Não sou um especialista da divisão geopolítica da região, mas pra mim a referência sempre foi a Market St. Você encontrará paralelas a ela como Mission St. para baixo, e perpendiculares a ela onde a ruas são numeradas e ordenadas, como 5th St. Muitas das estações seguem abaixo da Market St. Quanto mais puder ficar próximo à região da Union Square, melhor, na minha opinião.
Em termos de "bairros" ou regiões principais que eu imaginava, temos ao norte da Market St. as regiões de Civic Center, Tenderloin, Downtown, Chinatown. Ao sul da Market fica Castro District, Mission Dolores, Mission District, South of Market (SoMa), Financial District, Mission Bay. Não tive tempo de visitar as áreas de Castro, Mission Dolores e Financial. A Market St divide esses bairros de leste a oeste e esse trecho é curta o suficiente para poder andar inteira a pé. Para ter uma idéia, fiz 26 checkins no Foursquare em SoMa, 10 em Mission Bay, 10 em Downtown, 6 em Mission District, 5 no Civic Center, 3 em Tenderloin e mais alguns avulsos espalhados pela cidade.
Mas como disse, quase não planejei minha viagem então meu agente de viagem escolheu um hotel chamado Embassy que fica próximo à Polk St. com Turk St. Não é exatamente um local ruim, mas como seguro morreu de velho, não recomendo andar sozinho à noite pela Turk. Na prática acredito que não existe muita coisa para temer mas você encontra uns tipos estranhos por lá. Aliás, uma coisa que eu não esperava era encontrar tantos mendigos pelas ruas. Na maior parte são bem inofensivos, mas você esbarra com um a cada metro que anda pelo centro. Dizem que a cidade tem muitos abrigos e cuidados por isso eles estão por lá.
Falando em estranho, o hotel em si não é ruim. Ele é um pouco antigo, mas bem cuidado, um pouco apertado mas com quartos razoáveis e limpos. Porém o hotel é vizinho e acima de um bar-baladinha chamada Noble. Quem tem problemas de sono leve ou insônia provavelmente não iria gostar. No meu caso, capotei sem problemas. E a curiosidade foi que de manhã cedo, do lobby do hotel abre uma porta, fechada durante a noite, que conecta à tal balada, que já está limpa e servindo o café da manhã. Um ambiente inesperado pra um café, pena que não tive tempo de ir nessa balada.
Nesse domingo, segui com minha primeira missão: conseguir conexão para voltar a ficar online. A internet dos hotéis são sempre ruins. A vantagem de São Francisco nessa região é que tudo fica próximo, e andar 2 ou 3km não é nenhum desafio já que boa parte da cidade é plana. Então fui até um lugar que já conhecia: Westfield, perto da 5th St. com a Market St., um Shopping Center onde eu sabia que encontraria um quiosque da T-Mobile.
Dica: meu iPhone antigo não era desbloqueado por isso um SIM card pré pago não seria bom pra mim. Então comprei um Hotspot WiFi 4G, que se conecta via celular mas cria uma rede WiFi móvel que meu iPhone e qualquer outro dispositivo pode se conectar, e assim meu iPhone passou a funcionar em qualquer lugar. Outra opção seria um Android baratinho para fazer tethering.
E com a conexão de volta, finalmente, consegui encontrar meus amigos Santiago Pastorino, José e Sebastián da WyeWorks, tomando café num Starbucks próximo. Depois disso fui almoçar e continuei procurando amigos via Twitter, Facebook, foi quando encontrei o Alex MacCaw como mencionei no artigo anterior.
Ao mesmo tempo que encontrei o Alex também consegui me conectar com o brasileiro Vinicius Baggio que muitos dos leitores aqui já devem conhecer, atualmente trabalhando na Pivotal Labs. Acabei conhecendo também outra figura interessante: Martin Aumont, programador no Twitter. Um canadense - se entendi bem - que fala português perfeitamente inclusive com a malandragem brasileira. Foi uma excelente companhia nos próximos dias também, que gostei muito de ter conhecido. Ele fala português melhor do que eu falo inglês, e fica um puxão de orelha para quem ainda tem preguiça de aprender outras línguas.
Já havíamos nos encontrado novamente com os amigos uruguaios e outras pessoas, então o Domingo que iniciou comigo sozinho terminou em jantar num excelente restaurante tailandês Lers Ros Thai. Foi meu primeiro tailandês e recomendo para qualquer um que goste de comida asiática.
Da segunda-feira até quarta-feira foi o Techcrunch Disrupt, como já reportei no primeiro artigo desta série.
Em todos os dias, no começo da noite, algum patrocinador do evento estava organizando alguma festa. Festas informais costumam ser bons locais para conhecer mais pessoas. E normalmente havia mais de uma festa acontecendo na cidade ao mesmo tempo. No primeiro dia, porém, tive a chance de visitar o Transamerica Pyramid onde a Red Point e a e.Ventures estavam celebrando sua parceria para iniciar negócios no Brasil.
