Introdução à Agilidade

2013 June 28, 20:08 h

Original de 18/6/2010: Gestão 2.0

Eu retornei no último fim de semana de uma viagem à Baltimore, Maryland, onde palestrei na RailsConf. Neste evento tivemos grandes palestras e algumas delas voltadas não somente a Ruby on Rails mas à carreira de programação em geral. Uma dessas palestras foi de ninguém menos que Robert Martin, da Object Mentor. Eu traduzi um artigo seu no meu post anterior.

Recomendo assistir à palestra na íntegra.

Desde que comecei este blog, tento explicar as condições e dificuldades que um Gestor de Projetos enfrenta. Porém também estava tomando cuidado para não mencionar o termos “Agile” muitas vezes. Atualmente estamos sofrendo uma febre de “agilidade”. Todo CIO, CTO, Gerente, Consultor, para parecer “moderno” diz que sabe “Scrum”, que é “ágil”. Isso é por um lado bom, porque finalmente algumas empresas talvez consigam adotar da forma correta, mas por outro lado é muito ruim, porque estamos queimando o nome “Agile” por causa de consultorias ruins implementando isso errado no cliente. Daí a percepção que muitos desavisados ficam é que “Agile não funciona”.

Pois bem, durante a RailsConf, eu tive a oportunidade de conversar e entrevistar o Robert Martin, cuja gravação você pode assistir no Blip.TV:

Dessa entrevista, o trecho que quero apresentar é a história de como surgiu o “Agile”. Robert Martin, também conhecido como “Uncle Bob”, é um programador há décadas, certamente mais do que qualquer um de nós. Nos anos 90 ele foi um dos que notou uma insurgência de metodologias “leves” ou “lean”. Muito disso derivado dos conceitos de manufatura que revolucionaram a indústria japonesa a partir dos anos 60.

Diversos grandes nomes começaram a sugerir formas mais inteligentes de desenvolver software. Exemplos disso foram Kent Beck com seu Extreme Programming (XP); Ken Schwaber e Jeff Sutherland com seu Scrum; Alistair Cockburn com seu Crystal. Vendo que a maioria seguia uma linha similar de iterações curtas com feedback e muita comunicação, Uncle Bob ligou para Martin Fowler – outro grande conhecido no mundo de arquitetura de software – e juntos começaram a organizar uma reunião, convocando dezenas desses profissionais.

A lendária reunião se deu na estação de ski de Snowbird, em Utah, entre os dias 21 e 23 de Fevereiro de 2001. O resultado dessa reunião foi a criação do “Manifesto Ágil”. Ela delineia 4 valores e 12 princípios que todos os participantes concordaram como o mínimo denominador comum na prática de desenvolvimento de software. O manifesto diz:

Estamos descobrindo melhores maneiras de desenvolver software ao fazendo e ajudando os outros a fazer. Através desse trabalho nós chegamos a valorizar:

Indivíduos e Interações mais do que Processos e Ferramentas

Software que funciona mais do que documentação compreensiva

Colaboração do cliente mais do que negociação de contratos

Responder a mudanças mais do que seguir um plano

Ou seja, enquanto existe valor nos ítens da direita, nós valorizamos os ítens da esquerda muito mais.

Como disse antes, atualmente existe uma certa febre crescente em adoção de metodologias ágeis. Pior do que isso, existe uma tendência de expropriar o termo “Ágil” ou seus derivados como “XP” e “Scrum”, criando literalmente frankensteins mesclando o jeito antigo com o jeito novo. Frankensteins como tentar misturar RUP com Scrum, ou PMI com Scrum e assim por diante.

São tentativas oportunistas aproveitando dessa febre para ganhar dinheiro fácil. Algumas empresas, por exemplo, valorizam que um currículo para gerente tenha um “Certified Scrum Master” listado e outras coisas irrelevantes desse tipo.

E para ser mais antagônico ainda, muitos tentam implementar metodologias ágeis seguindo as diversas técnicas “by the book”, ou seja, de forma dogmática e, obviamente, todo Dogma é, por definição, burro.

Relembrando os 4 valores: a ênfase não é em implantar uma metodologia, a prioridade é software que funciona e valor ao cliente. O primeiro valor Ágil diz claramente: “nós valorizamos muito mais Pessoas e Interações do que Processos e Ferramentas”, mas o que está acontecendo atualmente é o oposto: tentativas de empurrar processos, metodologias e ferramentas.

Agora é uma boa hora para começarmos a desmistificar o mundo Agile. Esta é apenas uma introdução, mas como o Uncle Bob diz na entrevista: siga os originais. Se você realmente está comprometido a melhorar as coisas, a entregar os projetos com qualidade e valor, desligue-se dessa nova geração de consultorias: comece com os primeiros livros do Ken Schwaber, do Kent Beck, do Alistair Cockburn, do Mike Cohn.

Pergunte-se o tempo todo: estou de acordo com os 4 valores?

Se por acaso você está dando mais ênfase no processo do que nas pessoas, você já começou errado, muito errado.

tags: off-topic principles management agile

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