB podem ser distribuídos entre servidores web, e até 8 instâncias de serviços (bancos de dados). O que dá pra fazer com isso? Em uma conta de USD 20 eu coloquei 7 sites pequenos, respectivamente com:

Lembram que um dyno no Heroku é de 512Mb? O problema de um dyno fixo é que sites pequenos desperdiçam espaço e sites grandes não cabem. No caso do AppFog ele me deixa decidir quanto quero alocar para cada site até o mínimo de 128Mb. Então, em 2Gb ou eu faço 16 sites de 128Mb cada, como posso fazer uma única instância de 2GB de uma vez só.

Agora vem o problema: se eu quiser usar mais de 2GB (no momento, nessa conta que estou testando já usei 1.66GB e 7 dos 8 serviços) o próximo plano é de 4GB com 16 serviços por USD 100. Acima dele é de 16GB com 64 serviços a USD 380, e o maior é de 32GB com 128 serviços a USD 720.

Eu não diria que é caro, mas o preço salta em pulos muito grandes de um para o outro. No Heroku, acima de USD 36 por uma dyno, posso ir escalando em pulos menores de menos de USD 36. O modelo de negócios do Heroku é "on-demand" o do AppFog é "pré-pago". O pré-pago tem preço de entrada menor mas pode ficar caro mais rápido do que o Heroku dependendo do tipo de aplicação.

Na teoria os preços do Appfog são bem mais em conta que o Heroku. No caso anterior, estou gastando 10 instâncias de Heroku a aproximadamente USD 323, mais USD 400 de banco de dados. No AppFog eu teria que escolher provavelmente o plano de 16GB, que custa USD 380. No Heroku, o próximo salto com mais uma dyno iria de USD 323 para USD 431. No AppFog eu precisaria pular pro plano de USD 720.

A grande maioria dos sites não vai planos muito maiores que o de 4GB, que custa USD 100, o equivalente a 2 dynos no Heroku, sem contar banco de dados. Nesse caso o AppFog pode ficar no mínimo 2 vezes mais barato. Quando chegar no plano dos USD 380 ou USD 720 é que pode fazer um pouco mais de diferença, mas mesmo assim o AppFog ainda parece continuar mais barato.

Porém onde o Appfog sai mais barato, também não tem algumas funcionalidades cruciais.

Maior Problema

O maior problema do AppFog são os serviços de bancos de dados. Primeiro de tudo: ele não oferece serviços de backup e restore. Ele espera que você faça seu próprio backup, o que é um absurdo. Ou seja, se você tem dados de missão crítica, não use o AppFog até ele ter no mínimo backup e SLA para tempo de resposta em emergência.

Tem muita pouca informação sobre o tuning dos bancos de dados. Eu espero que não seja a configuração padrão que vem na instalação, que são sempre muito ruins para produção. O Heroku Postgres configura as instâncias com ignorantes GIGABYTES de cache.

Não dá pra escalar os bancos horizontalmente, fazendo master-slave. No Heroku Postgres existe a opção de Follows.

Como disse no artigo anterior, a funcionalidade matadora do Heroku é definitivamente o Heroku Postgresql. Eu não recomendaria o AppFog para clientes por causa dessa enorme deficiência no suporte a banco de dados. Não adianta nada conseguir escalar instâncias web se o próximo gargalo vai ser o banco de dados. É o dilema mais antigo da literatura web e o que a maioria dos PaaS ainda não resolveu decentemente.

Setup e Deployments

Depois de instalar a gem o processo é bem simples:

1
2
3
# só a primeira vez
$ gem install af
$ af login

Para criar a aplicação, a partir do diretório o código do seu projeto, faça:

1
af push sua_aplicacao --runtime ruby193

Ele vai fazer várias perguntas que devem ser simples de se responder:

