[Off-Topic] Todos os Marketeiros são Mentirosos

2009 July 31, 09:54 h

Como todos os textos do Seth Godin, este livro de 2005 também é divertido de se ler (no meu caso, ouvir). Apesar de antigo ele delineia um modelo interessante de marketing.

Em resumo, existem 2 partes que eu gosto: a primeira, quando ele fala que marketing baseado em listagem e checklist de “features” é uma bobagem. O pior tipo de marketing são aqueles onde você vê comparação de funcionalidades com outros produtos, coisas do tipo “preços menores”, “pesquisas mostram que os consumidores gostam mais de nós”, “temos mais performance”, “temos mais segurança”, “temos ítem X que o outro não tem”. Tudo isso é bobagem e normalmente constitui péssimo marketing.

O melhor tipo de marketing é contar uma história. Consumidores não compram produtos porque eles tem 8 características numa lista de 10 melhores do que a competição. Consumidores compram histórias. Especificamente no nosso mundo de TI, é a razão de porque muitos de nós compramos Apple. Eles não vendem simples features, eles vendem um estilo de vida, uma história interessante. Nós não nos importamos com fatores menores como preço, market-share, ou coisas desse tipo. O mundo Apple tem o Cult of the Mac. Isso nos torna fanboys? Definitivamente sim. Assim como quem compra um SUV Mercedes é um fanboy, porque se o objetivo mundano é apenas levar um passageiro do ponto A até o ponto B, um Mercedes não é melhor do que um Wolkswagen. Assim como se o objetivo mundado é matar a fome, comer uma boa carne no Rubaiyat não é melhor do que lanchar no McDonald’s.

Um bom marketing só existe se há, primeiro, um bom produto/serviço e a forma de vendê-lo é com uma boa história e não com uma lista de ítens. Por que isso não é óbvio? Em termos de checklist, por exemplo, o iPhone é um dos piores smartphones que se tem, especialmente se considerar a primeira versão. Câmera de meros 2MP, não dá para ouvir música via Bluetooth, não tem rádio nem TV digital embutida, não dá para ter múltiplos SIM Cards, não tem dá para trocar bateria. Enfim, todas as características de um perdedor. Mesmo assim ela está no encalço de apertar o marketshare da poderosa Nokia. Por quê? Porque o produto em si é excelente no que se propõe a fazer e a história por trás do DNA da Apple e do Mac são muito fortes.

E antes que fique parecendo que estamos falando de produtos “similares” apenas com “preço” diferente, não é isso: você precisa – como Seth gosta de dizer – de uma vaca roxa, um produto/serviço muito bom. Isso é pré-requisito, se não tiver nem isso, nem tente vender, é perda de tempo.

A outra coisa que o Seth aponta nesse livro e que também deveria ser óbvio: não se deve jamais tentar bater a competição tentando melhorar em cima das mesmas características. O marketing perdedor é justamente quando você apenas copia o que o outro tem e coloca “somos mais baratos”, “somos mais velozes”, “temos este ítem que o outro não tem”, blá blá blá. Você só tem chance de bater a competição sendo diferente e tendo uma história que os outros não tem.

Isso me leva a mim mesmo. É um caso pequeno, mas não lembro de ter falado sobre ele. Quando a 37signals disponibilizou online seu livro Getting Real eu tinha certeza que esse deveria ser o primeiro material para a comunidade Rails brasileira. Na época não havia muito material de Ruby ou de Rails em português, alguns achavam que eu deveria ter ido primeiro nisso: em traduzir guias de referência, tutoriais e outras coisas para ajudar os programadores a começar.

Mas eu tinha certeza que deveria ser o contrário, eu queria traduzir o Getting Real porque ele configuraria o “tom” da comunidade, sua filosofia, valores e pragmatismo – pelo menos esse era meu wishful-thinking. Assim, no dia 13 de novembro de 2006 eu fiz o primeiro call-to-arms e, depois de um excelente trabalho coletivo da comunidade, fomos capazes de terminar no dia 26 de março de 2007. Sei que nem todos leram esse livro, mas acredito que ele ajudou a inspirar os primeiros empreendedores de Rails do Brasil.

Muita gente não entende porque pessoas como nós escolhemos Ruby on Rails. Muitos perdem tempo fazendo listas e listas de comparação tentando demonstrar porque qualquer outra coisa é melhor do que Rails. E eles não estão errados pois as comparações são normalmente factuais: Ruby é o interpretador mais lento de todos, o Rails não tem diversas funcionalidades que os outros tem, ele não suporta metade dos bancos de dados comerciais que os outros suportam. Porém, todos estão errados se acham que listas factuais são suficientes. Rails é suficientemente bom, excelente nas áreas onde precisa e ele não se vende por checklists: ele se vende pela sua história, se vende pela história dos luminários da comunidade, pela história das startups que cresceram com Rails, pela filosofia Ágil e Pragmática que cresceu junto; e assim por diante.

Boas idéias se espalham rápido. Todos nós, que tentamos difundir idéias, somos essencialmente marketeiros. E para fechar, deixo a palavra com Seth Godin explicando porque marketing é importante demais para ser deixado apenas para o departamento de marketing:

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