Já do lado Disrupt, depois do coquetel no Pyramid, fomos à balada Mighty patrocinada pela New Relic. A festa em si não estava ruim, mas para meus objetivos não me pareceu muito promissor, muito escuro, muito apertado, muito barulhento, por isso decidi sair cedo. Na verdade esse padrão se repetiu nos dias seguintes, não aproveitei muito nenhuma festa.
No Disrupt me encontrei com diversos brasileiros que estavam lá para expor suas Startups. Alexandre Gomes e sua trupe invadiram a cidade em peso. Literalmente, pelo que entendi eles vieram num grupo de pelo menos 20 pessoas, que inclusive alugaram 2 vans para conseguirem se locomover desde Redwood City, perto do meio do antigo Vale do Silício, até São Francisco - ótima idéia para grandes grupos. Mas também por isso, depois do Disrupt tivemos poucas chances de nos ver de novo. Mas foram excelentes companhias nessas festas, como na que foi no prédio da Zynga, que é vizinha do The Concourse.
E depois do Zynga, festa na Adobe, alguns quarteirões de distância.
No fim dessa semana, as últimas festas que pude participar felizmente tinham mais rostos conhecidos da comunidade Ruby, como a inauguração do escritório do Living Social onde pude reencontrar velhos conhecidos como Chad Fowler e Josh Susser.
Ou também a festa depois do evento Gogaruco (Golden Gate Ruby Conference), patrocinado pela Yammer, onde reencontrei mais velhos conhecidos como Glenn Vanderburg, Charles Nutter, e ainda pude conhecer pessoalmente alguns rubistas que só conhecia via Twitter, como Avid Grimm, que estava tentando incentivar todo mundo a dançar mas acabou quase sozinho na pista de dança. (#geeks, como ele diria).
E para quem estava na festa, fizemos uma rápida dança do chapéu com várias personalidades:
Nós latinos, estávamos invadindo as festas em massa. Galera do Uruguai (WyeWorks) e Argentina (Eventioz):
Eu não fui com a intenção de participar do Gogaruco, que aconteceu na mesma semana, sexta e sábado, portanto só participei rapidamente das festas no fim de quinta e sexta.
Tecnicamente eu tinha hotel reservado somente até o dia 12, quarta feira que seria o ultimo dia do Disrupt, depois eu deveria encontrar outro lugar, era parte da estratégia. De fato a região do Embassy não era o lugar ideal para se estar. Então encontrei outro razoável, na 5th St. com Mission St. chamado The Pickwick.
Além de ser melhor que o Embassy ele estava a um quarteirão da Market St. que é onde você quer ficar. O plano original era para eu ficar até a semana seguinte e depois mudasse novamente de hotel, possivelmente indo para outra cidade como Palo Alto, para conhecer mais do Vale do Silício. Infelizmente tive um problema familiar que me fez adiantar a volta do dia 24 para o dia 17. Por isso ainda não tive a chance de conhecer Palo Alto como gostaria, vai ficar para uma próxima jornada.
Depois de mudar para o The Pickwick, não lembrava que nesse mesmo dia haveria o tão esperado anúncio do novo iPhone 5 e, por coincidência, o local do evento seria o Yerba Buena, vizinho do Metreon e do complexo do Moscone Center. Então antes de ir para o último dia do Disrupt resolvi passear em frente ao Yerba. Como esperado, o local estava decorado para o evento da Apple com um grupo de pessoas do lado de fora acompanhando uma equipe acho que da NBC transmitindo ao vivo todas as novidades que eram anunciadas do lado de dentro. Obviamente eu não tinha como assistir do lado de dentro, mas foi divertido acompanhar um pouco do lado de fora.
No dia seguinte ao fim do Disrupt, quinta feira, resolvi fazer outra pesquisa. Queria conhecer opções de moradia para períodos mais longos, e esbarrei nos tais "Vantaggios" - dica do Vinicius Baggio, que quando se mudou ficou um tempo num desses. São como os nossos "flats", até mais para repúblicas. Se um dia você quiser passar um período mais longo, como um mês ou mais, um hotel não é uma escolha acessível, pois pagar USD 1 mil por semana é caro. Mas um Vantaggio pode ficar na faixa dos USD 1,5 mil pelo mês inteiro. Não são bonitos como um hotel, tem cara de albergue, mas são limpos o suficiente, e ainda oferecem serviços como limpeza uma vez por semana, alguns quartos com banheiro próprio, e áreas comuns como cozinha e até sala de internet.
