[Off Topic] Dunbar e Cross Functional Teams

2010 January 02, 23:35 h

Se você ainda não lê a Wired, deveria. Eu leio esporadicamente mas sempre aparecem artigos muito bons. O do mês passado trás uma série sobre fracasso e sua importância para o sucesso. Num dos artigos (leia a íntegra aqui), fala sobre um dos experimentos de Dunbar (quem nunca ouviu falar dos números de Dunbar ?).

Agora, o que Dunbar tem a ver com conceitos de Emergência, Cross Functional Teams, e outros que comumente discutimos em Agilidade? Ele resolveu estudar como cientistas funcionam (!) No meio do artigo vi este trecho que me chamou a atenção:

Embora o processo científico tipicamente pareça ser uma perseguição solitária – pesquisadores resolvem problemas sozinhos – o Dunbar descobriu que a maioria das novas idéias científicas emergem de reuniões de laboratório, essas sessões semanais onde as pessoas publicamente apresentam seus dados. De forma interessante, o elemento mais importante das reuniões não é a apresentação – é o debate que se segue. Dunbar observou que as perguntas céticas (e algumas vezes acaloradas) feitas durante uma sessão de grupo frequentemente engatilham grandes descobertas, uma vez que os cientistas são forçados a reconsiderar dados que ignoraram anteriormente. A nova teoria era um produto de conversação espontânea; uma simples pergunta era suficiente para transformar cientistas em forasteiros temporários, capazes de olhar seus próprios trabalhos de forma diferente.

Mas nem toda reunião de laboratório era igualmente efetiva. Dunbar conta a história de dois laboratórios onde ambos caíram no mesmo problema experimental: as proteínas que eles estavam tentando medir estavam grudando em um filtro, impossibilitando a análise dos dados. “Um dos laboratórios estava cheio de pessoas com diferentes históricos”, disse Dunbar. “Eles tinham bioquímicos e biologistas moleculares e geneticistas e estudantes de medicina”. O outro laboratório, em contraste, era todo de especialistas em E.Coli. “Eles sabiam mais sobre E.Coli do que qualquer outro, mas era só o que eles sabiam”, ele diz. Dunbar assistiu como cada um desses laboratórios lidou com seu problema de proteína. O grupo de E.Coli usou um jeito de força bruta, gastando várias semanas metodicamente testando vários consertos. “Foi extremamente ineficiente”, diz Dunbar. “Eles eventualmente resolveram isso, mas gastaram muito tempo valioso.”

O laboratório mais diverso, em contraste, refletiram o problema numa reunião de grupo. Nenhum dos cientistas eram especialistas em proteína, então eles começaram uma discussão bem espaçada de possíveis soluções. À primeira vista, as conversas pareciam ser bem inúteis. Mas daí, enquanto os cientistas trocavam idéias com os biologistas e os biologistas chutavam idéias para os estudantes de medicina, potenciais respostas começaram a emergir. “Depois de mais 10 minutos de conversa, o problema das proteínas estava resolvido”, diz Dunbar. “Eles fizeram parecer fácil.”

Quando Dunbar revisava as transcrições das reuniões, ele descobriu que a mistura intelectual gerava um tipo distinto de interação onde os cientistas eram forçados a se sustentar em metáforas e analogias para se expressar. (Isso porque, ao contrário do grupo de E.Coli, o segundo laboratório não possuía uma linguagem especializada que todos conseguiam entender.) Essas abstrações se provaram essenciais para resolução de problemas, já que encorajava os cientistas a reconsiderar suas premissas. Ter que explicar o problema a alguém os forçou a pensar, mesmo que por um momento, como um intelectual às margens, cheio de auto-ceticismo.

Soa familiar? Cross-Functional Teams? Feature Teams? Emergência? Eu até diria que essas “reuniões de laboratório” são como Daily Scrums ou Sprint Reviews. E como sempre dizemos, uma equipe deve ser, possivelmente, multi-disciplinar exatamente para que exista o que Dunbar chama de “olhar fora da caixa”, ser um “outsider”. Somente sendo marginalizado é possível olhar por outro ângulo em vez de olhar exatamente como todo mundo já está olhando, desestimulando novas idéias.

Uma coisa que eu, pessoalmente, tento fazer o tempo todo é me manter à margem. Não apenas ser “aleatoriamente rebelde”, mas “conscientemente à margem”, um outcast seria mais preciso. É a melhor maneira de se auto-pressionar a encontrar saídas que outras pessoas normalmente não são forçadas.

Esta história do Dunbar é senão meramente uma pequena amostra de “fora da zona de conforto”, e os efeitos não-lineares de sistemas complexos adaptativos. Mesmo assim: uma equipe gastou semanas, a outra equipe gastou minutos. Definitivamente não estamos falando de resultados lineares aqui.

E leiam o artigo todo : não é natural pensar fora da caixa, o Dunbar explica como nosso cérebro automaticamente nos leva a ignorar as coisas que achamos que estão “erradas”, nos tirando da possibilidade de fazer novas descobertas. É um mecanismo de beira do caos: não temos capacidade para considerar e avaliar cada micro-variação que aparece, por outro lado não podemos ignorar tudo, portanto ficamos indo e voltando (não, isso não é “equilíbrio”, muito longe disso). Discussões em grupos multi-disciplinares, claramente, são facilitadores desse mecanismo.

tags: off-topic management

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