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
Would you like to deploy from the current directory? [Yn]: y
Detected a Rails Application, is this correct? [Yn]: y
1: AWS US East - Virginia
2: AWS EU West - Ireland
3: AWS Asia SE - Singapore
4: Rackspace AZ 1 - Dallas
5: HP AZ 2 - Las Vegas
Select Infrastructure: 1
Application Deployed URL [teste.aws.af.cm]:
Memory reservation (128M, 256M, 512M, 1G, 2G) [256M]: 128M
How many instances? [1]:
Bind existing services to 'teste'? [yN]: n
Create services to bind to 'teste'? [yN]: y
1: mongodb
2: mysql
3: postgresql
4: rabbitmq
5: redis
What kind of service?: 2
Specify the name of the service [mysql-e4aa3]: teste-db
Create another? [yN]: n
Would you like to save this configuration? [yN]: n

Agora, toda vez que atualizar o código, para fazer um novo deployment faça:

1
af update sua_aplicacao

Existe um problema que o Appfog diz que sabe que existe mas continua me irritando profundamente. Depois de tentar rodar a aplicação ele precisa fazer o processo de rodar migrations, executar asset precompiling, e isso pode demorar. Parece que o comando fica preso e dá timeout, e com isso o aplicativo fica num estado não finalizado. Você precisa ficar tentando rodar o update repetidas vezes até finalmente ele conseguir subir.

Appfog response

Um dos problemas pode ser que sua instância esteja muito pequena em tamanho de memória e a tarefa de asset precompiling pode consumir muita RAM no processo e dar crash por falta de memória. Se a aplicação for muito grande em assets uma coisa que pode ser feita é gerar o precompiling localmente antes do update. "Parece" (não confirmei) que ele sobe os assets no update e aí o precompiling (aliado ao turbo-sprockets) não precisa repetir o processo no deploy.

Novamente, como no Heroku, ele não tem opção de zero downtime, para não tirar a aplicação do ar durante um deployment, então use um horário de pouco movimento para essas atualizações, especialmente por causa de problema atual de timeout de conexão.

A diferença do plano grátis para o plano inicial de USD 20 é que só no plano pago você pode apontar seu domínio. Para mapear a aplicação faça:

1
af map sua_aplicacao www.sua_aplicacao.com.br

E no seu serviço de DNS aponte o naked domain (sem subdomínio) como um redirect para o www e faça o www ser do tipo CNAME apontando para cname01.aws.af.cm. Esta documentação explica em mais detalhes.

Tunnel

Uma opção que inicialmente é interessante mas depois é bem chata é em como se conectar diretamente no banco de dados ou como rodar tarefas rake por exemplo. No Heroku é muito simples como expliquei no artigo anterior, no AppFog é um pouco burocrático.

Pra começar, uma coisa que não mencionei é o AppFog é construído sobre o CloudFoundry.org, o PaaS da VMWare que tem partes open source. Na Rubyconf Brasil 2012 o Martin Englund apresentou essa plataforma, assista à gravação da palestra.

Voltando ao assunto, a forma para acessar seus serviços é usar uma funcionalidade chamada caldecott. Em essência você pode criar um servidor que vai servir de túnel entre você e seu serviço, mapeando uma porta local. No caso ela usa a porta 10000 do seu localhost.

Para abrir um túnel é simples, apenas execute:

1
af tunnel

A partir daí basta escolher qual serviço você quer se conectar:

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
1: foo1-db
2: foo2-db
...
7: foo7-db
Which service to tunnel to?: 7
Getting tunnel connection info: OK

Service connection info:
  username : usM...XDS
  password : pCS...sN1
  name     : d92...05e
  infra    : aws

Starting tunnel to tinyclone-db on port 10000.
1: none
2: mysql
3: mysqldump
Which client would you like to start?: 1
Open another shell to run command-line clients or
use a UI tool to connect using the displayed information.
Press Ctrl-C to exit...

Se for um mysql você pode conectar assim:

1
mysql -u usM...XDS -ppCS...sN1 -h localhost -P 10000 d92...05e

Obviamente, vai aparecer um usuário, senha e nome do banco diferentes. Anote o seu e faça a conexão.