Fui visitar um numa área até que boa, duas ruas acima da Market St., em Downtown, a poucos minutos a pé da Union Square, do metro e do Bart, ou seja, fácil de se locomover para qualquer lugar. Porém a recepção que tive não foi das melhores. O atendente que encontrei, vamos chamá-lo de José para facilitar, começou já meio que me dando uma bronca por aparecer sem ter marcado por telefone antes. Eu expliquei que não tinha problema e que podia voltar outra hora se fosse o caso, mas ele mandou esperar e ficou resmungando ...
Eu disse que queria informações e ele começou perguntando se eu era brasileiro. Então começou o muro das lamentações de como ele recebe muitos brasileiros, como eles reclamam muito, arrumam confusão e toda essa ladainha. Eu pacientemente escutei, engatei na conversa até que ele finalmente pareceu que foi com minha cara e ficou mais simpático. Até me mostrou alguns quartos e outras áreas comuns. Parece que existem outros Vantaggios em São Francisco muitos do mesmo dono. Uma vantagem é que se um dia ligar para reservar e não tiver espaço, ele consegue checar disponibilidade entre os outros da rede.
Outro detalhe importante é que se precisar, o ideal é reservar períodos longos (mais de um mês) com pelo menos três meses de antecedência. Se ligar somente um mês antes pode não ter vaga. Imagino que ele quis ser preciosista ou tentou vender seu peixe por mais do que vale. Mas certamente existem épocas do ano que lotam mais, já que ele disse que tem muitas agências de viagem que mandam estudantes, por exemplo - os tipos que ele parece desgostar bastante.
Por tudo que vi, no final das contas um Vantaggio parece uma boa opção para quem quer ficar um mês ou mais na cidade e pode planejar com bastante antecedência. Fica a dica.
Depois disso finalmente pude passar a fazer as visitas às empresas.
Sábado foi meu dia de compras. Eu prefiro ser prático, por isso minha recomendação, novamente, é a região da Union Square. Nesse dia estava tendo uma festa cultural então o lugar estava movimentado.
São Francisco não é um lugar que tem shoppings centers como São Paulo, eles tem muitas lojas de rua, mas diferente do que estamos acostumados não são lojas pequenas. O Empório Armani, por exemplo, usa o prédio de um antigo banco, com arquitetura que lembra um palácio romano. Algumas das grandes são a Macy's que não deixa de ser um Shopping Center. Tem a H&M, Gap e muitas outras. Essa região é um prato cheio para quem gosta de compras.
Domingo foi um dia diferente. Como disse antes, não é difícil ir a pé para qualquer lugar. A cidade é muito pequena com meros 600km2 (onde 400km2 é só água) e pouco mais de 800 mil habitantes. São Paulo tem 1.500km2 e mais de 11 milhões de habitantes. Dar a volta pelo perímetro inteiro da cidade não é algo inimaginável.
Você pode fazer tudo por perto e só de vez em quando pegar um carro. Mesmo assim tem o metrô, o Bart, ônibus em alguns lugares e o antigo bonde para quem quer turismo até as regiões com mais altos e baixos, característicos dessa cidade nos filmes, mais pra norte na região de Pacific Heights.
Outra alternativa eficiente é uma boa bicicleta. E muitos usam, constatando que muitas Startups tem áreas pra pendurar sua bicicleta dentro da empresa. Existem lugares onde você pode alugar, eu quase fui em uma que fica um ou dois quarteirões de distancia e onde disse que é o prédio do Twitter.
O Fábio Kung se tornou um bom ciclista desde que se mudou para lá. Parece que treina com frequência. Ele teve a ideia de me levar para conhecer mais da cidade de bicicleta. Me pareceu uma boa ideia para entrar no clima dos nativos. O Kung levaria sua esposa, o Martyn também e o Vinicius se juntaria a nós. Então acertamos de nos encontrarmos no Heroku no Domingo de manhã, onde eu poderia pegar uma bicicleta de lá. Este foi meu primeiro erro, a bicicleta que peguei era "bom" mas somente para distancias curtas, pois só tinha 3 marchas. Logo vocês vão entender porque isso foi um problema.
Além disso eu ainda estava indo nas festas e Sábado a noite teve a festa do Yammer. Depois disso eu e os camaradas uruguaios fomos para outro bar onde descemos muito whisky (ao pessoal da WyeWorks: "Necessiiita!" #piadainterna). Pra resumir digamos que acordei no dia seguinte bem desidratado.
Fui o primeiro a chegar no Heroku. O Pedro Belo e um amigo dele também se juntariam a nós mas pelo jeito a festa de sábado dele foi melhor que a minha, pois ele acabou furando. Depois de preparar a bicicleta, achar um capacete que me servisse (é obrigatório, assim como luz traseira que pisca no escuro) e me hidratar um pouco começamos a pedalar.
A idéia era simples, seguir para leste em direção a Embarcadero, uma linha reta. De lá subir pela costa onde dá para ver a paisagem do San Francisco Bay, com Alcatraz ao fundo. Seguindo a encosta chegamos a Fort Mason, do lado da Marina, e seguindo o contorno a Norte finalmente chegamos ao Golden Gate. Devo confessar que até atravessar a ponte eu até que estava indo melhor do que imaginava.
Porém a brincadeira estava só começando. A ideia original era atravessar a ponte e descer até a cidadezinha de Sausalito, de onde pegaríamos a balsa e voltaríamos para um dos Piers em Embarcadero. Porém o Kung está acostumado a pedaladas bem mais longas e me convenceu que o melhor era continuar contornando o lago até chegar em Tiburon.
Logo no começo vi que teria problemas, o caminho não era mais plano e uniforme, havia pequenas subidas, algumas leves, algumas pesadas. Aqui pegaríamos trechos de estrada e colinas. E fica minha dica: na dúvida, alugue uma boa bicicleta com um número de marchas em que você não precise se matar nas subidas. E outra dica, o selim é extremamente importante, tente encontrar o mais macio possível e também se puder use uma bermuda que seja acolchoada. Depois de Sausalito pedalamos provavelmente mais de 20km. Nas condições que eu estava, sendo amador do assunto, rapidamente me encontrei em sérias dificuldades pra acompanhar o pessoal. Mas quem está na chuva é para se molhar, e depois do "ponto sem volta", só restava ir em frente.
Perto de Tiburon, no trecho final já estávamos com fome e por coincidência, numa região que me pareceu meio como um parque, cruzamos com uma barraquinha de limonada onde duas pequenas meninas estavam vendendo limonada e cup cakes caseiros. Foi curioso porque eu achava que venda de limonada era coisa de filme e no ritmo de startups que estava, aquilo foi o exemplo canônico de "empreendedorismo". Essa pequena injeção de açúcar, pelo menos psicologicamente, fez alguma diferença para o gás final até nosso destino. Da próxima vez definitivamente preciso me lembrar de levar alguma solução de carboidratos.
Mas eles tinham razão, a visão é muito bonita e vale a pena o esforço extra ver a paisagem.
Pelo menos pudemos dar uma boa pausa em Tiburon e almoçar num excelente restaurante chinês do lado do píer onde pegaríamos a balsa. Depois de almoçar e circular pelo quarteirão comercial ao lado, pegamos a balsa no fim da tarde, com o sol já se pondo, o que nos forneceu mais algumas boas fotos.
E como se meu martírio não tivesse fim, a balsa nos deixa no Píer 39, acho que em Fisherman's Wharf. De lá ainda tínhamos que pedalar bastante de volta ao Heroku para devolver a bicicleta. Já era bem de noite quando chegamos. Foi fisicamente doloroso, mas o resultado valeu a pena. Eu não pedalava há mais de uma década, foi bom ver que eu ainda conseguia.
Na segunda-feira, como reportei no artigo anterior comecei cedo para ir tomar café da manhã na Pivotal. Me encontrei com a Sarah Mei na festa da Living Social e do Yammer e havia combinado de ir visitá-la no café. O Vinicius chegou logo depois e me mostrou o resto do escritório. O resto do dia está no outro artigo.
No meu último dia, depois de visitar a Get Satisfaction, eu e o Francisco fomos comer um bom hambúrguer na Mission Bowling Club.
Por coincidência, novamente graças ao Facebook um outro amigo de longa data conseguiu se juntar a nos por lá. Chikodi Chima é uma figura interessante, já trabalhou como jornalista e muito mais.
Em 2009 ele estava, como eu agora, pesquisando mercados de tecnologia pelo mundo. Ele esteve no Brasil e me entrevistou para um artigo do Techtrotter. Não nos encontramos mais pessoalmente desde então, e muita coisa mudou muito, por isso para mim foi recompensador poder conversar com ele novamente e contar tudo que aconteceu desde então.
E com isso minha viagem chega ao fim. É impressionante o que se pode fazer em poucos dias. Todos os dias eu acordava muito cedo e ia dormir muito tarde e não teve um único dia que fiquei parado num dos hotéis, para onde eu voltava somente para dormir. Ficou faltando visitar o grande Guilherme Chapiewski no Yahoo! em Cupertino, visitar por dentro os campus do Google e do Facebook e outros pontos importantes no Vale do Silício. Há muito ainda que eu poderia fazer, mas acho que consegui cumprir meus propósitos.
São Francisco é uma excelente cidade, vou adorar visitá-la novamente. Mas pessoalmente é um lugar que eu não pensaria em morar por um período longo de tempo. Quero dizer, apesar dos pesares eu sou de metrópoles. Por mais confortável e agradável que seja qualquer outra cidade, eu nasci na selva da pedra e provavelmente vou morrer na selva de pedra ;-)