Agora, digamos que você queira executar alguma tarefa rake, ou mesmo abrir o console do rails. Para isso você vai precisar ter mais trabalho. Edite o arquivo config/database.yml local do seu projeto e adicione a seguinte configuração no final:

1
2
3
4
5
6
7
8
appfog:
  adapter: postgres
  encoding: UTF8
  pool: 5
  database: d92...05e
  username: usM...XDS
  password: pCS...sN1
  port: 10000

Agora você pode executar comandos assim:

1
RAILS_ENV=appfog rails console

Cuidado, se precisar de configurações de ambiente, copie o config/environments/production.rb para config/environments/appfog.rb

Não é confortável como um heroku run rails console mas funciona.

Paliativo para o Backup

Não ter um backup me deixa nervoso. Como paliativo (e um paliativo bem ruim, deixemos claro) fiz o seguinte script:

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
#!/bin/env ruby

# add to your crontab:
# * 5,13,22 * * * backup_appfog.rb
APPFOG_BIN = "#{ENV['HOME']}/.rvm/gems/ruby-1.9.3-p392/bin/af"
BACKUP_DIR = "#{ENV['HOME']}/Documents/Appfog-Backup/"
dbs = %w(foo1 foo2 foo3)
dbs.each do |db|
  puts "backup: #{db}"
  `#{APPFOG_BIN} export-service #{db} > #{BACKUP_DIR}#{db}.log`
end

dbs.each do |db|
  log = File.read("#{BACKUP_DIR}#{db}.log").split("\n")
  url = log.select { |line| line =~ /^http/ }.first
  puts "download: #{url}"
  `curl -o #{BACKUP_DIR}#{db}.dump #{url}`
end

Customize para seu gosto (mudando nomes de diretórios e bancos de dados, claro) e adicione no crontab mais ou menos assim:

1
* 5,13,22 * * * /seu_diretorio_home_/.rvm/rubies/ruby-1.9.3-p392/bin/ruby /seu_diretorio_home_/backup_appfog.rb

Novamente, mude a frequência (no exemplo, ele só vai executar às 5h, 13h e 22h), local do executável do Ruby (dependendo se está instalado nativo, com RVM ou RBENV) e nome do script.

O dump que ele baixa é um arquivo em formato gz (tipo Zip). Use a ferramenta do mysql ou pg_restore ou outro dependendo do banco para restaurar local, por exemplo.

Outra forma (que não dá pra colocar no cron e rodar automaticamente) é abrir um túnel como expliquei acima e usar diretamente o mysqldump e pg_dump a partir dos dados de conexão que ele fornece.

Conclusão

Como disse antes, estou rodando já 7 sites na conta de USD 20 da Appfog. Como podem imaginar não são sites pesados e respondem rápido ao tráfego.

Me incomoda muito as atuais deficiências do banco de dados. Não ter backup é o pior deles, seguido por não conseguir facilmente escalar horizontalmente criando slaves read-only.

A ferramenta de linha de comando tem dezenas de opções, muitas até que o Heroku não tem, mas ela tem esse bug horrível de dar timeout e deixar o servidor em estado instável o que prejudica o downtime em todo deployment. Eles precisam consertar isso logo.

O estilo de "pré-pago" não funciona pra todo mundo. No meu caso, como não pretendo ir muito acima dos USD 50 com isso, é o suficiente. Pra muitos sites pequenos, o próprio plano de USD 20 vai ser mais do que suficiente e nesse sentido ele tem um custo muito mais barato do que o Heroku.

Escalar os servidores web horizontalmente é simples, mas novamente vai estar limitado a quanto o banco aguenta, e nesse momento não sei dizer porque ele não documenta isso (pelo menos eu não achei). Também gosto do fato de estar tudo implementado numa plataforma robusta como o CloudFoundry, que só tem a evoluir principalmente depois que a aquisição da Pivotal Labs pela EMC gerou o Pivotal One.

No geral é uma boa solução, especialmente se você quiser misturar num mesmo ambiente coisas como PHP (que o Heroku não suporta), com banco de dados MySQL (novamente, que o Heroku não suporta).

tags: obsolete hosting

Comments

comentários deste blog disponibilizados por Disqus